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Veja publicação original: ‘Escuta as Minas’: A iniciativa do Spotify no Brasil pela igualdade de gêneros
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Nomes como Elza Soares, Mart’nália, Maiara & Maraisa, Karol Conka compartilham suas experiências em projeto multímidia.
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Por Amauri Terto
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Um site com um videoclipe de uma música inédita, depoimentos de 11 artistas mulheres e playlists que festejam a obra dessas cantoras brasileiras e também de figuras internacionais. Numa olhada rápida, é isso que dá forma e conteúdo ao projeto Escuta as Minas, lançado pelo Spotify. Mas basta uma observação mais atenta para perceber que a iniciativa vai muito além dessa descrição.
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Com a proposta de difundir e celebrar a contínua luta pela equidade de gênero, o serviço de streaming musical reuniu nomes como Elza Soares, Karol Conká, Maiara & Maraísa e Mart’nália para criarem um nova música a partir de trechos de canções próprias e também refletirem sobre suas trajetórias e sobre a condição das mulheres no Brasil.
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Sendo a música o fio condutor desse encontro de tom politizado, o projeto traz também artistas reverenciando o legado de mulheres que lutaram para conquistar seu espaço e que são hoje ícones da música brasileira. Assucena Assucena e Raquel Virgínia, do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira, cantam versos de Chiquinha Gonzaga (1847-1935); Tiê homenageia Maysa (1936-1977); e Lan Lanh presta tributo à Cassia Eller (1962-2001).
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“Nós ainda temos que pedir que mais mulheres trans e travestis botem a cara no sol porque é necessário, a luta continua”, diz Assucena Assucena no início de seu depoimento em vídeo. “A mulher trans e travesti pode existir? Pode. Ela pode existir com hora e lugar. Onde ela pode existir? Na rua, debaixo de um viaduto ou dentro de um bordel. E que horas? À noite”, descreve.
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E continua: “Botar a cara no sol é você participar de um cotidiano familiar, é você aparecer em um supermercado onde as crianças estão com os seus pais, é saber que o sol também é nosso lugar (…) O nosso lugar é onde a gente quer estar e a hora em que a gente quer estar.”
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As irmãs Maiara & Maraisa discutem a questão da igualdade a partir da experiência no meio sertanejo. “Maiara & Maraisa aconteceu no mercado sertanejo porque mulheres abraçaram a gente. Cantamos a nossa realidade e várias mulheres no Brasil abraçaram isso. Demorou para acontecer, realmente a gente teve que se esforçar mais”, conta Maraisa.
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“Para homens, o mercado é mais aberto. Quando a gente começou na carreira, grandes parceiros nossos, duplas masculinas e cantores começaram a se dar bem. E nós pensávamos: ‘por que a gente não’? Teve uma hora em que eles tiveram que aceitar que a gente tinha talento e que o povo gosta mesmo da gente”, conclui.
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Em seu depoimento, a rapper Karol Conka fala sobre a relação entre música e manifestação política a partir do ponto de vista de uma mulher que não se sentia bem com a própria imagem. “É importante a gente fazer da música um ato político porque a gente vive em um lugar muito escasso de conhecimento e de mensagem que conforta. Mas é importante a gente construir na cabeça das pessoas situações de autoestima”, ela diz no vídeo.
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“Eu me sentia muito sufocada. E fui para a música justamente com a intenção de levar conforto para as pessoas porque eu não me sentia confortada na época”, revela.
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Por trás da iniciativa do Spotify há números que mostram que a luta por igualdade entre homens e mulheres no meio musical ainda está longe de terminar.
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Uma pesquisa realizada pelo serviço de streaming e realizada pela Annenberg Inclusion Initiative (Iniciativa de Inclusão Annenberg) mostrou que, entre 2013 e 2018, das 899 pessoas que foram nomeadas para um Grammy — o mais importante prêmio da indústria fonográfica mundial —, apenas 9,3% eram mulheres. Ou seja, apenas 83 eram mulheres.
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Assista abaixo ao clipe da música inédita fruto da reunião das artistas e veja os vídeos com a íntegra dos depoimentos clicando aqui.
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