Saiu no site HUFFPOST:
Veja publicação original: Simone Freire, a jornalista que tem o sonho de tornar a internet brasileira acessível
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Imagine só passar o dedo pela tela do celular e saber apenas o que consta ali em cima, no topo da imagem que rola pra cima, misturada a tantas outras que vão pipocando. Muitas vezes é apenas o local onde a foto foi tirada. Pode ter uma legenda, para ajudar. Uma frase poética ou alguma coisa fofa, de repente. Pode ser um texto que tenha relação com a imagem, quem sabe. Quando carregar a foto dá pra descobrir. Ou se eu clicar aqui em cima, com esse ladinho direito, ou rolar a tela um pouco mais pra cá, aparece mais alguma informação. Talvez. Mas não é assim para todo mundo.
De acordo com dados do IBGE (2010), há 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil. E, veja, todas essas pessoas também querem usar a internet e os celulares, cada vez mais modernos… querem curtir fotos nas redes sociais, ler notícias, se candidatar a uma vaga de emprego, pagar contas, fazer compras. “Nem todo mundo sabe que o cego super navega na internet com celular e computador. Hoje tem ferramentas de leitura de tela, mas tem que ter uma preocupação [de quem produz os conteúdos]. Nosso trabalho é preparar [os sites] para que todos consigam navegar.”
“Nem todo mundo sabe que o cego super navega na internet com celular e computador.”
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É nisso que Simone Freire, 46 anos, acredita. O objetivo parecia simples e bem idealista: focar em causas. Foi com essa ideia que idealizou sua agência de comunicação, a Espiral, há quase dez anos. Após fazer carreira em redações – sempre atuando na cobertura de tecnologia –, quis abrir um negócio com esse foco e logo de cara começou a atuar com inclusão. “A gente prepara toda a comunicação para ser acessada por pessoas com deficiência, desenvolver site, pensar na comunicação com influenciador sempre com esse olhar da comunicação ser para todos. Tem 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil. É um público que consome, que precisa da internet.”
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Simone entendeu isso. Com o avanço da tecnologia e a internet cada vez mais presente em todos os processos da vida das pessoas, como deixar uma parcela grande da população de lado disso tudo? Para ela, a questão da acessibilidade em empresas vai além do acolhimento pela área de recursos humanos ou da instalação de um elevador para que os funcionários possam ir e vir. “A gente viu que não adianta só mostrar que precisa se preocupar com uma rampa, mas que se um cego vai fazer uma aplicação de uma vaga de emprego no site ele precisa de alguém pra fazer isso? Tem que olhar para todo o ambiente, ir na base da construção e falar com toda a galera que trabalha com comunicação. Temos que falar com os desings, equipe de conteúdo.”
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“Se um cego vai fazer uma aplicação de uma vaga de emprego no site ele precisa de alguém pra fazer isso?”
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Para ela, um dos desafios é o conhecimento sobre o tipo de trabalho que é possível fazer nessa área. “Falta conhecimento mesmo porque as pessoas com deficiência ficaram por muito tempo no ciclo da invisibilidade. Era feio ter um filho com síndrome de down, as pessoas escondiam um parente cadeirante. Hoje está cada vez mais forte a temática.”
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E o seu trabalho nessa área também. Em 2016 Simone foi selecionada pela Goldman Sachs Foundation para participar do programa 10.000 Women. O projeto mapeia mulheres que fazem trabalhos de transformação social. Assim, no ano passado, ela participou de uma formação de seis meses em que tinha o objetivo de criar um projeto associado a sua área de atuação que gerasse um impacto ainda maior. “Foi quando idealizei e lancei o Movimento Web para Todos. Vi que a gente estava transformando pontualmente às empresas, mas estávamos com passinho de formiguinha. E com o movimento consegui juntar 21 organizações para transformar a web brasileira em um espaço mais democrático e inclusivo para as pessoas com deficiência.”
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“Queremos fazer com que a pessoa com deficiência tenha uma experiência relativamente próxima à nossa.”
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O movimento produz relatórios e estudos sobre acessibilidade na web, abre espaço para compartilhamento de experiências boas e ruins para conscientizar as empresas e desenvolvedoras dos sites, oferece manuais e cartilhas de referência para práticas de comunicação mais inclusivas, entre outras atividades. “Queremos fazer com que a pessoa com deficiência tenha uma experiência relativamente próxima à nossa. As pessoas estão acessando cada vez mais.”
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São sete meses de Movimento e Simone está feliz da vida com os resultados. Dos negócios e de seus projetos. “Não quero nada muito diferente não… Acho que na minha vida eu sempre fiz tudo muito cedo. Fui mãe pela primeira vez aos 16 anos [depois teve mais dois filhos], me separei cedo, casei de novo, separei de novo depois de ano. Sou muito precoce. Mesmo a questão de empreender… me considero com muita coragem porque é difícil, principalmente para mulheres porque você fica achando que não vão dar conta, criar filhos, manter um negócio…mas seu sempre fui muito decidida.”
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“É um sonho paradoxal, mas real.”
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Esse perfil não poderia ser melhor para a sua causa. “O propósito do Movimento é super ousado que é fazer com que a web seja acessível para todo mundo. É ousado porque 95% dos sites não são acessíveis hoje. A gente brinca que nosso sonho é que em dez anos o movimento não exista, que não precise mais dele. É um sonho paradoxal, mas real”. Uma causa que pode ter um fim. Nada mais bonito e, nesse caso, inclusivo do que isso.
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Ficha Técnica #TodoDiaDelas
Texto: Ana Ignacio
Imagem: Caroline Lima
Edição: Andréa Martinelli
Figurino: C&A
Realização: RYOT Studio Brasil e CUBOCC
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