Saiu no site O GLOBO:
Veja publicação original: Sem espaço ao assédio
Comunicação não violenta ajuda a estimular compaixão, respeito e empatia
POR MARIE BENDELAC URURAHY
Os sinais são inequívocos. Começam com elogios inoportunos, convites fora de hora ou brincadeiras “inofensivas”. Na sequência, vêm abusos os mais diversos. Todos provocam estragos, por vezes devastadores. Mas os tempos começam a mudar. Condutas impróprias no ambiente de trabalho deixaram de ser um assunto restrito às discussões internas nas empresas. Hoje, denúncias de funcionárias contra colegas e superiores, por conta de assédio e práticas abusivas, têm repercussão em escala global. E não estamos falando apenas de movimentos como Time’s Up e Me Too.
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Segundo a Organização Internacional do Trabalho, 52% das mulheres já sofreram assédio sexual, moral ou psicológico em algum momento de suas carreiras. As vítimas, no entanto, têm saído da redoma de silêncio que as mantinham aprisionadas. A comprovação dos abusos pode custar não só a carreira dos assediadores, como a própria reputação da companhia. Em resposta, uma importante ferramenta de combate a esse tipo de conduta tem sido cada vez mais utilizada por empresas e governos, ajudando a transformar o ambiente de trabalho: a comunicação não violenta (CNV).
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Desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, a CNV ajuda a reduzir conflitos e a estimular compaixão, respeito e empatia, valores essenciais nas empresas e nos relacionamentos de forma geral. A mudança começa por assumir que somos todos compassivos por natureza e que estratégias violentas — sejam verbais ou físicas — são aprendidas, ensinadas e apoiadas pela cultura dominante. Ou seja, em um ambiente que estimule a competitividade, a dominação e a agressividade, tendemos a nos comportar violentamente. Já em ambientes acolhedores e cooperativos, as pessoas tendem a agir com generosidade e respeito.
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Um dos principais agentes dessa transformação é o nível interno de confiança. Pesquisa feita pelo especialista em neurociência e neuroeconomia Paul Zak — publicada na revista “Harvard Business Review” — mostra que funcionários das empresas que estimulam a confiança no trabalho são 50% mais produtivos, 74% menos estressados e 76% mais engajados. Mas, para tanto, é preciso um bom ambiente de trabalho. Empatia, parceria e comunicação eficaz são instrumentos apropriados para evitar muitos desses problemas.
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Mesmo com os avanços conquistados nos últimos anos, a mulher é ainda o principal alvo de assédio em ambientes de trabalho. Afinal, o machismo é muito enraizado nos espaços corporativos. Nesse contexto, a CNV pode ser um modelo de transformação e de auxílio para pessoas e organizações, adotado com sucesso em mais de cem países. Em vez de rotular os colegas com expressões depreciativas, funcionários passam a empregar valores como tolerância e respeito.
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Daí a reconhecida importância da CNV. Ela ajuda as pessoas a lidarem com o outro, com o diferente e com as diferenças. É uma técnica fundamental para trazer níveis de consciência a quem pratica o assédio e, com isso, colocar fim a esta prática — e, especialmente, para quem sofre os abusos, poder identificar e sair desta situação.
Marie Bendelac Ururahy é coach e especialista em comunicação não violenta
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