Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: Carla Salle: “Sou atriz porque sinto prazer em poder me livrar de mim, em ser quantas eu quiser”
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Em bate-papo exclusivo com Marie Claire, atriz fala sobre carreira, femininismo e sobre o futuro do Brasil
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Desde a primeira vez em que subiu ao palco, aos 9 anos, no teatro da escola em que estudava em Niterói, onde nasceu, Carla Salle diz ter sentido “o poder transformador da arte”, uma espécie de magia que, segundo ela, modifica para sempre o artista e seu público quando os dois interagem. Mudar é palavra de ordem para ela. “Nunca fui uma coisa só. Já tive fases punk, emo, de usar uniforme masculino na escola…”, lembra. “Sou atriz porque sinto prazer em poder me livrar de mim, em ser quantas eu quiser.” Aos 26 anos, já viveu papéis tão diferentes entre si quanto a prostituta arrivista Helô, de Babilônia (2015), e a artista engajada Maria, de Os Dias Eram Assim (2017). Este mês, Valquíria, uma química atormentada pelo passado, surge em Onde Nascem os Fortes, nova supersérie da Globo. E a atriz acaba de estrear o primeiro longa, o filme de terror Motorrad, de Vicente Amorim, cujas gravações foram na Serra na Canastra (MG).
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Mas a vontade de mudança em Carla vai além de sua vida pessoal e profissional. Ela sonha com um mundo e um país melhores, sobretudo para as mulheres. “Há uma onda conservadora muito forte tomando conta de quem nos governa, que está colocando para escanteio as mulheres negras, indígenas, os direitos sobre nosso corpo. Sinto necessidade de me colocar, de dar minha opinião”, afirma. “É pela política que a gente modifica as coisas. E acho que a forma como você vive já é um reflexo do que quer para o país.” Otimista com relação ao futuro, deposita esperança em si e em outras atrizes de sua geração. “As coisas agora não estão nada boas. Como disse Millôr Fernandes, ‘o Brasil é um país com um passado pela frente’. Mas vejo no movimento feminista um poder de luta que vai além das questões femininas e resiste contra o conservadorismo de modo geral”, analisa. Resistência, aliás, é o que têm em comum as atrizes que a acompanham neste ensaio de Marie Claire, segundo ela. “Somos parte de uma revolução. Cansamos da ideia de perfeição, aprendemos que ela nos oprime. Temos medos e defeitos como todo mundo.”
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Ao escolher os trabalhos, a atriz também exige uma dose de engajamento. “Tenho muito claro o que não quero fazer, que são papéis sem profundidade, rasos. Isso não me interessa.” Em Onde Nascem os Fortes, pode explorar os limites da loucura com Valquíria, “uma mulher perturbada, sensível e sempre à beira do abismo”. Ao lado do namorado, o ator Gabriel Leone, e de Alice Wegmann, forma um triângulo amoroso na trama. Carla espera, mais uma vez, poder tocar e transformar o público com o novo trabalho.
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