Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: Luiza Helena Trajano: Aceitar as diferenças pelo avanço do Brasil
A empresária fala sobre a dificuldade que brasileiros têm de respeitar opiniões divergentes da sua – e o quanto isso prejudica o avanço do país
Este é um ano muito importante para o Brasil, em que as expectativas estão voltadas para a retomada da economia, aumento de novos postos de trabalho, aquecimento dos negócios, permeados por uma agenda complexa de reformas necessárias, e uma eleição para os mais relevantes cargos. Diante deste cenário e de muitos fatos que vêm ocorrendo em nosso país, coloco-me a refletir sobre a nossa capacidade de respeitar todas as opiniões, principalmente as que são divergentes das minhas.
Confesso que tenho ficado preocupada com a divisão e o ódio que têm rondado o nosso país, frente aos acontecimentos políticos dos últimos anos. O que temos visto e presenciado em muitos setores são situações de intolerância e intransigência. Mais do que nunca, precisamos reaprender o sentido da coexistência pacífica. Sim, ela é possível e produtiva.
Precisamos urgentemente virar essa página, não queremos culpados nem heróis, não queremos mágoas. Ansiamos por um Brasil unido e trabalhando pela melhoria da vida de nosso povo. E isso está nas mãos da sociedade civil organizada, que deve assumir os destinos do nosso país.
Para a sociedade alcançar este estágio de maturidade, precisamos deixar de lado a intolerância. No ano passado, palestrei em um evento de estudantes brasileiros em Harvard e tive a oportunidade de aprender muito assistindo a uma palestra do diretor do MIT, Dan Shapiro, especialmente dirigido para os brasileiros. Ele nos confronta ao mostrar que o diálogo se desconecta no momento em que cada lado acha que está com a sua verdade, quando precisamos justamente do contrário, de um diálogo que conecta.
Shapiro nos fez pensar como encurtar as diferenças entre nós. Ideias são apenas ideias, mas elas se tornam conflito quando, o que ele nomeou de efeito das tribos, aparece, que tem três características básicas. A primeira é que todas as diferenças entre duas pessoas as tornam adversárias, uma contra a outra, é o conflito. Em segundo lugar, uma vez que esse efeito de mentalidade desses grupos surge, já se instala a presunção, a pessoa acredita que está certa, ou seja, o outro está errado naquele ponto de vista. Por último, ela é fechada, a pessoa defende a sua perspectiva até o fim e não quer escutar o outro.
Para lidar com esse efeito, Shapiro nos passou um conselho simples que é exercer a apreciação. Neste caso, significa entender qual a opinião moral ou o juízo que fazemos sobre o outro. Devemos nos perguntar sempre quão compreensivos estamos tentando ser. Apreciar o outro é, primeiro, querer entender os seus motivos. Não é necessário concordar com o que o outro está dizendo, mas escutar o que a pessoa tem a dizer e refletir profundamente se faz sentido, sem filtros, sem paradigmas, e isso é uma coisa muito difícil.
Não faltam pontos de convergência para nós, brasileiros. Temos um povo criativo, batalhador e empreendedor, um grande potencial econômico e um potencial de consumo que causa inveja à grande maioria dos países, além de uma natureza abençoada e generosa.
Só vamos construir um país melhor, o país que almejamos, na base do diálogo, sem rixas, sem cobranças de mágoas passadas e, principalmente, sem ódio. As pessoas que desejam o bem do Brasil precisam se unir, ouvir, apreciar o outro, equilibrar o pensamento e trocar de papel com a outra pessoa. É preciso exercer a empatia.
A grande maioria das pessoas quer o bem, às vezes pensando caminhos diferentes, mas o diálogo fará total diferença para atravessarmos um ano eleitoral e de retomada da economia, em que a prioridade seja o melhor para o país e toda a sociedade.
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