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Veja publicação original: Não oficial, maçonaria feminina desafia a tradição da secreta instituição
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Por Léo Marques
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Um dos principais requisitos para se tornar membro da maçonaria, uma confraria secular, com pretensões filantrópicas e filosóficas, é ser homem. Porém, mesmo que lentamente e de maneira discreta, as mulheres vêm conquistando seu espaço dentro dela.
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A maçonaria tem origem na Idade Média e surgiu como uma irmandade de homens construtores (mason, em inglês, é pedreiro). Uma de suas características mais marcantes é a de que seus membros protegem uns aos outros. Os maçons tradicionais argumentam que a inclusão delas na instituição alteraria não somente sua estrutura, como suas regras e princípios (Landmarks), considerados imutáveis.
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Na maçonaria, em geral, esposas, filhas e mães de maçons atuam mais como apoiadoras, organizando voluntariamente ações sociais e beneficentes promovidas pelos homens ou como membros de instituições paramaçônicas, isto é, paralelas à comunidade maçônica e amparadas por ela.
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Existem diversas instituições desse tipo pelo mundo, para jovens e adultos, incluindo mulheres, cujos objetivos principais são o desenvolvimento de liderança, crescimento pessoal e a filantropia.
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“A Grande Loja Unida da Inglaterra, que é a regente da maçonaria universal, não reconhece lojas que aceitam mulheres”, comenta Fabiana de Luna, 34 anos, engenheira de telecomunicações e membro da instituição paramaçônica Ordem da Estrela do Oriente.
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O único modo de as mulheres tornarem-se de fato maçons é se ingressarem em ordens consideradas espúrias, ou não oficiais, como a “maçonaria mista” (que, além de mulheres, também aceita homens) e a “feminina” (exclusiva a mulheres).
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A primeira mulher maçom
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Conhecida no século 18 como a “senhora maçom”, a irlandesa Elizabeth St. Leger foi a primeira mulher a ser iniciada na maçonaria, aos 20 anos de idade. Tudo aconteceu depois que ela foi flagrada espionando uma reunião maçônica presidida por seu pai, que, sem saber ao certo o que fazer, a acolheu dentro da irmandade. No entanto, com o passar do tempo, Leger acabou expulsa e tornou-se um ícone apenas para as instituições independentes, não oficiais.
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Da Irlanda, o caso Leger percorreu o mundo todo e influenciou milhares de gerações femininas que passaram a questionar o patriarcalismo da maçonaria, principalmente em países europeus e nas Américas.
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Não reconhecidas, mas praticantes ativas
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No Brasil, a esteticista Lilian Buso Fernandes, 52 anos, que foi membro em uma loja mista, se diz influenciada por esse movimento. “Hoje estou afastada, mas fiquei na ordem por quase 30 anos e pude vivenciar a maçonaria em sua plenitude, o que é impossível na instituição tradicional, muito machista”, comenta.
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Lilian conta que na loja mista a qual frequentou por décadas, em Bauru, cidade no interior de São Paulo, os cargos, rituais, paramentos e estudos são iguais para homens e mulheres, sem distinção.
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“As mulheres não só são disciplinadas e compromissadas com os encontros e projetos, como têm acesso aos segredos da maçonaria e sabem guardá-los”, revela.
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Além disso, diferentemente do que ocorre na maçonaria tradicional, em que o homem precisa pedir a autorização da esposa para participar da ordem, na mista ou feminina a mulher é livre para tomar suas próprias decisões.
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Ainda segundo Lilian, nas instituições mistas, a faixa etária das seguidoras varia de 35 a 80 anos e o número delas chega a 60%. “Os homens que participam como membros, em geral, são maridos e familiares que apoiam essas mulheres ou visitantes da maçonaria tradicional, que gostam de nos espionar”, brinca.
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Para participar de uma ordem espúria, a via de acesso pode ser a mesma adotada pela maçonaria tradicional: por meio da indicação de um membro ou convite de uma loja maçônica. Havendo interesse, a comunidade investiga a vida da candidata, que é informada sobre suas responsabilidades e tem a conduta de vida avaliada.
