Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: “Fiquei tremendo por 5 dias”, diz Evan Rachel Wood sobre revelação de estupro
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Por Mariane Morisawa
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Abusada em duas ocasiões, a atriz Evan Rachel Wood encontrou a paz após revelar sua história ao mundo, numa sessão no Congresso americano para aprovar a lei que protege vítimas de violência sexual. Estrela da série Westworld, ela falou com exclusividade à Marie Claire
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A atriz Evan Rachel Wood, 30 anos, já foi estuprada duas vezes – uma por um ex-namorado e outra pelo dono de um bar. Em fevereiro, contou suas experiências em um emocionante discurso no Congresso americano, para ajudar a aprovar uma lei de proteção a vítimas de violência sexual. Sua jornada espelha a da personagem que interpreta na série Westworld, cuja segunda temporada estreia dia 22, na HBO. Dolores é uma criatura sintética, que vive num parque onde pode sofrer todo tipo de abuso por parte dos visitantes – até que um dia diz “chega”.
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Marie Claire Por que decidiu falar neste momento sobre os estupros que sofreu?
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Evan Rachel Wood Estava sentindo necessidade. Conheço a ativista Amanda Nguyen, estuprada em 2013, que fundou a Rise [ONG que pede proteção a vítimas de violência sexual] e escreveu a lei. Ela também é uma sobrevivente e me procurou pedindo apoio. Dar meu testemunho no Congresso foi uma das coisas mais aterrorizantes e devastadoras que já fiz. Mas, por causa do momento em que estamos, me pareceu que, se não falasse minha verdade agora, que diabos estaria fazendo?
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MC Qual foi o impacto de seu discurso?
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ERW Foi incrível. Somente cinco amigos eram testemunhas do que eu tinha vivido e, de repente, o mundo inteiro sabe. Pensar que não tinha mais de carregar esse peso sozinha e não precisava ter vergonha foi um alívio. Antes, receava falar, pois não sabia o que podiam pensar de mim. A reação tem sido muito positiva.
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MC Acredita que isso e movimentos como #MeToo e Time’s Up vão realmente provocar mudanças?
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ERW Sim, e já estamos começando a ver isso. Muita gente quer recompensa imediata, do tipo: “Ah, não acredito que ainda estamos falando desse tema”. A violência e o assédio ainda existem, então é claro que ainda estamos falando a respeito. E vamos continuar. Mesmo se não virmos todas as mudanças que queremos agora, estamos semeando para as próximas gerações. Nada aconteceu da noite para o dia, foram anos de opressão e silêncio até tudo explodir.
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MC Os produtores de Westworld tinham conhecimento de sua experiência quando escreveram o papel de Dolores?
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ERW Não! O que é bizarro, dada a coincidência. Contei para Lisa [produtora da série] na metade final da primeira temporada porque sabia que teria de fazer cenas que podiam ativar minhas experiências pessoais. Confiava nela e queria ter alguém no set que soubesse, caso eu tivesse dificuldade.
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MC Interpretar as cenas foi libertador?
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ERW Sim, de verdade. Foi difícil, mas muito empoderador. Fazer aquele monólogo para Ed Harris [que interpreta seu principal abusador] no episódio final, e ser espancada, mas levantar do chão… É difícil não passar pela mesma mudança que a personagem. A série é uma metáfora para muitas coisas, mas essa me pegou: encarar seu medo mais sombrio e profundo e, mesmo derrubada, levantar e se tornar ainda mais forte.
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MC Na série, parece que alguém tirou a tampa da opressão dos robôs e tudo explodiu. Acha parecido com o que houve no movimento #MeToo?
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ERW Com certeza! Foi assim que me senti após falar no Congresso. Fiquei tremendo por cinco dias, descarregando uma década de silêncio e trauma. Depois daquele dia, pela primeira vez não me senti mais sozinha. Pareceu que as algemas tinham sido tiradas dos meus pulsos – algemas que eu nem sabia que estavam lá.
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MC Onde encontra paz?
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ERW Encontrei a paz em mim mesma por ter sido forçada a descobrir uma maneira de sobreviver. Mas meu filho, de 5 anos [com o ator Jamie Bell], é quem me empurra adiante. Tenho de ser um exemplo para ele. Foi por essa razão também que fui ao Congresso. Quero que ele olhe para trás e pense que sua mãe acreditava em algo e fez o que achava certo, mesmo sendo perigoso. Não sei que mundo ele vai herdar. Mas acho que vamos precisar desse tipo de pessoa e quis que ele soubesse que tem voz, poder, que é possível. Então encontro paz em mim mesma e nele. E sempre que saio de Los Angeles [risos].
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MC Depois de viver experiências tão traumáticas, não fica achando que todos os homens são maus?
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ERW Não, de jeito nenhum! Tenho um filho, achar que todos os homens são maus seria terrível, por isso acredito muito nos homens. Esse debate todo é tanto sobre eles quanto sobre as mulheres. Gostaria que parássemos de pensar nisso como uma questão feminina. É trágico que homens estejam sendo criados para se tornarem abusadores. É sintoma de uma criança negligenciada, abusada, desumanizada. Por ser tão normalizado, ninguém está horrorizado por estarmos perdendo nossos meninos também.
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