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Terry Crews sobre masculinidade tóxica: ‘Os homens precisam ser desprogramados’

Saiu no site HUFFPOST:

 

Veja publicação original: Terry Crews sobre masculinidade tóxica: ‘Os homens precisam ser desprogramados’

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Por Allana Vagianos

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O ator conversou com o HuffPost sobre o ataque sexual que sofreu e sobre a experiência de ser um homem hétero negro na América.

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Terry Crews, o eterno Julius da série Todo Mundo Odeia o Chris, não está aqui para essa história de machões.

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“A masculinidade pode ser um culto”, disse Crews no evento Women in the World, realizado em abril. “E, quando digo ‘culto’, não é diferente de David Koresh [líder de uma seita que causou a morte de 80 pessoas]. Não é diferente de Jim Jones [que foi líder do culto Templo dos Povo, famoso pelo suicídio em massa e assassinatos de 918 pessoas em Jonestown, na Guiana, em 1979].

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E o ator de Brooklyn Nine-Nine conhece bem o preço da masculinidade tóxica.

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Em meio ao acerto de contas do movimento Me Too, no final do ano passado, Crews acusou publicamente o executivo de Hollywood Adam Venit de apalpá-lo numa festa, em 2016. A história virou uma plataforma para vários outros homens vítimas de ataques sexuais e lembrou o público de que eles também são vítimas. Mas não tem sido fácil para Crews.

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“Quando entro num ambiente, os caras estão divididos ao meio em relação a mim e à minha história”, disse Crews ao HuffPost. “Mas estou OK.”

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Crews denunciou Venit em dezembro, mas a procuradoria de Los Angeles não levou o caso adiante porque o crime prescreveu. Apesar de Venit não ser alvo de um processo criminal, ele ainda tem de responder perante a justiça civil.

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Apesar de seu nome estar em evidência nos últimos meses, o ativismo não é novidade para Crews. O ex-jogador profissional de futebol americano, marido e pai de cinco filhos defende as mulheres e critica os papeis de gêneros restritivos. Em 2014, ele publicou o livro Manhood: How to Be a Better Man – or Just Live With One (Masculinidade: Como Ser um Homem Melhor – Ou Apenas Viver Com um Deles, em tradução livre). Desde então, ele vem denunciando o sexismo, oferecendo apoio a vítimas de ataques sexuais e defendendo o feminismo.

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Recentemente, Crews foi apontado numa lista da revista Time junto com outras pessoas que romperam o silêncio, na edição da Pessoa do Ano. Ele também está sendo homenageado com a cofundadora do movimento Me Too Tarana Burke no evento Champion Awards Gala, da entidade Safe Horizon.

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Crews conversou com o HuffPost sobre a experiência de vir a público com sua história e os próximos passos em sua luta contra o “culto” à masculinidade.

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Como é ser um hétero negro que veio a público contar uma história de ataque sexual?

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É muito, muito difícil, porque você enfrenta uma mentalidade que está enraizada em nossa cultura há muito, muito tempo. O que descobri é que as pessoas esperam que um cara como eu seja sempre durão. Mas a verdade é que, sendo negro, a única ocasião em que te consideram vítima é quando você está morto. Do contrário, você não se machuca, não se cansa… as pessoas acham que você vai ficar pulando no ar, de uma enterrada para a outra.

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Uma coisa que descobri é que, como disse George Orwell, “em tempos de engano universal, falar a verdade torna-se um ato revolucionário”. Estou apenas falando a minha verdade. Estou só dizendo que isso é ridículo e inaceitável. Ninguém – homem, mulher ou criança – deveria ter de aturar ser tratado como menos que humano. Jamais.

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“Sendo negro, a única ocasião em que te consideram vítima é quando você está morto.” Terry Crews

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Os Estados Unidos estão cheios de teorias da conspiração, mas você nunca consegue prová-las. Mas cumplicidade – cumplicidade é outra coisa. Você consegue provar cumplicidade. Cumplicidade é um sistema. Cumplicidade é fazer vista grossa. Cumplicidade é ninguém falar nada, ninguém fazer nada a respeito dessas coisas erradas. Isso é um sistema cúmplice. É o que temos aqui.

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Num evento recente você disse que a “masculinidade pode ser um culto”. Poderia falar mais sobre isso?

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Amo ser homem. Sou pai. Sou marido. Adoro o que é ser homem. Mas, quando você distorce essa definição, quando de repente eu tenho de fazer tudo o que você diz para ser homem – isso é culto. Porque cultos são [mecanismos de] controle. Se você sair da linha, vamos te matar. É disso que se trata. Quem se afasta do que eles consideram masculinidade vira alvo.

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Sou culpado disso também. Não estou aqui para apontar o dedo para ninguém. Era membro de carteirinha e, de repente, acordei para a realidade. Disse para mim mesmo: “Vocês entenderam tudo errado”. Acho que escapei de uma boa, porque poderia ter vivido e morrido fazendo parte dessa coisa. Tive de ser desprogramado, por assim dizer.

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Quais são os próximos passos para o movimento Me Too dos homens, seja como vítimas ou aliados?

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Os homens estão com medo. Muito, muito medo. Acho que temos de admitir. Precisamos que os homens admitam. Eles têm de dizer: ‘Sabe o que? Estamos errados, fizemos cagada”. Digo para as pessoas que vai ser complicado. Não vai ser uma transição suave.

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Sim, essas questões sistemáticas vão demorar um bom tempo para ser corrigidas.

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Exato. Vai demorar porque estamos falando da mentalidade das pessoas. Estamos falando de mentalidades muito arraigadas. Mas é bom que estejamos falando do assunto. Dez anos atrás você nem tinha como tocar no assunto. A próxima geração está aprendendo desde cedo, meu filho e minha filha estão crescendo num mundo diferente do meu.

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Esse acerto de contas do Mee Too parece ter atingido alguns homens, mas nem todos. É alarmante que [o cantor de R&B] R. Kelly tenha sido acusado de ataques sexuais, estupro escravidão sexual por dezenas de mulheres e menores de idade, mas isso não afetou a imagem dele.

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Qual sua opinião sobre R. Kelly e a campanha recente por justiça para as vítimas do cantor, especialmente a justiça para mulheres negras?

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A questão é que tem homens em manifestações do Black Lives Matter [Vidas Negras Importam] olhando para mulheres e dizendo: “Senta, vadia”. E, pera lá, estamos falando de igualdade. Mas eles não consideram as mulheres iguais dentro da sua comunidade. A questão R. Kelly era tipo: “Cara, ele está só sendo homem”. Está fazendo o que todo cara faz.

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“Os homens precisam ser desprogramados.” Terry Crews

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É maluco para mim porque, de novo, os homens precisam ser desprogramados. É tipo uma dissonância cognitiva. As mulheres dizem isso faz tempo. Infelizmente, precisamos que um homem fale. Os homens precisam chamar a atenção dos outros homens.

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Precisamos de que alguém do grupo dos culpados acorde e diga: “Temos de parar com isso”. Acho que tem muitos caras que estão começando a entender, mas precisamos de mais. Acho que a coisa mais importante de que precisamos é continuar conversando. Precisamos continuar essa conversa.

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Depois de contar minha história, milhares de homens, na internet ou pessoalmente, me disseram: “Mano, isso aconteceu comigo”. Eles dizem: “Cara, obrigado, obrigado por falar”. Assim é que sei que estou fazendo a coisa certa.

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A entrevista foi editada e condensada.

 

 

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