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Veja publicação original: Único centro de referência à mulher da zona leste continua fechado
Prefeito regional pretende reabrir local em espaço dentro de uma universidade
Com apenas um ano de funcionamento, o Centro de Referência da Mulher de São Miguel Paulista, no extremo leste da capital paulista, foi fechado em fevereiro deste ano devido a um impasse entre a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania e a AMZOL (Associação de Mulheres da Zona Leste), órgão responsável pela manutenção do local.
Com a função de prestar assistência a mulheres vítimas de violência doméstica, o CRM Onóris Ferreira Dias, localizado na rua Pedro Soares de Andrade, foi o quarto Centro de Referência da Mulher aberto na cidade de São Paulo. Ao todo, foram realizados cerca de 4.000 atendimentos, nos últimos 12 meses, incluindo atendimentos individuais, telefônicos, distribuição de guias, cursos e oficinas.
Com o fechamento do local, centenas de mulheres de São Miguel Paulista e região, que necessitam de assistência e atendimento, encontram-se desamparadas.
Mirian Barbosa, 53, que sofria violência física e psicológica do ex-companheiro, diz que graças ao CRM ela foi ouvida pelo poder público, pela primeira vez, e conseguiu fazer o processo contra o agressor avançar.
“Quando o centro fechou, eu cheguei a perder as esperanças e a vontade de viver. Se a mulher não for acompanhada por um centro como esse, ela não tem valor nenhum no Ministério Público; não há uma prioridade”, desabafa. Miriam era atendida no local e, desde então, tornou-se oficineira voluntária no CRM de São Miguel.
Segundo a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, foram constatados diversos problemas nas prestações de contas, e a própria Associação, ao término do convênio, não manifestou interesse em prorrogá-lo.
Cida Lima, 66, fundadora e presidenta da AMZOL, alega que os documentos necessários para a continuidade do CRM foram assinados em dezembro de 2016 no Conselho de Políticas Públicas para as Mulheres e que as irregularidades citadas pela assessoria dizem respeito à falta de emissão de notas fiscais por parte de alguns fornecedores.
“Alguns pequenos gastos foram pagos em dinheiro, mas tudo foi posteriormente corrigido. Não tivemos gastos indevidos”, afirma Cida. Ela também informa que essas despesas eram feitas para garantir a alimentação para as próprias funcionárias do CRM e, ocasionalmente, para as mulheres que eram atendidas lá (e que iam para o centro direto da delegacia ou de hospitais, sem se alimentar).
“Sei da necessidade deste trabalho e o serviço foi uma vitória para o movimento de mulheres da região. Entretanto, fomos praticamente colocadas para fora do CRM no começo deste ano, sem nenhuma conversa”, comenta.
Nos últimos meses, foram feitas solicitações na Prefeitura Regional de São Miguel Paulista para a reabertura da casa. A Secretaria informa que vem se empenhando para reabrir o CRM “em um futuro próximo”.
Uma das alternativas, que está em análise pelo prefeito regional Edson Marques, é a reabertura do centro em um espaço dentro da Universidade Cruzeiro do Sul (a 2 km do antigo endereço).
Para tanto, são estudadas formas de obtenção dos recursos necessários. O CRM, contudo, continua com os portões fechados. E as mulheres, por sua vez, permanecem vulneráveis à violência doméstica sem a devida assistência.
CASOS
O estado de São Paulo registra um caso de feminicídio a cada quatro dias, sendo que as cidades do interior têm, pelo menos, três vezes mais casos registrados do que a capital paulista. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública.
Além disso, um estudo realizado recentemente pela Fundação Thomson Reuters (empresa multinacional de tecnologia e comunicação) com 380 professores, formadores de opinião e ONGs que defendem os direitos femininos, apontou que a cidade de São Paulo foi considerada, ao lado de Nova Déli (capital da Índia), a pior metrópole em violência sexual contra mulheres no mundo.
Embora não existam dados sobre a violência contra a mulher em São Miguel Paulista, especificamente, Cida Lima, que há 30 anos atua em prol do movimento de mulheres, confessa ter ficado angustiada após toda a situação envolvendo o CRM do bairro.
“Acho que falta um pouco de solidariedade entre as próprias mulheres. Eu gostaria que o movimento acordasse desde o começo [em fevereiro], mas demoraram meses para que o nosso grupo se posicionasse contra o fechamento do CRM. O resultado disso é esse que vocês estão vendo…”, conclui.
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