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Veja publicação original: Gênios do Brasil #3: Suzana Herculano-Houzel e os mistérios do cérebro
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A terceira parte da série Gênios do Brasil, traz, dessa vez, uma “gênia”. A palavra pode não ser reconhecida pelos grandes dicionários e vocabulários da língua portuguesa, mas indica que vamos falar, obviamente, de uma mulher. Trata-se da neurocientista que se tornou a primeira brasileira a dar uma palestra no TED, a prestigiada série de conferências que reúne grandes nomes das mais diversas áreas do conhecimento para debater novas ideias.
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Especialista em neuroanatomia comparada, a cientista descobriu um novo método de contagem de neurônios no cérebro, a relação entre a área e a espessura do córtex cerebral e o número de dobras em sua superfície e descobriu que o tamanho enorme do cérebro dos seres humanos tem tudo a ver com o fato de termos aprendido a dominar o fogo e cozinhar alimentos. Segundo ela, se macacos parassem totalmente de comer coisas cruas, em 200 mil ou 300 mil anos eles poderiam ter uma massa encefálica quase igual à nossa.
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Gênios do Brasil: Suzana Herculano-Houzel
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Suzana Herculano-Houzel nasceu no Rio de Janeiro em 1972 e, com 19 anos de idade, se formou em Biologia Genética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. A partir daí, seguiu o rumo certeiro da neurociência, fazendo toda sua formação posterior fora do Brasil. Recebeu seu mestrado pela Case Western Reserve University, nos Estados Unidos; doutorado pela Universidade Pierre e Marie Currie, na França; e pós-doutorado pelo Instituto Max Planck, na Alemanha.
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Como nossa massa encefálica trabalha em momentos específicos de nossas vidas, como quando estamos apaixonados, preocupados, estressados, ou como tomamos nossas decisões?
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Ao retornar para o Brasil, Suzana decidiu fazer o que acabou tornando-a famosa: falar sobre ciência com as pessoas em uma linguagem que todos entendem. Primeiramente, criou um site para tratar do assunto além disso quando a internet engatinhava e, posteriormente, lançou livros e uma série de artigos científicos – que apareceram nas mais importantes publicações científicas do mundo – chegou até a escrever e apresentar uma série sobre neurologia na TV aberta.
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Suzana entende muito, obviamente, sobre as patologias neurológicas que afligem os seres humanos, mas o seu foco é em algo mais comum e até mais interessante: como o nosso cérebro funciona no dia a dia? Como nossa massa encefálica trabalha em momentos específicos de nossas vidas, como quando estamos apaixonados, preocupados, estressados, ou como tomamos nossas decisões e de que maneira tudo isso colabora com a nossa personalidade?
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Saída do Brasil
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Suzana Herculano-Houzel voltou a lecionar onde se formou, na UFRJ, onde igualmente foi chefe do Laboratório de Neuroanatomia Comparada. Porém, decepcionou-se profundamente com a falta de investimento do governo federal brasileiro nos estudos científicos e chegou a colocar dinheiro do próprio bolso para manter sua pesquisa na instituição pública. Até financiamentos coletivos – os famosos crowd fundings – foram usados pela cientista para arrecadar fundos e manter o funcionamento da instituição.
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Nos EUA, farei mais pela ciência do Brasil do que se ficar aqui.
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Porém, no ano de 2016, a neurocientista decidiu de uma vez por todas retornar para os Estados Unidas e tocar seus projetos lá: “Nos EUA, farei mais pela ciência do Brasil do que se ficar aqui”, alegou Suzana em uma entrevista na época. O interesse da Universidade Vanderbilt – a mesma que formou o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore – chamou atenção da cientista que foi para lá atrás dos recursos que o governo brasileiro negou.
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Descobertas (r)evolucionárias
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Suzana Herculano-Houzel descobriu muitas coisas sobre o nosso cérebro – não apenas o humano, mas de outros animais igualmente – e suas aferições foram (e além disso são, obviamente) de uma importância imensurável para a neurociência. Para começar, a cientista descobriu que o número médio de neurônios que temos em nossas massas encefálicas não é exatamente o que vinha sendo dito por aí. Em vez de 100 bilhões deles, Suzana descobriu que temos cerca de 86 bilhões de células responsáveis pela condução dos impulsos nervosos.
