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Veja publicação original: ‘Fizemos por ela’: A morte de Savita Halappanavar foi lembrada na luta pelo direito ao aborto na Irlanda
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Por Sarah Ann Harris
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“Não vamos deixar que o que aconteceu com ela se repita com mais ninguém.”
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IRLANDA – Enquanto muitos irlandeses festejam o que parece ter sido uma vitória esmagadora da campanha pró-direito à escolha no referendo irlandêssobre o aborto, uma mulher cuja morte assombra o país desde 2012 foi homenageada.
Savita Halappanavar, dentista indiana de 31 anos, morreu de infecção generalizada, ou sepse. Ela sofreu um aborto espontâneo, e os médicos se negaram a cuidar de seu caso devido à uma especificidade da lei irlandesa. Ela tinha ido ao hospital com 17 semanas de gravidez, queixando-se de dores nas costas, e os médicos lhe disseram que ela poderia perder o bebê.
Mas, como ainda se detectavam batidas do coração do feto, os médicos eram proibidos por lei – regida pela oitava emenda constitucional – de interromper a gravidez. Com isso, a obrigaram a passar por um aborto espontâneo que se prolongou por uma semana. Ela sofreu uma infecção e em seguida um choque séptico, que resultou em sua morte.
No sábado, quando a apuração dos resultados do referendo revelou que o país votou por maioria esmagadora pela revogação da oitava emenda, o que abrirá caminho para o governo liberalizar as leis de aborto, muitas mulheres se recordaram de Savita e seu legado.
O que é o referendo sobre o aborto na Irlanda?
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O referendo sobre o aborto na Irlanda decidirá se as rígidas leis de aborto do país devem ser flexibilizadas ou não.
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Os eleitores terão a chance de votar sim ou não sobre se a Oitava Emenda à Constituição do país deve ser revogada, abrindo as portas para o governo aprovar a legislação que torna o aborto legal.
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A oitava emenda atualmente diz que o feto e a mãe têm o mesmo direito à vida.
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De acordo com as novas leis do país, se a emenda for revogada, as mulheres na Irlanda poderiam obter aborto legalmente nas primeiras 12 semanas de gravidez e até 24 semanas nos casos em que a vida ou a saúde da mulher estivesse em risco.
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As terminações também seriam permitidas se o feto tivesse uma anormalidade fatal.
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No bairro de Portobello, em Dublin, um mural com sua imagem foi enfeitado com bilhetes, flores e homenagens, e muitas pessoas se reuniram no local para prestar seus respeitos a ela.
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Jill Jordan, 38 anos, que estava diante do moral com sua filha bebê Ivy, disse ao HuffPost Reino Unido: “O resultado ainda não é oficial, mas estou sentindo um alívio tremendo.
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“Isso significa que podemos olhar para o futuro, sabendo que o povo da Irlanda confia em nós e entende que as mulheres não são objetos vergonhosos.”
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“Esse resultado significa que não vamos mais precisar mandar mulheres para fora do país para realizar abortos; ele põe fim a essa hipocrisia, que apenas acrescenta mais um fator de sofrimento a um momento de crise.”
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Ela acariciou sua filha, dizendo: “Ela ainda não sabe, mas fizemos isto por ela”.
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Falando ao jornal Irish Times, o pai de Savita, Andanappa Yalagi, disse que espera que a nova legislação, que o primeiro-ministro irlandês Leo Varadkar prometeu que será promulgada até o final do ano, receba o nome de “Lei de Savita”.
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Falando desde a residência familiar em Belgaum, Karnataka, no sudoeste da Índia, Yalagi disse que sua família está “realmente feliz” porque o povo irlandês estava a caminho de dar um “sim” inequívoco no referendo sobre o aborto.
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“Quero agradecer muito a vocês. Quero dizer ‘obrigado’ a nossos irmãos e irmãs na Irlanda por votarem ‘sim’. É muito importante. As mulheres irlandesas passaram por sofrimento demais.”
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Anne Marie Roche, 37 anos, comentou: “Savita e eu estávamos grávidas ao mesmo tempo. Quando ela morreu, eu não pude participar das marchas. Agora que estou forte, eu quis vir aqui prestar uma homenagem a ela.
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“Savita deveria estar em casa agora com seu filho de 5 anos, como eu. Ela nunca deveria ter sido transformada em mártir neste país.”
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Ali, que pediu para seu sobrenome não ser publicado, deixou flores diante do mural. Ela disse: “Esta é uma celebração, mas é um momento amargo, não apenas doce. Nós abandonamos Savita. A Irlanda abandonou Savita à sua sorte. Agora não vamos deixar que o que aconteceu com ela aconteça com mais ninguém.”
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Outro bilhete deixado no local dizia: “Eu votei por você, Savita, lamento tanto que nós a abandonamos”. E ainda outro: “Se eu tiver uma filha, a chamarei de Savita, em sua homenagem”.
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