Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: Masculinidade tóxica afeta homens e mulheres, mas eles precisam lidar com emocional
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Por Priscilla Geremias
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Pesquisa do Google BrandLab São Paulo mostra os efeitos colaterais da masculinidade tóxica
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Não seja fraco. Não chore. Seja homem. O “ser homem” é não ser ou ter qualquer comportamento dito como “feminino”. Construída pela sociedade patriarcal, essa definição do que é ser homem é chamada de masculinidade tóxica.
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“O termo é uma crítica a comportamentos desnecessários e destrutivos para o homem e aqueles que o cercam. São comportamentos destrutivos, interna e externamente, conectados a uma visão de mundo que entende o masculino como superior ao feminino”, explica Guilherme Valadares, membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres, à Marie Claire.
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“Essa noção valoriza qualidades como dominância e controle, enquanto despreza aspectos como vulnerabilidade, altruísmo e compaixão, entendidas como sinais de fraqueza e associadas às mulheres”, acrescenta Valadares.
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Para entender esses comportamentos que afetam os homens, o Google BrandLab São Paulo realizou uma pesquisa com homens de 25 a 44 anos. Os resultados mostram os efeitos colaterais da masculinidade tóxica: os homens se suicidam quase quatro vezes mais do que as mulheres, de acordo com o Mapa da Violência Flasco Brasil. E são os que mais morrem pela violência, dez vezes mais do que as mulheres (IPEA).
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Apesar disso, os homens são os que mais matam mulheres. Segundo a OMS, o Brasil tem a 5ª maior taxa de feminicídio do mundo, crime praticado contra a mulher por esta pertencer ao gênero feminino.
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“Como falamos menos de nossos sentimentos, temos menos intimidade e repertório emocional, nossos códigos ficam mais restritos. Não é comum vermos amigos no bar se abrindo sobre situações emocionalmente ambíguas, nas quais sentiram uma mistura de medo, frustração, alegria e ansiedade”, diz Valadares.
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Para o psiquiatra Fernando Duarte, o homem ainda tem medo de demostrar seus sentimentos e fraquezas, “seja pelos modelos masculinos na família, seja pelos próprios colegas de escola. Claro que eles continuam sentindo isso tudo, só não podem demonstrar. Essa parece ser a receita do desastre. Se o homem não souber lidar bem com os próprios sentimentos e os conflitos com as expectativas, ele pode adoecer.”
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Um terços dos homens ouvidos gostaria de ter mais liberdade para compartilhar seus sentimentos. “Conduzo cursos de equilíbrio emocional para homens e é bem comum notar uma espécie de ‘analfabetismo emocional’. Isso não é sinal de que eles sejam menos capazes ou evoluídos”, afirma Valadares.
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Duarte afirma que metade dos seus atendimentos são com homens. “Os homens estão buscando mais terapia. Ainda bem. A principal diferença é que os homens ainda demoram mais tempo pra reconhecer o problema e pedir ajuda. Em geral eles pedem ajuda quando o problema se torna físico, como uma dor, uma palpitação, etc.”, explica.
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Para Guilherme Valadares os homens precisam sair da estagnação. “É hora de agir, de ter coragem de se abrir, ajudar e ser ajudado. Nós devemos fazer a reflexão de que se os homens são parte do problema, eles também devem ser considerados como parte da solução desses problemas. Escutei isso a primeira vez do pesquisador e ativista Marcos Nascimento. Essa frase me acompanha desde então”, comenta Valadares.
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“Nova masculinidade”
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O estudo do Google BrandLab São Paulo explica que a nova masculinidade tem o propósito de abranger todas as formas de ser homem e garante condições mais igualitárias e saudáveis, onde os homens têm espaço para serem mais humanos e se expressarem sem a ameaça de colocar qualquer coisa em risco, seja sua imagem, seja seu bem estar psicológico.
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Para Valadares, da mesma forma que falamos em masculinidade tóxica, termo que ele evita, devemos discutir as masculinidades saudáveis, construtivas, positivas. “Sabemos os “nãos” que devem ser ditos e comportamentos a se evitar. Mas quais comportamentos encorajar? Quais os locais de potência e força estimular para a construção de um masculino mais seguro, sábio e equilibrado?”, questiona.
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Não dá pra falar da masculinidade tóxica sem falar de como ela acaba afetando também as mulheres. Quer um exemplo histórico? O machismo. Um comportamento contrário à igualdade de gênero que até hoje afeta milhares de mulheres em todo o mundo. Nesse sentido, o feminismo nasce como uma reação ao machismo. Por isso, o feminismo, direta ou indiretamente, favorece a “nova masculinidade”.
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Em parceria com a ONU Mulheres, ele produziu o documentário “Precisamos falar com os homens?”. “Atacar a masculinidade tóxica é buscar liberdade. O masculino é incrível, maravilhoso, de potencial sem fim, assim como o feminino. Devemos cuidar para não confundir essa poderosa energia como algo doente e vergonhoso”, afirma Valadares.
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Para o psiquitara e psicoterapeuta Fernando Duarte, diferente do feminismo empoderando as mulheres, o movimento masculino é “mais lento e mais tardio”. “Os homens não tiveram um equivalente de revolução como foi o feminismo para as mulheres. Eles estão tendo que se adaptar à nova mulher, agora empoderada, em pé de igualdade. Ou seja: acho que o feminismo ajuda, mas acho que essa revisão do conceito de “ser homem” é um processo mais demorado”, afirma Duarte.
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