Saiu no site MULHERES TRANSFORMADORAS:
Veja publicação original: Para a 1ª presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, “O feminismo tem de ser democrático”
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Por Eugenio Goussinsky
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Quando foi eleita a primeira mulher presidente da Costa Rica, em 2010, a costa-riquenha Laura Chinchilla Miranda tinha 51 anos e muita vontade de mudar seu país. Em uma região em que prevalecem a violência e a pobreza, a Costa Rica conseguiu, com o apoio do governo de Laura, que se encerrou em 2014, algumas proezas. Mantém uma das democracias mais estáveis do mundo, apresenta um nível de segurança pública que avança para o intermediário, e ocupa, atualmente, o 66º lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da Organização das Nações Unidas (ONU). Está bem à frente de países como El Salvador (117º), Nicarágua (124º) e Guatemala (125º). Em entrevista ao canal R7, em 24 de maio, ex-presidente observou, no entanto, que teve dificuldades em superar conceitos machistas para assumir o mais importante cargo do país.
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Muitas vezes a mulher é vista mais pela aparência do que pelo seu conteúdo. Diria que a principal barreira que se interpõe a avanços femininos na política tem a ver com fatores intangíveis. Muitas vezes estes são aplicados às mulheres para desvalorizar seu comportamento, sua capacidade”, afirmou.
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Para ela, a luta feminista tem características distintas em cada sociedade, mas um objetivo comum: as melhorias nas condições de vida das mulheres. Como socióloga, Laura tem visitado com frequência o Brasil. Em 2018, é a titular de cátedra na Universidade de São Paulo (USP), que realizará um estudo sobre os desafios da liderança e da democracia na América Latina.
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Confira trechos da entrevista dela:
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Que tipo de preconceito surge quando uma mulher tenta entrar para a política?
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LC – As mulheres experimentam maiores obstáculos quando optam por uma carreira política e ainda maiores quando ocupam espaço no setor público. Alguns têm a ver com dificuldades maiores para financiamentos, que tradicionalmente estão nas mãos de homens no setor privado. Existem algumas mulheres que também têm muitas dificuldades em conciliar as atividades familiares com as públicas. Não foi o meu caso, minha família me ajudou muito na carreira política.
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Até que ponto a sua gestão foi decisiva para o atual presidente, Carlos Alvarado, anunciar um governo composto por uma maioria de mulheres?
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LC – Não tenho a menor dúvida de que meu governo ajudou a melhorar o posicionamento das mulheres, não somente dentro do governo, mas também ajudou muitas outras mulheres e homens que lutam por igualdade de direitos na Costa Rica há muitos anos. Aprovamos cotas para a mulher na política e no setor público, para promover medidas de paridade, aprovadas recentemente. Meu governo foi o primeiro que teve um ministério paritário, foram 47% de mulheres e 53% homens, isso ajudou a termos uma assembleia pela primeira vez com 50% de mulheres e um gabinete com mais mulheres do que homens.
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Qual o nível de evolução das condições das mulheres na América Latina, um continente com muitas carências sociais?
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LC – Em relação às mulheres, há inúmeros estudos que mostram que a América Latina é uma das regiões que mais têm avançado em matéria de participação política da mulher. Só está atrás da Europa nórdica. Hoje temos muitos parlamentos com mais de 40% de mulheres, não só na Costa Rica, mas em países como México, Argentina, Bolívia, Nicarágua, nos quais também há importantes representantes no Executivo.
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Até que ponto é importante para o feminismo aceitar divergências dentro do próprio movimento?
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LC – É importante essa pergunta. O feminismo tem que ser democrático. No fundo o feminismo tem um elemento em comum que é lutar pelas melhorias nas condições das mulheres na sociedade. Mas cada sociedade tem a sua evolução cultural, suas idiossincrasias, níveis diferentes de evolução. Cada país avança de acordo com suas normas culturais e a evolução de sua sociedade. O feminismo deve acompanhar isso.
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Em que nível de avanços nessa área se encontra o Brasil?
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LC – O Brasil tinha melhorado mas retrocedeu e hoje, no parlamento brasileiro, a participação da mulher é muito baixa. O Brasil pode fazer muito mais em relação às mulheres, há mulheres muito boas e valiosas na política do País.
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A senhora está visitando o Brasil com mais frequência, após se tornar titular na cátedra José Bonifácio, na USP. Qual o objetivo dos estudos que está coordenando nesta universidade brasileira?
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LC – A cátedra vai se concentrar em analisar a democracia, a liderança política e cidadania na América Latina. Vamos analisar todos os fenômenos que estão se passando na região, onde cada vez mais há desconfiança em relação à política e às instituições democráticas. Vamos analisar as formas de populismo latino, as novas formas de participação cidadã. Está se criando um novo protagonismo cidadão e estudaremos alguns papéis que as redes sociais e as tecnologias digitais estão tendo nesta nova situação.
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