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Veja publicação original: Empresas levantam bandeira da diversidade, mas elas contratam mais trans?
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Por Letícia Rós e Marina Oliveira
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Gabriela Valera, 25, é analista de marketing do Carrefour Brasil, empresa que, em 2017, movimentou o Facebook com um post no Dia da Visibilidade Trans, comemorado em 29 de janeiro, em que divulgava uma foto de duas mulheres trans, funcionárias das lojas da rede francesa de supermercados. Agora eles têm uma trans também na área corporativa.
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“É a primeira vez que sou devidamente registrada. Anteriormente, atuei como freelancer na área de produção de conteúdo”, conta. “Concorri à vaga de especialista de marketing como qualquer outra pessoa. Meu perfil se adequou ao que eles buscavam, independentemente do meu gênero, etnia ou orientação sexual”, diz.
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Inclusão, diversidade, combate à transfobia. Esses temas ganham cada vez mais importância no mundo corporativo. A evolução do discurso para a prática, porém, é complexa e leva tempo, ainda que algumas empresas estejam fazendo a sua parte. “A inserção de colaboradores trans ainda não está na agenda estratégica dos CEOs. O maior avanço está nas empresas multinacionais”, fala a consultora em diversidade Cris Kerr.
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A fundadora do Transemprego, projeto que alimenta uma comunidade no Facebook com quase dez mil membros e divulga vagas para transexuais e travestis, Maite Schneider, concorda. “A socialização do projeto com as empresas começou exatamente com as multinacionais, porque elas já têm abertura para falar sobre diversidade”, diz.
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Marcela Bosa, 33, é uma exceção a esse contexto. Mulher trans, ela é bancária e gerente geral de uma agência do Banco do Brasil. Concursada há 12 anos na instituição financeira, há pouco mais de um ano afirmou sua identidade de gênero perante colegas e chefes e foi acolhida.
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“O meu relacionamento com funcionários e clientes melhorou, porque eu fiquei mais leve ao ser transparente e consegui me aproximar mais deles. Eu posso usar meu nome social [aquele usado no dia a dia, diferente do registrado no nascimento] e me sinto valorizada pela minha competência”, fala.
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Evolução constante, mas lenta
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Schneider afirma que, devagar, começou a ficar para trás a ideia que esse grupo tem como opção apenas a prostituição, para onde 90% das pessoas trans recorrem em algum momento da vida, de acordo com levantamento feito pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).
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“No começo do projeto, a gente levava os currículos que reunimos para as empresas e ouvíamos que as trans não eram contratadas porque eram ‘tudo puta’. Respondemos que, na verdade, tinha muita puta com mestrado e doutorado, além de formações variadas, mas que precisavam de oportunidade”, fala. Hoje, a Transempregos tem cerca de 15 empresas parceiras que buscam a inclusão de trans.
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Mariane Clemente dos Santos, 31, é formada em ciências contábeis e pós-graduada em gestão pública. Já foi analista financeira e há pouco mais de um ano atua como recepcionista bilíngue terceirizada na Qualcomm, empresa norte-americana conhecida pela fabricação de chips para celular.
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“Eu estava quase ficando desempregada, porque trabalhava na prefeitura de São Paulo e mudaria a gestão, quando vi a vaga na Transempregos e me candidatei. Na seleção, fiz prova de inglês, português avançado, redação, Microsoft Access, Word e Excel, internet e do próprio trabalho como recepcionista. Depois fui entrevistada pela gestora em inglês, por telefone. No dia seguinte, me ligaram pedindo documentação. Eu dei um grito e falei ‘mentira!’. A gente que é trans não espera que as coisas deem tão certo na nossa vida”, fala.
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Ainda há desafios
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De acordo com o coordenador municipal de Diversidade Sexual do Rio de Janeiro, Nélio Georgini, a maior parte das oportunidades para pessoas transexuais ainda é para cargos operacionais, mesmo tratando-se de profissionais com nível superior. Entre 2017 e o primeiro semestre de 2018, em parceria com empresas públicas e privadas, a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual Rio empregou transexuais e travestis em 109 vagas de trabalho permanentes e temporárias.
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“As situações recorrentes de preconceito e que precisam ser combatidas envolvem o respeito ao uso de nome social, o uso do banheiro e vestiários respeitando a identidade de gênero, e o entendimento dos próprios funcionários em relação à diversidade”, fala Georgini.
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Para Maite Schneider, políticas de inclusão trans também incluem investir na capacitação desses profissionais. “Muitos evadiram a escola por conta de bullying e até foram largados pela família”, diz. “Às vezes a pessoa não tem muita experiência, mas a empresa oferece uma oportunidade e curso para ela evoluir lá dentro. Assim, profissional e empresas crescem juntos”, finaliza.
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