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Ordens paramaçônicas femininas
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Preocupada com o liberalismo das instituições espúrias, a maçonaria regular então precisou agir para ter o apoio das esposas e familiares de seus membros, para não perdê-los. Em 1850, Robert Morris, grão-mestre do Estado de Kentucky, nos Estados Unidos, fundou uma das primeiras instituições paramaçônicas, a Ordem da Estrela do Oriente.
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Essa sociedade feminina cresceu muito desde então e atualmente está representada em todos os continentes, com cerca de 1,5 milhão de membros. “Não é uma religião nem uma sociedade feminista, muito menos uma maçonaria mista ou feminina”, informa o site da Ordem da Estrela do Oriente no Estado de São Paulo.
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“O trabalho ritualístico é diferente do que ocorre dentro da maçonaria, mas o objetivo é o mesmo, ou seja, buscamos nos desenvolver como pessoas e fazer o bem para a sociedade”, afirma Fabiana, que completa dizendo que a ordem é engajada com diversos projetos sociais e é contra qualquer tipo de intolerância sexual, religiosa ou racial.
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Para ser um membro da Estrela do Oriente, a mulher deve ter parentesco com um mestre maçom regular e ter mais de 18 anos. Homens são bem-vindos, desde que sejam mestres maçons regulares em suas lojas e se iniciem na ordem, assim como as mulheres. Além disso, eles podem até assumir cargos, embora a maioria seja destinada a elas.
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A organização dá suporte também às ordens paramaçônicas juvenis, como a do Arco-Íris e Filhas de Jó Internacional, destinadas para meninas e adolescentes.
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“Como fui criada dentro da Filhas de Jó, posso assegurar que nossos ensinamentos se baseiam na Bíblia Sagrada, mais especificamente no livro de Jó, que era um servo temente a Deus”, comenta a bióloga Aline Catalano, 29 anos, enfatizando que as meninas também discutem temas sociais diversos, de saúde da mulher, a conflitos internacionais e até patriotismo.
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Aline explica que fazem parte dessas ordens juvenis garotas entre 10 e 20 anos, descendentes diretas ou apadrinhadas de maçons. “Embora frequentemos o mesmo templo, não temos acesso ao ritual dos homens, mas temos os nossos próprios. Também contamos com cargos filosóficos e administrativos, como os de rainha, princesas, secretárias, tesoureira, guardiãs, e fazemos campanhas em escolas, ensinando e incentivando cada menina a ter autoestima e dar o seu melhor. É um nível de conhecimento muito especial”, finaliza.
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Opinião de um maçom tradicional
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“A maçonaria feminina ou mista, consideradas não oficiais ou espúrias pela maçonaria regular, dos homens, podem até cumprir com seu papel social, mas são malvistas pela comunidade maçônica oficial, muitas vezes pelo seu envolvimento com golpes e falcatruas envolvendo dinheiro”, diz Rafael Ferreira dos Santos, mestre maçom e membro da GLESP (Grande Loja Maçônica do Estado de S. Paulo).
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Segundo ele, hoje em dia, as ordens femininas não oficiais (maçonaria feminina ou mista) são abertas por maçons insatisfeitos, muitas vezes, com a administração financeira da maçonaria regular, da qual faziam parte. “O problema é que se este maçom abrir uma loja irregular e, por quaisquer motivos, aplicar um golpe em seus membros, não há como ninguém reclamar, pois nas ordens femininas não oficiais não existe um órgão regulador ou fiscalizador, como na maçonaria regular (tradicional e exclusiva dos homens)”.
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Ele explica que as mulheres e familiares do sexo feminino dos maçons frequentam as ordens paramaçônicas, que são amparadas pela maçonaria tradicional. “Elas recebem total apoio. Já quem frequenta maçonaria feminina ou mista não tem qualquer relação com a maçonaria tradicional”.
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Sobre o risco de golpe, Lilian Buso explica que os grupos que se dizem da maçonaria e anunciam convites nas redes sociais, por exemplo, não são confiáveis. “As ordens sérias só funcionam por indicação, parentesco ou apadrinhamento”.
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Fontes: grandecapitulosp.com; gosp.org.br; jobsdaughtersinternational.org e easternstar.org
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