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Eleita “palavra do ano” de 2017, o feminismo está no ar

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Veja publicação original:   Eleita “palavra do ano” de 2017, o feminismo está no ar

 

Busca pelo termo no dicionário Merriam-Webster subiu 70% em relação ao ano passado, impulsionado pelas marchas de mulheres e pelas denúncias de assédio sexual

 

Katia Guimarães
14 de dezembro de 2017, 00h06
   

2017 foi marcado pela luta pelos direitos das mulheres e por denúncias de assédio sexual envolvendo poderosos de Hollywood. Não à toa, o dicionário Merriam-Webster elegeu “feminismo” como a palavra do ano, após constatar um aumento de 70% nas buscas pelo termo em seu site e aplicativos em relação ao ano passado. O interesse pela palavra foi impulsionado pelas marchas de mulheres, por novos programas de TV e filmes que pregam o empoderamento feminino e pela série de notícias sobre agressões sexuais e assédio.

O dicionário mais popular entre os norte-americanos define o feminismo como “a teoria da igualdade política, econômica e social dos sexos”, ressaltando que é também a “atividade organizada em favor dos direitos e interesses das mulheres”. A primeira definição, postada pelo próprio Noah Webster, um dos criadores do dicionário, era algo como “Qualidade das fêmeas”.

buzz em torno do feminismo começou nos EUA, onde a Marcha das Mulheres ocupou as ruas em diversas cidades do país contra o presidente Donald Trump e pelos direitos das mulheres e se espalhou pelo mundo. Vestidos de malhas rosas em referência às afirmações machistas de Trump, os organizadores denunciavam que os direitos das mulheres estavam sob ameaça após a eleição do direitista para a Casa Branca. O movimento levou ao primeiro pico da pesquisa na internet pela palavra ‘feminismo’, que foi crescendo ao longo do ano.

As buscas pelo termo dispararam quando Kellyanne Conway, conselheira do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que era difícil considerar-se feminista porque não era “anti-homem” e “pró-aborto”

Outros episódios também fizeram aumentar o interesse pela palavra feminismo. Segundo o jornal The Washington Post, as buscas pelo termo dispararam quando Kellyanne Conway, conselheira do presidente dos Estados Unidos, disse que era difícil considerar-se feminista porque não era “anti-homem” e “pró-aborto”. Produções como o filme Mulher-Maravilha e a série de televisão The Handmaid’s Tale, que reforçam o empoderamento feminino, também fizeram aumentar o interesse pelo tema. “A palavra estava no ar”, disse Peter Sokolowski, editor do Merriam-Webster.

Por fim, as centenas de casos de assédio sexual no mundo do cinema, reveladas nos últimos meses do ano, completaram o interesse pelo tema e ajudaram o feminismo a se tornar o assunto mais discutido de 2017.  As revelações, que atingiram em cheio o megaprodutor de Hollywood, Harvey Weinstein, tiveram um efeito dominó. Cada vez mais mulheres ficaram encorajadas em denunciar suas próprias histórias, chamando atenção para um tema sério na sociedade atual. A onda de acusações de assédio sexual fez ressurgir a hashtag #MeToo –#EuTambém em português– que também se espalhou como pólvora.

Na França, a hashtag escolhida para denunciar situações de assédio sexual foi #balancetonporc, que pode ser lida como “delate seu porco”. Enquanto isso, no mundo hispânico, a luta contra o feminicídio difundia a tag #NiUnaMenos (Nenhuma a Menos), criada na Argentina após uma série de assassinatos de mulheres.

O movimento contra o assédio levou a revista Timeestampar em sua capa cinco mulheres símbolos da campanha como “pessoa do ano”: a atriz Ashley Judd, primeira a denunciar Weinstein, a cantora Taylor Swift, a lavradora Isabel Pascual (pseudônimo), a lobista Adama Iwu e a ex-engenheira do Uber Susan Fowler. Na Time, elas foram chamadas de “silence breakers” (“romperam o silêncio”), “as vozes que lançaram um movimento”.

O conceito de feminismo é o reconhecimento da igualdade de direitos entre homens e mulheres. Independente de ser dominado como tal, historiadores feministas veem qualquer movimento que lute pelos direitos das mulheres como feminista. Um dos marcos ocorreu em 1791, quando a francesa Olympe de Gouges lançou a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, afirmando que, além dos homens, as mulheres também seriam titulares de direitos naturais. O documento foi um contraponto à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, resultado da Revolução Francesa, que retratrava a relação entre homens e mulheres como patriarcal. Dois anos depois, a ativista Olympe foi parar na guilhotina, e o parlamento francês concedeu o direito de voto aos homens e rejeitou a proposta de igualdade política entre os sexos.

Desde então, vários fatos marcaram a luta e a conquista dos direitos das mulheres. Em 1857, 129 operárias de Nova York, que reivindicaram redução da jornada, melhores salários, pois recebiam menos de um terço do salário dos homens, e o direito à licença-maternidade, morreram queimadas numa fábrica têxtil pela força policial. A morte delas foi um dos eventos que levaram à criação do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março.

Um dos marcos do feminismo ocorreu em 1791, quando a francesa Olympe de Gouges lançou a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, afirmando que, além dos homens, as mulheres também seriam titulares de direitos naturais

No Brasil, a historiadora e pesquisadora Glaucia Fraccaro aponta a Greve de 1917, considerada a primeira paralisação geral do país e um marco na luta em defesa dos direitos dos trabalhadores, como o ponto de partida para o protagonismo das operárias nas primeiras leis nacionais essencialmente feministas. Em sua tese Os Direitos das Mulheres – Organização Social e Legislação Trabalhista no Entreguerras Brasileiro (1917-1937), Glaucia estudou a relação entre o movimento operário e as lutas das mulheres no país.

No trabalho Anarquismo e Feminismo: as mulheres anarquistas em São Paulo na Primeira República (1889 -1930), Samanta Colhado Mendes afirma que as mulheres não foram meras coadjuvantes na teoria e prática anarquista e lutaram pela emancipação feminina, mostrando a opressão expressa na vida cotidiana e no trabalho, principalmente nas fábricas da república velha. “O feminismo não pode estar separado da “luta de classes” e da ideia de luta pela construção de uma sociedade anárquica, onde igualdade e liberdade, assim como a vida comum entre todos os indivíduos, estariam presentes não só no discurso”. As anarco-feministas propõem uma moral libertária oposta à moral burguesa, que oprime a mulher em todos os sentidos e incidem de maneira extremante perversa sobre a mulher trabalhadora.

Para ilustrar a história do feminismo no mundo, o site do Le Monde publicou a história do feminismo em quadrinhos produzido por Anne-Charlotte Husson, doutora em ciências da linguagem na Universidade Paris 13 e anfitriã do blog “Gênero!”, e o cartunista Thomas Mathieu, autor do Projeto tumblr Crocodiles. Para saber mais sobre o significado do feminismo, leia o texto Feminismo para Leigos, publicado na Carta Capital, em que Clara Averbuck aborda o termo com didática.

É bom lembrar que, bem antes da escolha da palavra, o Socialista Morena enxergou a tendência antes e nomeou uma de suas seções como Feminismo, por entender que este é um assunto que interessa a cada vez mais mulheres no planeta.

 


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