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Empreendedora, cozinheira e com síndrome de Down

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Veja publicação original: Empreendedora, cozinheira e com síndrome de Down

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Por Marina Oliveira

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Uma semana antes da abertura do Bellatucci Café, uma cafeteria bistrô no bairro do Cambuci, em São Paulo, que abriu as portas em julho de 2017, Jéssica treinava persistentemente a própria assinatura, para não errar a mão ao firmar o contrato de abertura do negócio. Naquele dia ela se tornou uma das primeiras empreendedoras com síndrome de Down do país.

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“Desde criança eu gosto de cozinhar. Comecei ajudando a minha mãe. Eu não sabia mexer com faca, né? Mas colocava a mesa, fazia saladas e sucos”, conta. Hoje, em compensação, é a responsável, com muito orgulho, pelo carro-chefe do estabelecimento: nhoque de mandioquinha. “A gente serve com molho e bastante queijo no prato”, conta.

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Jéssica já vinha se preparando para se tornar uma mulher de negócios há anos. Ela estudou em colégio de formação de pessoas com Down e também escolas convencionais. Fez curso de cabeleireira, com duração de seis meses. “Me ofereceram emprego, mas eu já queria cozinhar”. Também estudou fotografia e trabalhou por um mês em uma farmácia, para pagar por uma máquina fotográfica. “Eu não gostava do trabalho, era muito parado, eu só arrumava prateleiras”, lembra.

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No Bellatucci, contudo, não há monotonia. Ela passa a maior parte do tempo na cozinha fazendo não só nhoque, mas também omeletes, quiches e bolos. A mãe auxilia na hora de levar os preparos ao fogo. Quando os quitutes não precisam mais de sua atenção, Jéssica vai para o salão. Ela adora recepcionar os clientes e tirar fotos com eles, que vão direto para o Facebook da empresa. “Eu fico muito feliz quando vão me ver”, fala.

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Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

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Investimento familiar

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Para realizar o sonho de ter seu próprio restaurante, a cozinheira usou as próprias economias. O dinheiro ela ganhou em apresentações de teatro e participações em eventos realizados pelo Instituto Chefs Especiais, uma ONG que promove a autonomia de pessoas com síndrome de Down.

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Mas a maior parte do investimento veio da família, que apostou no sonho da caçula. A irmã, Priscila Della Bella, 33, e o marido Douglas Batetucci, 30, são sócios de Jéssica, investiram no negócio o montante que usariam para comprar um apartamento. O imóvel onde funciona o comércio foi adaptado para ser cafeteria embaixo e a moradia do casal no andar de cima, para minimizar os custos com aluguel.

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Os pais Carlos e Ivania assumiram toda a mão de obra da reforma, compras e pesquisas de equipamentos e fornecedores. Já a ideia de decoração do local, em tons pastéis e com ares de casa de boneca, veio da própria Jéssica, que meses antes já reunia referências de revistas e visitava cafeterias por São Paulo.

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Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

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Emprego para colegas

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A jornada diária de Jéssica é de cerca de cinco horas. Às 14 horas ela deixa o local (que funciona até às 18h) para estudar. O plano é terminar o Ensino Médio em cerca de três anos e iniciar a faculdade de Gastronomia.

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Ao lado dela, no dia a dia da cafeteria, estão outros quatro colegas com Down, contratados em regime de freelancer. Philippe, amigo de infância de Jéssica, se orgulha de fazer um cappuccino bem espumado. Já Bárbara, é quem recebe os clientes e os convence a provar “a torta que a amiga Jéssica fez” quando entram pedindo apenas um cafezinho. Assim como a empreendedora, eles não passam o dia todo lá, fazem um rodízio de acordo com a própria agenda, que não costuma ser vazia. Além de cozinhar e estudar, Jéssica também faz aulas de zumba, muay thay e frequenta fonoaudióloga.

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Em dezembro de 2017, Jéssica foi eleita pelo Governo do Estado de São Paulo a Empreendedora com Deficiência do ano, recebendo o IV Prêmio Melhores Empresas para Trabalhadores com Deficiência. Desde então, ela precisou abrir mais espaço em sua agenda para palestrar em empresas e universidades sobre empreendedorismo. Quando perguntada o que fala, responde rapidamente:

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“Não faça bullying com portadores de síndrome de Down, porque nós somos capazes de fazer tudo.”

 

 

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