Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: Entrevista inédita: Marielle Franco queria 50% de mulheres na política
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Em uma de suas últimas entrevistas antes de ser covardemente assassinada a tiros no centro do Rio ao lado do motorista Anderson Gomes em março deste ano, Marielle Franco contou o que gostaria de mudar no sistema político caso tivesse a chance.
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“Ter 50% de mulheres”, disse a parlamentar à pesquisadora Beatriz Pedreira, do Instituto Update, em agosto de 2017. “Cota para as mulheres e garantia do nosso lugar em pé de igualdade, para que a gente pudesse ter essa assertividade, que é nossa, nos espaços de decisão”, prosseguiu.
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Marie Claire teve acesso à conversa publicada na íntegra na última edição da revista “Ocas”, interrompida por falta de recursos financeiros, e destaca aqui alguns pontos –como seus primeiros passos na política e seu sonho em reduzir as desigualdades.
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A entrevista faz parte da pesquisa Emergência Política que será divulgada nesta quarta-feira (6) no Memorial da América Latina.
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Instituto Update – Como foi o seu encontro com a política?
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Marielle Franco – No início dos anos 2000, muita coisa estava ocorrendo na Maré, com pressão de segurança pública, aumento de armas. Eu tinha perdido uma amiga em 2005, colega de pré-vestibular, que tinha passado para Economia na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Morreu próxima a casa dos meus avós. Meu avô paterno é um dos primeiros moradores da Maré. Então, você está num lugar que o tráfico sabe por onde sair e a polícia sabe por onde entrar. Quando a Jaqueline morreu, a gente se perguntava: “Podia ter sido eu?”. E aí fizemos campanha contra o Caveirão e fomos entendendo desse debate da segurança pública, que eu fui aprofundando ao longo do tempo. Mas era assim: Como é que tem um veículo que chega atirando e mata pessoas, por mais defesa da vida dos policiais que se faça? Como é que tinha isso?
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IU – Qual foi a motivação para virar candidata e querer disputar esse espaço?
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MF – Quando passo a entender que o lugar da viabilidade das mulheres em alguns espaços de decisão eram importantes. Eu ia, por exemplo, para debates na Secretaria de Segurança Pública, e tinha sempre uma fala do pesquisador, do homem, do policial ou do ex-alguma coisa. Vivenciei isso algumas vezes, entendendo que eu ficava incomodada, mas é aquela coisa, a gente vive em uma sociedade machista em que precisamos ir buscando novas formas de fazer. Foi com o tempo que eu entendi melhor isso. Alguém se incomodava se tinha mulher ou não na mesa? Imagina! Se tinha mulher no lugar de um posto de decisão? Não, isso é algo recente.
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IU – Qual o seu sonho para a política?
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MF – Cara, que a gente pudesse reduzir desigualdades. É ter mais representatividade e um processo econômico em que se possa falar de (produzir) menos pobreza. Que saíssemos dessa dicotomia da corrupção e começássemos a debater desigualdade. Tem gente morrendo, gente sem casa, gente sem água. Mulheres sendo estupradas. Gente pagando mais imposto do que recebe.
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