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Outro motivo para a nossa evolução intelectual foi o fato de não precisarmos mais termos que pensar tanto em como conseguir comida, visto que ela processada pelo fogo dura muito mais
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Sua teoria de que o cérebro humano é maior, e, logo, mais bem desenvolvido que de outros primatas e outros mamíferos, por causa da dieta que o Homo sapiens conseguiu há milhares de anos (com alimentos cozidos no fogo) agradou muito a comunidade científica. Segundo ela, essa dieta permitiu a ingestão de muito mais calorias – ou energia – pelos humanos, dando a nós esse supercérebro.
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Outro motivo para a nossa evolução intelectual foi o fato de não precisarmos mais termos que pensar tanto em como conseguir comida, visto que ela processada pelo fogo dura muito mais. O tempo que sobrou livre foi investido no desenvolvimento de outras habilidades extremamente importantes para o desenvolvimento do ser humano.
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Cérebro do homem vs. Cérebro da mulher
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Suzana Herculano-Houzel igualmente já revelou muitas outras curiosidades sobre o nosso cérebro e as verdadeiras diferenças entre homens e mulheres. Uma delas é que realmente as pessoas do sexo feminino têm maior capacidade de alternar tarefas, mesmo que o cérebro de homens e mulheres só consiga prestar atenção em uma coisa de cada vez. Segundo ela, isso pode acontecer por causa da maternidade – mãe precisam estar muito mais atentas a coisas diversas do que homens.
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Embora homens e mulheres tenham a mesma capacidade de se sentir excitados, as partes do cérebro do homem que controlam a motivação sexual precisam de muito pouco para ter estímulo
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Sobre outras diferenças, ela diz: “Uma delas é como nos situamos no espaço. Temos pelo menos dois sistemas complementares no cérebro. Um usa marcos visuais, como cartazes de loja. O outro usa direção e distância. Os dois funcionam em todo mundo. A diferença é que os homens tendem a se guiar por direção e distância; e as mulheres por marcos visuais. Então, quando você está no mato, ser capaz de se orientar por direção e distância é ótimo. Já quando está num shopping ou no centro da cidade, por exemplo, dar atenção a marcos visuais funciona mais”.
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No entanto, as maiores diferenças de fato estejam em como ambos os gêneros lidam com o sexo: “Embora homens e mulheres tenham a mesma capacidade de se sentir excitados, as partes do cérebro do homem que controlam a motivação sexual precisam de muito pouco para ter estímulo. Qualquer imagem vagamente relacionada a sexo já está valendo. Enquanto as mulheres, em geral, precisam de um estímulo mais direto ou elaborado”, afirma Suzana.
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Preferência sexual não é opção
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Em um artigo para a publicação Mente e Cérebro da Scientific American, a neurocientista afirma categoricamente, sem medo de errar: preferência sexual não é opção. Entrando em conflito com quem acha que o comportamento e o meio em que vive pode definir a sexualidade de um indivíduo, Suzana, portando todo o conhecimento que possui sobre o cérebro humano, diz:
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Suzana luta por um Estado laico de fato e para não ser considerada, como ela mesma afirma, “pior do que os outros” apenas por não acreditar em Deus
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“Toda a neurociência indica que a orientação sexual é inata, determinada biologicamente e antes mesmo do nascimento. Aliás, o termo correto para designar a heterossexualidade ou homossexualidade é ‘preferência’ sexual e não ‘opção’ sexual. A razão é simples: interessar-se sexualmente por homens ou mulheres é algo que seu cérebro faz automaticamente, pouco importando o que você pensa a respeito”.
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As polêmicas que envolvem a cientista não param por aí. Ela, como ateia, afirma se sentir discriminada por seu posicionamento religioso (ou melhor, não religioso). Envolvida em temas como o aborto, ela critica as justificativas extremamente envolvidas em religião que giram em torno dessas discussões. Suzana luta por um Estado laico de fato e para não ser considerada, como ela mesma afirma, “pior do que os outros” apenas por não acreditar em Deus.
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Girl power!
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Suzana Herculano-Houzel é um exemplo magnífico do que as mulheres podem fazer em absolutamente qualquer ramo, inclusive naquele que além disso são – infelizmente – dominados por profissionais do gênero masculino. Destacando-se em sua área com tanta capacidade (ou mais) que qualquer homem, a cientista foi capaz não apenas de descobrir informações cruciais para entendimento da neurociência, mas igualmente de se comunicar de maneira clara e acessível com quem não é especialista na área.
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Mais e mais mulheres a cada dia sentem-se mais confortáveis em seguir uma carreira nesses ramos e todos têm a ganhar com isso – elas, que ganham gradativamente o espaço que deveriam dominar desde sempre e todas as outras pessoas, que vão se beneficiar com todos os avanços incríveis da ciência proporcionados por elas.
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