Saiu no site MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: Gal Barradas: A sua ética, a ética da empresa onde você trabalha e o seu futuro profissional
Em sua nova coluna, Gal Barradas fala sobre a importância de levar em conta princípios básicos na hora de ingressar em uma empresa
O ser humano está se sentindo engrandecido em relação aos seus pares. Isso tem um lado não muito bom, que descrevo a seguir.
Milhares, milhões de discussões pululam. Ocorrem continuamente, em qualquer lugar, por meio de um aparelho que cabe na palma da mão.
Podemos a qualquer momento perturbar a ordem, um descanso, uma mente querendo sossegar, podemos nos colocar e colocar o outro em guerra. Quando se perde a moldura de tempo e espaço, as coisas saem da ordem, pois essa onipresença traz uma sensação de onipotência.
A tecnologia nos trouxe inúmeras coisas boas, mas, como ocorre com todo poder, é preciso saber usá-la. Quando há excesso, a natureza deixa de responder. Não dá mais conta de tanta coisa.
Temos novos poderes, mas esquecemos que isso nos traz novas responsabilidades. O jeito de lidar com o outro é a principal delas.
Exatamente pelo fato de que nosso alcance e nosso poder se ampliaram tanto é que precisamos voltar a priorizar valores básicos, como o respeito, a tolerância e a ética.
Ética é uma palavra que se baseia em outra: fidelidade, pois é um conjunto de normas aceitas por um determinado grupo de pessoas que convivem. Existe a ética de um sistema, a ética de uma profissão, a ética de um povo.
A ética existe na relação com o outro.
Mas e uma empresa, como lida com a ética?
Uma empresa é feita de gente, com as mesmas responsabilidades sociais que eu e você. Como cidadão, ninguém pode se esconder atrás de um logotipo.
Por isso, se já ficamos atrapalhados ao ter de gerir todos os estímulos de um mundo em rede e as relações como indivíduos, imagine num ambiente complexo como o das empresas, em que as pessoas necessariamente precisam se alinhar para atingir um objetivo comum. E se a empresa não for clara quanto à sua própria moral? Como os funcionários devem agir?
É importante que a ética de uma empresa seja clara. Ela não pode ser subjetiva. Uma empresa em que um conjunto de princípios apresentado em um PowerPoint ou afixado na parede tenha um significado para uns e outro significado para outros está em risco.
O risco de se apoiar em julgamentos, politicagens, desestruturando equipes, cadeias inteiras e criando uma falsa hierarquia de poder, baseada em comportamentos individuais. Falsos empoderamentos.
Uma grande empresa é aquela em que os princípios nem sequer precisariam estar escritos em algum lugar. Os comportamentos aceitos e os condenados são tão claros que as pessoas são capazes de identificá-los com evidente naturalidade. De qualquer maneira, é sempre bom escrevê-los em pedras, para que o esquecimento ou o mal-entendido não tenham lugar.
Um conselho que sempre dou para profissionais que já têm alguma experiência é: não busque apenas um emprego, busque um ambiente em que imperem valores que casem com os seus. As chances de desenvolver um trabalho de mais qualidade, mais produtivo e com melhores resultados serão muito maiores.
Sei que estamos em uma crise e que, às vezes, é difícil fazer escolhas, pois a sobrevivência fala em primeiro lugar. Mas, sempre que possível, pense que ética – a sua ética e a ética da empresa onde você trabalha – é um importante patrimônio para o seu currículo e, principalmente, para a sua vida.
Gal Barradas é publicitária, baiana, casada e mãe de gêmeos. Foi a primeira e única mulher a entrar para o ranking dos 10 publicitários mais admirados do país, é co-CEO da agência BETC/Havas e vice-presidente da ABAP (Associação Brasileira das Agências de Publicidade).
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