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Negras empreendedoras | Como ser ambulante na praia ajudou Laís Costa a empreender

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:  

 

Veja publicação original: Negras empreendedoras | Como ser ambulante na praia ajudou Laís Costa a empreender

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Conheça a história de Lais Costa, que começou a sua empresa vendendo brincos no boca-a-boca, em frente ao mar

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Todo esse processo de procurar as empreendedoras e seus produtos para seleção do #negrasemprendedoras tem me mostrado o quão ampla é não só a produção desses mulheres, mas também sua narrativa. Assim que entrei em contato com a Laís, ela já me contou sobre ter sido ambulante – e como isso teria modificado sua forma de ver sua atuação enquanto empreendedora. Se no início eu tinha selecionado sua marca por estar muito encantada com seus tênis casuais feitos com estampas exclusivas desenhados pela própria, depois dessa história queria saber como uma moça que esteve na universidade, em grandes empresas e era dona da própria marca viu no ato de vender seus brincos na praia a chave transformadora para passar a confiar em si e investir ainda mais na carreira como empreendedora. Se você quer matar sua curiosidade sobre Laís Costa, uma mulher de 29 anos de Criciúma, Santa Catarina, que hoje administra a marca que criou Zakii – Moda Afro, com mais de 900 produtos, leia nossa sexta entrevista da série #negrasempreendedoras.

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Você já foi ambulante. Como foi essa fase e como ela reflete hoje no seu trabalho como empreendedora na Zakii?

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Tenho formação técnica em design e superior em design moda. Desde muito nova tinha paixão por trabalhos manuais, sempre fui muito curiosa. Meu primeiro celular, aos 14 anos, comprei fazendo brincos de miçangas. Vendia para amigas. Depois dei um tempo nas atividades manuais para fazer o curso técnico em design – na época estudava em dois períodos e trabalhava como bolsista em um terceiro. Aos 18 anos voltei a fazer bijuteria, mas com elementos naturais, sementes, garrafa PET e flores naturais. Comecei a fazer a graduação em gestão de marketing e, em um período após uma cirurgia nos olhos, comecei a fazer bolsas. Minha mãe é costureira, então comecei a experimentar e resolvi trocar o curso para design de moda. Até tentei viver de sonho naquela época, mas a realidade é cruel e comecei a trabalhar em empresas de moda como assistente de estilo.

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Foi uma das melhores escolas que eu poderia ter na vida. Eu participava da montagem da peça piloto, acompanhava processo de passagem de desenho, corte, costura, PCP, acabamento, almoxarifado…Conviver com todo esse pessoal que fazia o negócio acontecer foi engrandecedor. Aprendi a desenvolver estampas com colegas de trabalho que foram extremamente fundamentais. Quando eu me desliguei da última empresa na área de moda, decidi que eu não queria mais aquilo para a minha vida. Fiquei um bom período sem emprego e voltei a usar os programas gráficos, a experimentar o desenvolvimento de estampas. Por essas estampas consegui um emprego como designer de superfície.

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Lais Costa (Foto: Divulgação)

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Aprendi muito nesse período, mas a verdade é que eu não queria mais estar “presa” em uma empresa. O mundo da moda pode ser muito cruel para quem não se encaixa no padrão – e eu queria algo diferente para minha vida. Larguei tudo e comecei a desenvolver estampas para diversas marcas, mas home office. 2016 foi um ano extremamente difícil para a área de moda, ainda mais para desenvolvimento de estampas. Eu já tinha o desejo de ter algo autoral, pois infelizmente ainda temos em muitas marcas a cultura de cópia e nem sempre eu podia usar da minha criatividade no desenvolvimento das estampas. Foi na necessidade e no desejo de ter algo autoral que a Zakii surgiu. Ela reúne tudo o que tinha aprendido até então. No verão de 2016/2017 resolvi encarar a venda dos brincos na praia, como ambulante. Meu pensamento era que seria fácil levantar dinheiro e realizar os novos projetos. Mas essa foi talvez uma das experiências mais reveladoras que já tive na vida. Antes do verão começar, fui tentar vender em uma praia de Florianópolis e travei. Não me via naquele lugar. Nunca me considerei uma pessoa preconceituosa, até porque passo por preconceito. Para mim, vender na praia era como não ter opção – o que não o meu caso, já que  tinha formação superior. Era uma escolha. Sabia que estava errada, mas o pensamento estava lá: o que os outros vão pensar?

