Saiu no site REVISTA COSMOPOLITAN:
Veja publicação original: Como e por que celebrar o casamento de um jeito mais feminista
.
Por Karoline Gomes
.
A gente vai te propor pensar em tudo de um jeito diferente, dividindo com o gato as decisões
.
Casar de branco, com seu pai te guiando até o noivo no altar e ele te recebendo com um beijo no rosto. Ou o casamento ser visto como sorte da noiva e tal sorte ser passada por meio de um buquê jogado – quando as solteiras da festa se aglomeram na esperança de alcançar o arranjo arremessado.
.
Esses rituais clássicos fazem parte do imaginário coletivo, e muitas mulheres podem sonhar em recriá-los sem nem mesmo saber o motivo de existirem. Muitas querem somente porque todo mundo faz assim, sem perceber que são machistas na essência. “As tradições de casamento impactam negativamente as mulheres no âmbito social, civil e histórico. Não existe uma tradição que não seja relacionada, de alguma maneira, com desigualdade salarial, direitos reprodutivos e sexuais ou a relação entre poder e controle do homem sobre a parceira”, diz Katrina Majkut à COSMO.
.
Artista plástica, pesquisadora e fundadora do site The Feminist Bride (“A noiva feminista”, em tradução livre), a americana acredita que o machismo, tradicionalmente, determina os papéis de gênero em uma cerimônia. E, como em outros ambientes machistas, a desvantagem sempre cai sobre a mulher. Ela publicou suas pesquisas sobre o assunto no livro The Adventures and Discoveries of a Feminist Bride – What No One Tells You Before “I Do” (“As aventuras e descobertas de uma noiva feminista – o que ninguém te conta antes do “sim”, em tradução livre).
.
O estilo de casamento ocidental que você conhece hoje não tem esse formato a troco de nada, ele veio sendo construído ao longo de anos antes de cair no seu colo assim. E traduz muito mais do que seus desejos – é um retrato do lugar onde você vive. “É um ritual que, como todos os rituais de uma sociedade, coloca em evidência o que já é usual nela. E refletem aquilo em que a sociedade acredita”, afirma a mestre em antropologia pela Universidade Federal Fluminense Cristina Marins, do Rio de Janeiro, autora do livro Quando o Céu É o Limite: Um Olhar Antropológico sobre o Universo dos Casamentos e dos Cerimonialistas(Eduff).
.
A sobrevivência de algumas convenções por tantos anos tem a ver com um poder de influência muito forte sobre os desejos e comportamentos das pessoas. “Participar de tradições traz um senso de identificação e pertencimento à sociedade e é natural que as pessoas busquem por isso”, afirma Katrina. O problema é quando essas tradições podem também criar parâmetros para medir o sucesso ou o fracasso de uma mulher. “Há quanto tempo ouvimos expressões como `Enrolar a moça’ ou `Ficar para titia’ são termos muito antigos, que trazem de fundo essa concepção de que o casamento beneficia mais a mulher do que o homem”, diz.
.
.
Seu tipo de cerimônia
.
Apontar essas questões das festas tradicionais não significa ser contra o casamento ou a cerimônia em si. A COSMO ama festas de casamento, caso contrário não estaríamos fazendo um especial gigante sobre o assunto nas nossas páginas. Só estamos propondo que você faça sua celebração sem ter o machismo como convidado.
.
Um casal ter participação igual na preparação e ter suas vontades respeitadas é cada vez mais comum hoje em dia. E o universo das assessoras que conseguem modernizar as cerimônias só cresce. “Apesar de ainda haver muito tradicionalismo no mercado de casamentos, percebo que a maioria já não pensa assim. Felizmente, eu e meus clientes estamos fugindo do machismo desses rituais”, diz a cerimonialista Karine Dewes, de Campinas (SP). Pense que focando em uma celebração fora do convencional você terá um dia em que todos serão incluídos de maneira mais justa e igualitária – e que isso pode dar o tom de todo o relacionamento que vem depois do “Eu aceito”. Saia do padrão!
.
Nenhum dos rituais precisa ser seguido à risca, e alguns podem até mesmo ser ignorados. Tudo depende do desejo dos noivos. E aqui vale fazer uma autorreflexão se está disposta a não querer tomar conta de tudo e, assim, acabar deixando o cara de lado. O dia não é só seu, e é legal o noivo também deixar a marca dele na festa.
