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Maria Luísa Mendonça fala sobre assédio aos 20 anos e sua volta às novelas

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:  

 

Veja publicação original: Maria Luísa Mendonça fala sobre assédio aos 20 anos e sua volta às novelas

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Por Carol Sganzerla

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Ela perdeu uma irmã quando tinha 8 anos. Aos 17, fez um aborto e, aos 22, foi assediada sexualmente por um diretor de TV. Em uma entrevista reveladora, a atriz Maria Luísa Mendonça, no ar este mês em “Segundo Sol”, conta como essas experiências transformaram sua vida. A atriz que ficou conhecida nos anos 90 ao dar vida a Buba, uma intersexual, também reflete sobre o amadurecimento das discussões de gênero no Brasil

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Um silêncio ensurdecedor tomou a plateia do teatro Tucarena, em São Paulo. Maria Luísa Mendonça acabou de ser estuprada em cena. A sanidade que restava à personagem, submetida a situações de violência, dá lugar a um completo desequilíbrio. No papel de Blanche DuBois, protagonista de Um Bonde Chamado Desejo (que ficou em cartaz até março), ela corre, aos berros, em estado de histeria. Uma catarse instalou-se no palco, confirmando a grandeza dessa atriz carioca que, por sua atuação arrebatadora, como definiu a crítica, levou os três maiores prêmios da categoria em 2016 – APCAShell e Aplauso Brasil. Maria Luísa, ninguém duvida, está louca.

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Em quase três décadas de carreira, atuou em dez peças, 15 minisséries e 20 longas-metragens, como o recém-lançado Todo Clichê do Amor, de Rafael Primot. Após cinco anos longe das novelas, volta este mês no folhetim das 21h, Segundo Sol, de João Emanuel Carneiro, para viver seu sexto papel em obras do gênero em 25 anos de TV. A atriz ficou conhecida como a hermafrodita Buba, de Renascer(1993), numa época em que não se discutiam questões de gênero e intersexualidade no Brasil. A fama repentina a assustou. “Ouvia comentários agressivos, a personagem mexia com o imaginário ignorante do público”, relembra. “Interpretar um intersexual é muito importante para ajudar a trazer respeito pelas diferenças.”

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No encontro com Marie Claire no bar do Hotel Emiliano, em São Paulo, Maria Luísa conversou sobre outros tabus. Falou pela primeira vez do aborto que fez aos 17 anos, relembrou o assédio pelo qual passou na TV e defendeu a descriminalização das drogas. Revelou que há sete meses vive um relacionamento com Alexandre Herkenhoff Gama, um engenheiro carioca 13 anos mais novo, seu primeiro namorado após se separar do diretor de cinema Cláudio Torres, 55. “Aos 48 anos, estou me redescobrindo. Minha filha está com 21, tenho a liberdade de voltar a viver outras coisas”, diz a atriz, mãe de Júlia, estudante de artes visuais que mora com o pai, o diretor de TV Rogério Gallo.

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O gosto pelas artes, parece, é genético. Maria Luísa atua também como artista plástica, mesma profissão de sua mãe, Lígia – o pai é o advogado Newton Mendonça, ambos octogenários. Ainda menina, aos 8 anos, encarou a morte da irmã Maria Fernanda, 13, num acidente de carro. “Ela era minha ídola”, relembra a quinta de seis irmãos. No ano seguinte, sua mãe foi diagnosticada com câncer no intestino. “Foi punk. Aos 9 anos, eu tinha consciência da morte e da iminência dela, foi muito forte.” Hoje, perto dos 50, enxerga uma nova realidade. “Ver os pais mais velhos dá uma dimensão da finitude. Entender que um dia a vida acaba sem explicação é algo que me faz querer viver.”

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Marie Claire Você não fazia novelas há cinco anos. Por que aceitou o convite agora?

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Maria Luísa Mendonça Pelo meu momento de vida. Com a novela, consigo bancar a faculdade da minha filha, os meus projetos pessoais. Um deles é um documentário sobre o grupoBasta de Violência! [Outra Maré é Possível!, formado por artistas, moradores e lideranças comunitárias], do qual participei, que filmei e estou editando. Também poderei continuar com minhas pesquisas em artes plásticas. Depois que me separei [do diretor Cláudio Torres, 55], mudei de apartamento, um duplex, e o ateliê fica no andar de baixo. Vou cuidar da minha casa, regar minhas plantas todos os dias.

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MC Você passou 12 anos casada, como está sendo essa nova fase?
MLM O luto demorou, mas passou. Depois de tanto tempo casada, precisei entender o que era meu e o que era dele. É delicado se separar admirando a outra pessoa. Foi doído, mas o lado bom é que me abri para o mundo. Com o fim do casamento, fiz o que quis, fui para festas. Pensava: “Não acredito que estou vivendo isso”. Mas sou livre. Agora, estou namorando [o engenheiro Alexandre Herkenhoff Gama, 13 anos mais novo] e apaixonada.