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Após conselho de amigos especiais, fui. Os primeiros dias foram horríveis: eu não vendia, as pessoas nem olhavam e já diziam que não. Foram 16 km andados no sol, levando não na maioria das vezes. Mas fui conhecendo o pessoal da praia e foi ficando mais leve, mais alegre, embora tenha sido um ano de vendas ruins para todos. Passei o Natal longe de casa e a virada dormindo – em muitos momentos sentia solidão e tristeza. No final de janeiro resolvi voltar para casa e percebi que meu produto não estava no local certo. Havia outras formas de fazer acontecer. Foram apenas 2 meses como ambulante, mas voltei para casa muito mais forte em relação a Zakii. Tinha certeza da vida que queria ela. Queria ver ela crescer e aparecer, ainda que fosse andar 16 km no sol todos os dias.

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Lais Costa (Foto: Divulgação)

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Na sua formação como empreendedora, procurou algum tipo de auxílio em cursos ou tutorias?

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Muita busca, mas muita busca mesmo. A internet tem praticamente tudo o que você quiser fazer. Assisti a vídeos, cursos onlines para aprender a desenvolver alguns modelos de bolsas, para montar meu site, para melhorar processos… Mas outra coisa interessante é buscar um canal de empreendedorismo e conhecer outras histórias. Elas são inspiradoras e sempre dão um gás para continuar.

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Na Zakii você participa de todos os processos de criação de seus produtos? Como consegue dar conta de de tudo? 

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A Zakii começou apenas com brincos.Depois do verão, acrescentei colares. Todo o restante do mix começou a surgir quando a Zakii fez um ano. Eu queria ter bolsas, não tinha quem fizesse e também não tinha dinheiro para grandes quantidades – então eu sentei, fiz e ainda faço. Logo em seguida encontrei um parceiro para os calçados, que topou fazer em pequena quantidade.Depois vieram os turbantes e as bonecas negras, com uma parceira incrível também.

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Na verdade é tudo bem surreal. Quando montei um espaço na minha casa para receber pessoas é que pude ver exposto tantos produtos e me dei conta de quanto tudo isso é loucura. Mas, quando tu respira algo, quando se trabalha para além do dinheiro, é mais fácil ter força para fazer e dar conta. Estou estruturando e encontrando parcerias para que eu possa ficar mais na parte de criação e abra todos os produtos para revenda.

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De onde vem sua inspiração para criação das padronagens?

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A inspiração vem dos tecidos africanos, de Moçambique e Angola. Não há cópia: é um mergulho em um banco de imagens de mais de 800 padronagens. Tento absorver formas, colorações e criar algo novo dentro de uma identidade. Uma das maiores alegrias nesse processo é quando um africano, que inclusive vende tecido, vem conferir se é capulana. Isso significa que estou fazendo a coisa certa.

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Lais Costa (Foto: Divulgação)

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Qual o produto que você acredita que reflete mais a identidade da Zakii?

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Não tenho um produto favorito, acho que o que mais reflete a Zakii são as estampas. Todos os produtos empoderam e encorajam. Quando elas mulheres levam os produtos, elas sabem que tem mais do que beleza e qualidade, tem história.

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Quais foram seus maiores desafios como empreendedora?

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A marca tem um ano e oito meses –  ainda tenho um longo caminho pela frente. Os desafios são diários. Além do financeiro, é extremamente difícil criar e fortalecer um produto com identidade sem se render aquilo que poderia vender mais. Por muitas vezes neguei fazer produtos que não condizem com a Zakii, mesmo precisando financeiramente. Outra dificuldade é encontrar parceiros que compram a ideia, que vejam na marca uma oportunidade. Mas, assim como tudo, cada coisa no seu tempo, e as pessoas certas vão aparecendo. A cada desafio vencido, vejo a oportunidade de fortalecer esse sonho.

 

 

 

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