.
“Já na primeira entrevista com o casal, fica perceptível quando os dois estão preocupados com a igualdade de gênero e querem levar isso para a festa. Normalmente, as decisões vêm de ambos”, diz a cerimonialista Tathiana Frascino, de São Paulo, que atende especialmente casamentos não tradicionais.
.
Esta observação também é compartilhada por Katrina: “Criar seus próprios rituais é possível e vale a pena. É essencial que o cara junte-se a essa jornada com um olhar feminista”. Há só uma regra que não deve ser quebrada. “Duas pessoas que se amam, que querem passar o resto da vida juntos, compartilhando isso com pessoas queridas por ambos, que torcem pelo casal.
.
Esse é o principal motivo pelo qual eu sou apaixonada por casamentos e essa é a única `tradição¿ que, quando é quebrada, realmente me incomoda”, diz a pesquisadora Karine. Então, reflita sobre tudo o que leu nesta matéria e faça uma cerimônia com a sua cara, que represente a mulher que você é hoje.
.
.
Tradições para quebrar
.
Especialistas nos ajudaram a entender alguns hábitos e dão dicas de como torná-los inclusivos (e divertidos) para você, seu noivo e os convidados
.
.
O pedido
.
A primeira questão é: por que a decisão tem que ficar na mão do seu namorado? É muito comum, depois de anos de namoro, rolar aquela expectativa de quando ele vai pedir. Será que será na próxima viagem? No dia em que comemorarmos nosso primeiro beijo? O cara comprar as alianças escondido e se ajoelhar na sua frente pode ser um momento lindo, mas isso não quer dizer que a decisão sobre o melhor momento de casar não seja sua também. Já pensou se o pedido vier justamente na hora em que você decidiu fazer um curso fora ou mudar de carreira? Pense nisso.
.
.
Despedida de solteiro x Chá de cozinha
.
O noivo com seus amigos em um bar e a noiva ganhando cacarecos de cozinha. Não tem nada mais antigo do que isso. Muitas mulheres saem para beber ou fazer viagens com as amigas – fica a sugestão para você embarcar nessa também. Outra boa ideia é fazer uma celebração de todos juntos para brindar o momento com os amigos, pois para muitos deles vocês talvez não consigam dar a atenção que gostariam no dia do casamento.
.
.
A noiva entrar com o pai
.
Por trás dessa simples condução está a ideia de que o pai está passando a posse para outro homem e entregando a filha. As opções são muitas: entrar com pai e mãe, com o próprio noivo, na companhia da sua avó, sozinha ou com seu cachorro de estimação.
.
.
O vestido branco
.
Esse é o símbolo do casamento que mais está sob seu controle. A cor branca já significou a virgindade da noiva, mas isso ficou lá no passado. Se você quiser usar azul, vá em frente! A escolha é apenas sua. E não é só de longo que vive uma noiva moderna. Vestido curto, tailleur, terninho com calça também são opções bem possíveis – e lindas!
.
.
O buquê e as amigas solteiras
.
Jogar o buquê ou escrever o nome das convidadas na barra do vestido partem de um pressuposto de que todas as mulheres desejam casar. Mas será mesmo que todas elas querem casar? E os amigos solteiros? Chame todos os solteiros para participar da jogada do buquê e escreva no seu vestido o nome de quem estiver em busca de um grande amor.
.
.
Votos
.
“Principalmente em cerimônias religiosas, ouvimos diversas vezes que a mulher deve ser submissa ao homem, ou então que `o homem é a cabeça, mas a mulher é o pescoço¿. Esse pensamento de que a mulher nasceu para guiar, ajudar, servir o homem é extremamente machista”, diz Karine. Nessa hora, vale pensar se o que você vai jurar é sincero ou se vai fazer no automático. Se a celebração for feita por amigos, por exemplo, é mais fácil garantir um discurso mais casual e sem distinção de papéis de gênero. E tem outro detalhe no qual você pode nunca ter se ligado: o “Pode beijar a noiva” no final. Como assim? Por quê? Que tal mudar para “Os noivos podem se beijar”? Muito mais democrático e equilibrado. Afinal, a decisão de casar é dos dois.
.
.
.
.
.
.
.
.