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Veja publicação original: Feministas indicam 5 livros essenciais de Simone de Beauvoir
Nascida em 1908, ícone do feminismo completaria 110 anos nesta terça
Em um momento em que o feminismo se renova e conquista as novas gerações, as ideias deSimone de Beauvoir nunca estiveram tão atuais (e requisitadas). A filósofa e escritora teve uma influência decisiva na teoria feminista — e também deixou suas marcas no existencialismo. Nascida no dia 9 de janeiro de 1908, em Paris, ela completaria 110 anos nesta terça.
Quanto mais o tempo passa, mais seus conceitos se mostram essenciais para compreender o mundo que nos cerca. Para quem quer descobrir a obra dela, mas não sabe por onde começar, pedimos a cinco feministas indicarem livros da filósofa existencialista que fizeram a cabeça delas.
“Os mandarins” (1954)
Sessenta e três anos após seu lançamento na França, “Os Mandarins” continua sendo um livro desconcertantemente atual. Fundamental para compreender a gênese do pensamento progressista e apontando alternativas de como se mover politicamente diante do crescente fascismo da sociedade no século XXI. E a resposta de Simone não é óbvia – está nos afetos que se constrói para se resistir ao horror.
* Roteirista e escritora, autora do livro de contos “Vaca e outras moças de família” (Editora Patuá)
“Por uma moral da ambiguidade” (1947)
É um que veio antes de “O Segundo Sexo”. O pequeno ensaio de Beauvoir é uma pérola existencialista. A questão fundamental do livro é a liberdade. Em termos existenciais, a liberdade é tanto positiva quanto negativa. Somos seu efeito. Estamos lançados nela para o bem e para o mal. Viver a liberdade só é possível quando se sustenta a do outro. Esse é o desafio que o livro propõe e que é válido ainda para a nossa época.
* Marcia Tiburi é graduada em filosofia e artes e mestre e doutora em filosofia (UFRGS, 1999).
“O segundo sexo” (1949)
A filósofa existencialista francesa Simone de Beauvoir entra para a história da filosofia como a primeira pensadora a indicar não haver roteiros de subjetivação para contemplar a constituição da mulher como sujeito. Até 1949, havia apenas duas possibilidades: as mulheres estavam impedidas de se tornar sujeitos; as mulheres deveriam seguir o roteiro que formava sujeitos homens e as relegava ao lugar secundário de “outro do homem”. Por isso, é possível dizer a frase “não se nasce mulher, torna-se mulher” é a tradução feminista de “a existência precede a essência”, máxima do existencialismo francês daquele momento.
* Carla Rodrigues é Professora de Ética do Departamento de Filosofia da UFRJ, mestre e doutora em Filosofia (PUC-Rio), e pesquisadora da teoria feminista
“A mulher desiludida” (1967)
Ao tematizar velhice, infidelidade, solidão, culpa e ingratidão, os três contos que compõem A mulher desiludida denunciam como os papéis destinados a homens e mulheres fazem das relações interpessoais lugares de subjugação feminina. Lendo agora, é significativo notar como a realidade daquelas mulheres de 50 anos atrás ainda se parece bastante com a nossa.
*Maria Clara Dunck é mediadora do clube de leitura Leia Mulheres Goiânia
“Memórias de uma moça bem-comportada” (1958)
“Memórias de uma moça bem-comportada” é um título que se choca contra o nome da própria autora: Simone de Beauvoir. A fina ironia é uma franca provocação à redoma sob a qual uma mulher era (e ainda é) criada nas sociedades construídas pelos os homens, para os homens. Seu primeiro livro de memórias é uma espécie de romance de (de)formação. Simone narra tanto sua educação moral e religiosa, quanto os desvios que a levariam a tornar-se quem ela viria ser: uma escritora, filósofa e feminista de primeira grandeza.
* Antonia Pellegrino é escritora e roteirista, cofundadora do blog “Agora é Que São Elas”
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