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Veja publicação original: Jovem alvo de racismo no “Encontro com Fátima Bernardes” rebate críticas
Yasmim Stevam, 22, foi uma das convidadas do “Encontro com Fátima Bernardes” na última segunda-feira, 19. A jovem foi ao programa para contar uma experiência de racismo numa entrevista de emprego. Ela acredita que, na época, não tenha conseguido a vaga por preconceito contra seu cabelo e a cor de sua pele.
“Eu não tava entendendo muito bem, parecia que ela tava querendo acabar logo com a entrevista”, contou ela sobre o ocorrido para Fátima Bernardes. O programa rendeu centenas de comentários maldosos e de cunho racista sobre Yasmim na internet, mesmo ela tendo ido lá para expor justamente isso.
Nessa quinta, 22, Yasmim usou seu Facebook para rebater as críticas que recebeu e deu uma aula de representatividade.
Ela citou trechos de um discurso de Malcolm X, ativista negro americano, e continuou: “o problema não está em mim, não está na minha pele, não está no meu cabelo, não está em meus traços. O problema vem dentro de você, ser humano limitado, cheio de padrões pré-estabelecidos sobre mim, com base apenas na minha aparência”.
Yasmin ainda esclareceu algumas questões que geraram dúvidas após o programa. Leia os dois textos da jovem na íntegra:
Gostaria de esclarecer algumas coisas para aqueles que tem dificuldade de interpretação.
Primeira coisa: fui BEM clara e objetiva quando disse que não arrumei emprego por estar usando TRANÇAS! Na época em questão, eu usava tranças longas, não estava com o cabelo que uso atualmente. Vamos prestar atenção, ok?
Segunda coisa: Também disse que eu tinha um brechó online, com o qual eu já trabalhava há algum tempo. Não fui pedir emprego, fui contar sobre a minha experiência.
” Quem te ensinou a odiar a textura do seu cabelo? Quem te ensinou a odiar a cor da sua pele de tal forma que você passa alvejante para ficar como o homem branco? Quem te ensinou a odiar a forma do nariz e a forma dos seus lábios?? ”
Trecho de um dos discursos mais famosos de Malcoml X, palavras que fazem todo sentido pra mim, palavras que por muito tempo eu não entendi, mas que hoje consigo compreender.
E finalmente enxergar claramente que o problema não está em mim, não está na minha pele, não está no meu cabelo, não está em meus traços. O problema vem dentro de você, ser humano limitado, cheio de padrões pré-estabelecidos sobre mim, com base apenas na minha aparência.
Eu sou mais do que você vê, sou fruto da resistência e da luta de muitos. Sou fruto do sangue, do choro e do suor dos meus ancestrais. Sou aquela que causa desconforto aos seus olhos por estar em lugares que na teoria seriam seus.
A crueldade do racismo é escancarada, é tão cruel ao ponto de fazer com que seus próprios irmãos reproduzam atos racistas, faz com que um preto ache engraçado compartilhar falas e fotos com teor preconceituoso. O racismo envenenou tanto vocês, IRMÃOS PRETOS, ao ponto de não perceberem que ao compactuar com falas rudes, estão atacando vocês mesmos? Não deveria ser o momento em que nós todos estaríamos juntos?
Venho também agradecer pelo apoio recebido por meus irmãos que tem me defendido de maneira heróica, por todos vocês que de uma forma ou outra tem me “protegido” de tanta carga negativa. Vocês tem sido uma base de apoio, tem sido família, tem sido irmãos! Continuo lutando por vocês, seremos nós por nós sempre.
Por fim, agradecer a todos aqueles que têm tentado me diminuir e me desestabilizar. Tenho usado o racismo como meu combustível para encher o tanque dos meus projetos, usar os limões que você me deram para fazer uma grande limonada (Salve Beyoncé), seguir caminhos altos que tem me levado a lugares altos, continuar vendo meus trabalhos sendo divulgados em revistas como Vogue!
Sigo em constante evolução, em constante transformação! Que meu trabalho possa refletir e resumir minhas palavras.
Atenciosamente,
@y4sfelix, proprietária do @brechonofundinho