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MC A diferença de idade te incomoda?
MLM No começo foi uma questão, fiquei um pouco assustada, observando o que acontecia. Mas com o tempo deixou de ser. Não ligo se alguém tiver preconceito, já namorei homens mais velhos e a diferença de idade nunca atrapalhou. Ele é maduro, inteligente, e o admiro muito. Aliás, a admiração é algo que sempre esteve presente nas minhas relações. Acredito no mistério do amor, de não saber explicar a vontade de estar junto de alguém emocional e fisicamente.

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MC Bateu insegurança na primeira transa?
MLM Não, nenhuma [risos]. A intimidade vai sendo construída, são dois corpos novos se conhecendo, o sexo fica melhor quanto mais você gosta do outro. A ansiedade vai diminuindo ao passo que a gente entende o ritmo da relação.

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MC Você está perto dos 50 anos. Essa data é um marco?
MLM Acho maravilhoso, estou me redescobrindo. Não me troco por duas de 20 e poucos. A minha filha está com 21, criada, e isso me dá liberdade de voltar a viver outras coisas. Mas não descarto ter mais um filho, conversamos sobre isso. Biologicamente ainda posso ter. Existe a possibilidade de congelar óvulos, mas, se não der certo, podemos adotar.

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MC O que a maternidade mudou em você?
MLM Com o nascimento da Júlia, me senti mais potente. Eu tinha 27 anos. Quando ela fez 3 meses, fui filmar Coração Iluminado, do Hector Babenco, e a levei para a Argentina comigo. Ela passou três meses no set, interrompíamos as gravações para eu amamentar. Minha profissão permitia, mas defendo a amamentação no trabalho, é uma conquista para a mulher. A criança fica mais saudável e a mãe, tranquila.

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MC A Júlia tinha 2 anos quando você se separou do pai dela. Como foi essa fase?
MLM Muito difícil. A terapia foi essencial, até porque tive que continuar em contato com meu ex-marido. Foi preciso muito amadurecimento para isso. O homem pira com as mudanças que a paternidade traz, mas houve outras questões também.

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Aos 48 anos, estou me redescobrindo. Minha filha está com 21 e isso me dá liberdade de voltar a viver outras coisas. Mas não descarto ter mais um filho”
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MC Sua filha não mora com você. Não é um drama?
MLM A Júlia morou comigo no Rio até os 15 anos e foi para São Paulo estudar, ela é ávida por cultura. Não foi um drama, nos víamos muito, eu ia muito à cidade.

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MC Como acha que seria interpretar uma hermafrodita na TV hoje?
MLM Acho que a aceitação depende da composição do personagem e dos dramas que enfrenta e não só do fato de ser um intersexual ou um gay. Trazer informação sobre assuntos que ainda são tabu ajuda a quebrar o preconceito e a inspirar mais respeito e amor pelas diferenças. Podemos entender melhor o que Simone de Beauvoir queria dizer com “não se nasce mulher, torna-se mulher”.

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MC E de assédio sexual, já foi vítima?
MLM Sim, no início da minha carreira na TV. Tinha 20 e poucos anos e numa gravação um diretor tentou me beijar. Não esperava aquilo. Era jovem, não sabia como me defender, só conseguia dizer: “Você tem 30 anos a mais do que eu!”.

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MC Não o denunciou à direção?
MLM Não, naquela época não sabíamos o que era assédio. Aconteceu uma vez e ele não tentou de novo.

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MC Você se considera feminista?
MLM Sou feminista porque ainda existe desigualdade de direitos e, enquanto essa desigualdade existir, continuarei sendo. Acho bonito as mulheres não se vendo mais como inimigas. Estamos buscando entender onde a gente se sentia reprimida, por que nosso salário é menor, por que ainda existe mutilação, entender uma violência.

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MC Qual sua opinião sobre a descriminalização do aborto?
MLM Sou favorável. A mulher tem o direito de escolher e de ter assistência para realizar um aborto. Há muitas clínicas clandestinas e situações em que as mulheres tentam o aborto por vias próprias, enfiando um cabide dentro de seus corpos. Essa falta de assistência é um horror, mas acho que a mulher deve conversar sobre o assunto com o homem. Ele precisa estar na conversa. A decisão é mais da mulher porque é o corpo dela. Mas acho uma violência ter o filho sem o parceiro querer. Não concordo.

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MC Já fez aborto?
MLM Já. Eu tinha 17 anos e namorava um menino da mesma idade. Minha mãe não sabe até hoje, mas acho importante falar. Lembro que fiquei com medo, foi horrível. Paguei uma grana na melhor clínica da Zona Sul, usei as economias da mesada e meu namorado completou. A segunda vez foi um aborto espontâneo aos 28 anos. Estava casada [com o diretor de TV Rogério Gallo, 46], grávida de um mês e pouco. O bebê tinha uma má-formação e a natureza tratou de expelir.

 

 

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