Saiu no site REVISTA COSMOPOLITAN:
Veja publicação original: Como 3 mulheres contra-atacaram ambientes de trabalho misóginos
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Por Gabriela Navalon
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Cafira, Luiza e Simone tomaram as rédeas da carreira e abriram a própria empresa – com times majoritariamente femininos
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Você já se sentiu mal ao perceber que poucas mulheres são chefes na empresa em que trabalha? Já se pegou sentindo certo incômodo com um homem colega do escritório porque tem a impressão de que ele não está dando importância às suas atribuições? A dificuldade que as mulheres enfrentam dentro de empresas é grande: seja no começo da carreira, quando os homens duvidam de seu potencial, seja com o passar dos anos, ao perceber que, para muitos empregadores, cuidar dos filhos parece ser só uma tarefa da mãe.
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O machismo se mostra em muitos momentos da vida profissional e também está presente no desempenho que a mulher precisa apresentar, muito melhor do que um homem, para ocupar uma mesma posição, ou no momento em que precisa ouvir um colega explicando coisas que já sabe, o famoso mansplaining.
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O preconceito, inclusive, impede que o sexo feminino se destaque nas posições de liderança. Um estudo feito pelo Grupo de Pesquisas em Direito e Gênero da Fundação Getulio Vargas (FGV), que analisou 837 empresas de capital aberto e 73 901 cargos de diretoria, além de membros de conselhos administrativos de 1997 a 2012, concluiu que a taxa de mulheres em posições altas se manteve durante todos esses anos: 7,7%.
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É diante de todos esses inconvenientes que as mulheres resistem, ingressam nas universidades e constroem sua carreira, buscando aquele lugar no topo que por muito tempo foi ocupado só por homens. É assim, também, que muitas decidem criar seu próprio negócio e se tornam empreendedoras. Nos últimos 15 anos, o número de empreendedoras cresceu 34%, de acordo com levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
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Essas, que viram empresárias, costumam beirar os 40 anos, e 55% são mães, de acordo com a Rede Mulher Empreendedora. “Hoje, mais de 50% dos novos negócios que são abertos no Brasil são liderados por mulheres. O fato de buscarem o empreendedorismo como opção profissional deve-se ao mundo corporativo, que ainda é um ambiente hostil para elas. Estão criando sua empresa para estar mais próximas da família e para ter flexibilidade. Elas têm uma visão mais humana e colaborativa, além de serem mais compreensivas nos ambientes de trabalho, por causa disso o empreendedorismo feminino é tão importante, porque ele tem um impacto social maior na comunidade”, afirma Ana Fontes, fundadora da Rede.
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Aos poucos, estamos nos desprendendo de clichês como o de que somos inimigas. As personagens que vai conhecer agora perceberam um lição valiosa: some mulheres e o resultado é muito positivo.
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“Sabia que quando abrisse um restaurante só ia trabalhar com mulher”
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“A gastronomia sempre me encantou, mas nunca tinha pensado em trabalhar profissionalmente na área. Cheguei a cursar moda e a trabalhar no varejo e produção em São Paulo e em Florianópolis antes de optar por empreender na gastronomia. Quanto tinha 17 anos, passei uma temporada em Lyon, na França, com a minha mãe, em 2013. Fiz viagens por diversos países, como Alemanha, Espanha, França, Inglaterra, Itália, Portugal e Marrocos, e percebi que poderia transformar minha paixão pela gastronomia em profissão e em um passaporte cultural. Mas o mundo gastronômico não é fácil para as mulheres, é um desafio que exige disciplina, uma longa jornada de trabalho, certa força física e deixar de lado a vaidade. Se queimar, se sujar, cortar acidentalmente o dedo, tudo isso faz parte da rotina. Mas, ao mesmo tempo, desde a Antiguidade, a tarefa de alimentar a família e os filhos sempre foi da figura feminina. Retomamos isso com um olhar de cuidado e compreensão, em todo o processo, da compra dos ingredientes, da logística, da administração, da recepção às garçonetes, da equipe de cozinha a de bartenders. Trabalhei, antes, em alguns restaurantes em São Paulo, mas foram experiências curtas. Não considero decisivas na minha formação, porque achei as cozinhas e o ambiente extremamente machistas: mulheres eram minoria nos postos-chave e encarei aquilo como um desafio para mim, algo que não gostaria de ver reproduzido no meu restaurante, mas esse é o cenário que as mulheres vão encontrar nesse mercado, infelizmente. As poucas experiências que eu tive na cozinha foram bem traumatizantes. Ambientes machistas, opressores. Sempre adorei a presença da mulher e desconheço essa história de que não conseguimos trabalhar juntas, de que somos muito competitivas entre nós. Por isso eu sabia que quando abrisse o restaurante só ia trabalhar com mulher. Acredito em um conceito de feminismo que é o da igualdade de oportunidades, algo que ainda está em processo no Brasil. Formamos uma equipe só de mulheres, mulheres trans e homens trans. Como prezamos a igualdade, todos, claro, recebem o mesmo salário. A proposta é a de acolhimento e de respeito às escolhas de cada um. Não admitimos preconceitos, homofobia, transfobia, misoginia entre a nossa equipe, e muito menos entre nossos clientes. É muito triste pensar que o Brasil, um país que já teve uma presidenta mulher, esteja agora nessa situação de tamanho retrocesso de direitos tão fundamentais. Basta ver o ministério do atual presidente: só velhos, homens, brancos e héteros. As diferenças salariais entre homens e mulheres são brutais, e agora até mesmo a lei básica de aborto em caso de estupro está sendo questionada. Insalubridade no ambiente de trabalho, trazendo sérios riscos para gestantes e lactantes, foi oficializada na reforma trabalhista recente… Na contramão disso, pelo menos no Fitó, tento fazer com que todos sejam bem-vindos e acolhidos.”
