Saiu no site G1
Veja publicação original: ‘Pessoas negras já nascem lutando contra o racismo’, diz advogada de Pelotas que está entre os 100 negros mais influentes do mundo
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Lisiane Lemos foi uma das brasileiras premiadas no Most Influential People of Africa Descent (MIPAD). Advogada criou ONG e faz parte de projetos sobre a inserção do negro no mercado de trabalho.
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Por Gabriela Clemente
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Ser reconhecida como um dos 100 jovens negros mais influentes do mundo talvez não estivesse nos planos da advogada pelotense Lisiane Lemos, mas ser referência na discussão da inserção de negros no mercado de trabalho, sim. “Eu pensava sim em ser referência. Acredito que pela minha consciência de que representatividade importa. Sempre quis reproduzir este modelo inspiracional que minha família teve na minha vida”, destaca.
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No começo de outubro, Lisiane foi uma das premiadas no Most Influential People of Africa Descent (MIPAD), em evento realizado em Nova York, na categoria empreendedorismo.
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A pelotense é formada em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e trabalha como especialista em soluções na global Microsoft, em São Paulo, onde reside. “É interessante porque a minha atual profissão não tem intersecção direta com diversidade. Faz parte de quem eu sou. Comecei a participar ativamente desde que nasci, porque vim de uma família que militava pela igualdade social”, destaca.
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“Diversidade é a história que as pessoas carregam e o caminho que elas querem construir”
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O reconhecimento internacional vem de diversas iniciativas sobre a luta pela inclusão dos negros no mercado de trabalho. Uma delas foi a criação da ONG Rede de Profissionais Negros. Segundo a advogada, a ideia da ONG surgiu após participar de um evento com outros profissionais de diferentes empresas que tinham a mesma visão sobre a questão racial.
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“Acredito que eu tenha visto uma oportunidade para direcionar esta conversa para o ambiente corporativo, já que apenas 4,6% das posições de liderança hoje, segundo dados do Instituto ETHOS, são ocupadas por pessoas negras”, diz.
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A ONG trabalha na aproximação de jovens negros com grandes empresas, facilitando a procura de recrutadores e conectando os profissionais negros para que possam atender os requisitos das vagas. Para Lisiane, as multinacionais acabam buscando candidatos somente em universidades de ponta, o que ajuda a distanciar os jovens negros das vagas oferecidas.
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O objetivo principal com a criação da Rede era despertar nas empresas a importância do aumento da representatividade de profissionais negros nos quadros de funcionários. Hoje,Lisiane está afastada do projeto para se dedicar a novas iniciativas voltadas a juventude e igualdade de gênero. Atualmente a Rede de Profissionais Negros conta com 9 mil membros.
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Lisiane (à direita) foi uma das reconhecidas do prêmio cem jovens negros mais influentes do mundo, entregue em Nova York (EUA) — Foto: Renan Lemos
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Atualmente, ela é colíder do Comitê de Igualdade Racial no Grupo Mulheres do Brasil e participante do grupo consultivo do Fundo de Populações das Nações Unidas Educação sobre igualdade. “Temos que desfazer um caminho que proibiu pessoas negras de frequentar boa parte dos espaços onde as empresas estão, que proibiu acesso à educação, saúde e outros itens básicos que resultam nesse distanciamento social”, diz.
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“Se sabemos que mais de 50% da população brasileira é negra, o setor privado não está refletindo o que acontece da porta para fora.”
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Para ela, o preconceito é sofrido de diversas maneiras, mas o que mais gera incômodo são as micro agressões. “Abrir um jornal e só enxergar negros nas páginas policiais, ver materiais de publicidade estereotipados, produtos de beleza feitos para um tom de pele que não é o meu, não me enxergar na cadeira da presidência, ser invisibilizada em discussões e fóruns importantes”, relata.
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Lisiane acredita que a educação precisa vir de dentro. “As empresas precisam prestar mais atenção e abrir portas para as pessoas. Inovamos mais rápido, e muito mais quando temos cabeças diferentes pensando e construindo novas soluções”, diz.
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“Entendo que se efetuarmos pequenas mudanças, o impacto é maior do que casos de racismo explícito, que devem ser tratados criminalmente, mas infelizmente são facilmente esquecidos.”
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Lisiane foi reconhecida pela Forbes Brasil entre os 91 destaques abaixo dos 30 anos que fazem a diferença no país — Foto: Divulgação/Microsoft
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A advogada dá uma dica para os jovens negros que querem se inserir no mercado de trabalho. “Aprendam inglês. Para ontem. Tenham um plano de carreira, um objetivo e metas claras. Somos instruídos a ser independentes, sozinhos e algumas vezes até solitários. Mas eu não teria chegado aqui sem ajuda de muita gente, profissionais negros e não negros”, diz.
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“Entendo como minha missão no mundo fazer a diferença. Vejo que o mais importante é inspirar outros jovens, negros e mulheres a explicitarem seu propósito e o que é importante para nós no ambiente corporativo”, finaliza.
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