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Veja publicação original: Poliana Corrêa e o ‘trabalho de cupim’ em busca de espaço para negros na publicidade
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A publicitária e ativista busca criar mais espaço para negros e mulheres na comunicação. E sabe que é um caminho longo: “Até quando os negros não vão comer margarina nem escovar os dentes?”.
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Foi provocada por uma decepção com o movimento feminista que a publicitária Poliana Corrêa direcionou suas forças ao ativismo negro. Não que ela tenha deixado para trás as causas e brigas das mulheres, mas, para ela, a questão racial se sobrepõe. O estopim foi uma discussão sobre o uso do turbante por mulheres brancas (pode ou não pode? é apropriação cultural?): “Me desapontou a falta de abertura ao diálogo, a falta de empatia. Brancas acusando negras de serem agressivas. Isso me fez procurar outras mulheres negras e ter outra perspectiva de feminismo“.
“Existe um recorte racial dentro do feminismo sobre o qual temos de conversar. Feminismo não é só sobre misoginia e aborto.”
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Inspirada por nomes como Gabriela Moura, Winnie Bueno e Djamila Ribeiro, Poliana começou a estudar, escrever, questionar nos diferentes fóruns de que participa – a maioria, virtuais. “Comecei a me ver como a única mulher negra na agência; a única formanda em uma turma de 45 alunos. Mas o feminismo negro não é só sobre mulheres. Todo mundo precisa de emancipação e liberdade”.
“Como é solitário ser a única negra em tantos espaços que ocupo. Na universidade, no trabalho, nas reuniões. Tenho de estar sempre ensinando, então não é uma relação de troca, de abraço, de carinho.”
Motivada por esta solidão, Poliana se dedica a um trabalho “de cupim, que come de dentro para fora”. No ambiente profissional, a executiva de contas tomou para si o compromisso de sempre trazer o ponto de vista de uma minoria às discussões. Talvez já tenha evitado algumas gafes em campanhas, e certamente já participou da solução de crises causadas por outras. No dia a dia, faz provocações, compartilha peças e cases com os colegas. Recentemente, ministrou uma oficina sobre gênero e raça na agência onde trabalha há três anos.
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“Venho tendo pequenas vitórias neste ambiente. Consegui fazer com que a preferência em uma vaga de estágio fosse para estudantes pretos. Há pouco tempo, liberamos uma campanha com uma modelo negra, depois de muitas tentativas em que o cliente sempre respondia: não é o público”. Se alguém pede a ela indicação de profissional para preencher uma vaga, ela só indica negros – seu computador é uma biblioteca de currículos.
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“Eu tenho um bom emprego, um bom salário, fiz uma boa faculdade. Mas não quero que esteja tudo certo só para mim. É minha função abrir espaço para outras pessoas.”
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A lógica da publicitária é: um sobe e puxa o outro. Neste ano, será uma das curadoras da segunda edição de um seminário sobre inovação e criatividade, em Porto Alegre, para contribuir com a “perspectiva certa” sobre diversidade. Mas o que ela almeja é não precisar mais falar sobre inclusão. E que negros não sejam mais protagonistas em eventos falando de racismo, mas sim, de suas realizações e cases profissionais. “Eu me coloquei nesse lugar de ser a publicitária ativista, mas quero que chegue o momento em que me chamem para falar só de publicidade”.
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“Por que compramos Claudia Leitte, Ivete e Daniela Mercury e ninguém conhece Margareth Menezes? Por que Cartola morreu pobre e Chico Buarque está aí surfando no samba?”
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Inspirada pelos pais, que viu estudarem e se graduarem no ensino superior ao mesmo tempo que trabalhavam e criavam os dois filhos – e especialmente pela mãe, Lília, a quem fazia companhia nas sessões de estudo em casa quando ainda nem sabia ler -, Poliana pretende usar o ciberativismo como objeto de estudo na academia. Já tem um projeto de dissertação de mestrado na cabeça, no qual quer mostrar como a internet possibilitou o encontro, deu voz e projetou pessoas negras como ela.
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“Somos comunicadores sociais. Até quando vamos reproduzir os estereótipos? Até quando os negros não vão comer margarina nem escovar os dentes?”
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Estas são as discussões que, para Poliana, valem mais a pena do que “pode ou não turbante”. “Tenho preguiça de me posicionar neste nível raso de pode ou não pode. Todo mundo pode usar tudo. Mas eu acho que fica mais bonito na gente”, finaliza.
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Ficha Técnica #TodoDiaDelas
Texto: Isabel Marchezan
Imagem: Caroline Bicocchi
Edição: Andréa Martinelli
Figurino: C&A
Realização: RYOT Studio Brasil e CUBOCC
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