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Cafira Foz, 34 anos, do Ceará, cozinheira e sócia do Fitó Cozinha, em São Paulo
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“Acredito nesse olhar feminino, nessa força, nessa cumplicidade”
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“Nasci dentro de uma confecção, que era dos meus pais, e vivi muito o que é um ateliê de costura. Acompanhei esse trabalho durante toda a minha infância, então foi natural dar continuidade. Quando fiz faculdade de artes, em 2001, em São Paulo, trabalhei com moda e vendia roupas na própria universidade, levava peças para minhas amigas. Não sei datar as coisas, mas mexo com moda e vendas desde sempre. Esse universo faz parte da minha família e fui me formando nisso. Não sei bem aonde cheguei, não traço planos estratégicos ou o que vou ter daqui a uns anos, o meu negócio é uma mistura do que sou, aquilo que consigo devolver para o mundo, fico feliz em dar continuidade ao trabalho que começou com meus pais. Mas com isso vem a parte chata também, que é a administração, e essa é minha maior dificuldade. Sou a proprietária, sou a parte criativa, sou a compra, sou o marketing, sou tudo. Amo fazer tudo isso, mas controlar as contas é complicado. Hoje tenho duas lojas, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, e vivo do meu trabalho, assim como muitas outras pessoas também. Além de tudo isso, ainda tenho dois filhos. A moda é um lugar do feminino, e como vim muito cedo para esse universo não encontrei muitos obstáculos por ser mulher. Mas nem tudo é fácil. Minha maior dificuldade aconteceu quando me tornei mãe. Abri espaço na minha agenda, que era só de trabalho, para ter filhos, além de ser dona do próprio negócio: isso é viver em um desequilíbrio. Estou sempre trabalhando e estou sempre com os meus filhos, e essas coisas se misturam. Meus amores caminham comigo, é tudo feito com muita verdade. O mercado é muito duro, realmente, e enfrentei desafios. Prefiro pensar de forma igualitária e assim ocupar lugares que foram, na maioria, de homens, como o desenho, que é um lugar onde costumo botar meu pé. As mulheres vão encontrar resistência na liderança, dos homens e das mulheres também; muitas não compreenderam que somos uma escada, impulsionamos umas as outras. Cotidianamente, as diferenças são reforçadas para nós, lido com isso com certa rigidez e podemos cobrar que seja diferença. A força é em prol do que ainda está por vir, do que ainda estamos construindo para o futuro. Os obstáculos que encontro são os mesmos que todas as mulheres, mas tenho fé no que está para vir: crio duas crianças muito livres, estou plantando mudanças aqui. Nós somos a liderança, e quando conseguirmos dividir melhor as tarefas em casa, com os filhos, poderemos nos dedicar mais à nossa profissão e ocupar esses cargos. Por isso, trabalho só com mulheres. Simplesmente porque acredito nesse olhar feminino, nessa força, nessa cumplicidade, nesse poder de que podemos fazer tanto quanto o homem. Na minha etiqueta está escrito: `Aqui, onde trabalham mulheres que acreditam no poder do seu trabalho¿. Não só acredito na força do trabalho feminino como faço com que as pessoas da minha equipe foquem nisso, que somos capazes de levar esse projeto, mesmo pequeno, adiante. Não foi pensado antes, mas o mercado me trouxe essas mulheres, essas mães, e que o próprio mercado não absorve. Vamos incluir bilhetinhos nas peças que contam sobre cada costureira que fez aquela peça, é importante mostrar isso e dar poder a essas mulheres que trabalham e pagam as contas de sua casa, mantêm seu lar. Sei que a gente trabalha, estuda, faz a comida, faz compras e educa as crianças. Acredito nessas pessoas.”
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Luiza Pannunzio, 38 anos, de Sorocaba (SP), artista plástica, dona do Atelier Luiza Pannunzio, em São Paulo
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“Sou rodeada de mulheres incríveis”
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“Me tornei maquiadora há 12 anos, investi em cursos de beleza e comecei a procurar maquiadores para prestar assistência e aprender. Esse começo foi difícil. Na época existiam poucas grandes maquiadoras reconhecidas. No Brasil, inclusive, eles eram muito mais valorizados até dez anos atrás, por uma questão cultural mesmo. O mercado veio se modificando, mas ainda hoje vejo que as mulheres precisam sempre provar quanto são boas, quanto estudaram e correram atrás para ter um mínimo reconhecimento. Mesmo na beleza, que atende diretamente mulheres: elas mesmas demoraram para dar as mesmas oportunidades a outras. Achei difícil entrar no mercado e investir em produtos no começo de carreira. Muitas vezes as pessoas não confiavam na técnica de uma mulher e queriam ver uma bancada cheia de produtos importados para se sentirem seguras. Sonhava em ser uma boa maquiadora, mas não imaginava que conseguiria ter meu próprio negócio em um mercado que na época era dominado por homens. Trabalhei muito tempo como freelancer. Em 2009 trabalhava com a The Beauty Box, dando aula, e em 2012 O Boticário comprou o nome, começou a usar nas lojas. Eu já tinha vontade de criar uma escola que não fosse tão tradicional, queria que o mercado da beleza se tornasse melhor, que as pessoas fossem mais unidas, já que antes sentíamos que havia muita competição. Então veio a Madre, que foi criada toda com colaboração, tanto na indústria quanto com os professores. A ideia também não era ser uma escola só minha, queria algo em que os professores e os alunos estivessem juntos, trabalhando juntos. Eu amo ser dona do meu próprio negócio, é muito bom poder ter um local onde emprego outras mulheres e ajudo a fazer o movimento feminino cada vez mais forte. Ser dona de uma empresa requer dedicação quase que integral. A cabeça está sempre elaborando um novo projeto, é preciso estar de olho nas tendências, se atualizar, estar presente dentro do negócio, ter jogo de cintura para administrar contratempos e crises, saber liderar a equipe com clareza. Me inspiro muito na minha equipe, sou rodeada de mulheres incríveis, que se apoiam e querem crescer juntas. Acho que o mercado é, sim, duro com a gente. Em diversas situações já me vi tendo que dar extensas explicações para provar algo simples, para ter uma ideia aceita, para ser realmente ouvida. Isso demanda uma energia absurda. Uma mulher é avaliada em todos os quesitos quando, por exemplo, participa de uma reunião: às vezes falo brincando que estou indo para um show, pois parece que se não for uma performance incrível o seu conhecimento não tem o mesmo valor. Quando estava grávida, lembro-me de algumas pessoas me perguntarem se eu iria deixar o trabalho de lado para ser mãe. Depois que meu filho nasceu, muitas vezes eu ia a algum evento e a primeira pergunta era com quem estava o bebê. É engraçado que o meu marido nunca tenha passado por esse tipo de situação sendo pai. As pessoas não questionam os homens sobre cuidados com a casa, com os filhos. Parece que somente as mulheres são cobradas de serem 100% incríveis em todos os ambientes. Para uma mulher, nunca existe a `resposta correta¿. Se eu digo que trabalho, sou julgada. Se optasse por cuidar dele e não trabalhar fora, seria julgada por ter abandonado uma carreira de sucesso. Mas acredito que mulheres líderes serão cada vez mais frequentes. Somos tão competentes quanto os homens, e cada dia isso vai ficando mais claro para a sociedade. A próxima geração já vai encontrar um mundo com melhores divisões de trabalho, tanto em empresas como em casa. Fomos criados numa cultura machista que ainda levará muito tempo para enfraquecer, mas nós não vamos parar de lutar contra ela. Espero que num futuro não muito distante a mulher não seja colocada à prova em tudo que faz.”
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Simone Barcelos, 37 anos, de Porto Alegre, maquiadora, criadora da Escola Madre, em São Paulo
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Vantagens de ter mulheres no ambiente de trabalho
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1. Sabemos muito bem como ser multitarefa.
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2. Temos um olhar mais amplo e empático para as pessoas ao redor.
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3. Somos mais estudadas – preenchemos 60% das vagas brasileiras em universidades, como mostrou uma pesquisa do Inep, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, de 2015.
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4. Equilibramos melhor o trabalho e a vida pessoal.
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5. Somos mais acessíveis na hora de trocar ideias, já que as pessoas se sentem mais à vontade para conversar com mulheres.
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