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Ai Weiwei acha preocupante censura às artes no Brasil

Saiu no site MARIE CLAIRE:    

 

Veja publicação original:  Ai Weiwei acha preocupante censura às artes no Brasil

 

Em São Paulo para acompanhar a apresentação de seu documentário “Human Flow”, que retrata a crise de refugiados, um dos artistas contemporâneos mais importantes do mundo, Ai Weiwei fala sobre a censura no país e participa de manifestação no Masp

 

A censura às artes no Brasil é algo preocupante. Essa é a opinião do artista chinês Ai Weiwei sobre os recentes episódios ocorridos no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), condenado pela opinião pública por não ter impedido que uma criança, acompanhada por sua mãe, se aproximasse de um performer nu; e o cancelamento da mostra Queermuseu, no Santander Cultural, em Porto Alegre, por supostamente fazer apologia à pedofilia e à zoofilia. “Sei desse ataque à liberdade de expressão e acredito que esse tipo de reação é sempre um sinal à sociedade de que podem ocorrer mudanças políticas retrógradas dramáticas”, diz ele. “Usar razões religiosas, morais ou princípios para atacar a arte é sempre um sinal de que um momento muito perigoso pode se aproximar. Lamento que isso esteja acontecendo também no Brasil, como em outras partes do mundo.”

Um dos mais importantes (e famosos) artistas contemporâneos do mundo, Ai Weiwei está no Brasil para acompanhar a exibição de seu documentário, Human Flow(fluxo humano), na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O chinês também foi responsável pela imagem que ilustra o cartaz do festival, mostrando duas mãos se cumprimentando.

 

 
No filme de mais de duas horas, Ai Weiwei retrata o drama vivido por refugiados de países da África e do Oriente Médio, numa das mais dramáticas crises migratórias desde as duas grandes guerras, no século 20. “Comecei a pensar neste documentário quando ainda estava na China, em 2015, mas, como não podia viajar [por proibição do governo chinês], mandei minha equipe ao Iraque para acompanhar os refugiados desse país”, conta Weiwei. Morando em Berlim (Alemanha) há três anos, o artista se engajou na tentativa de chamar a atenção para esse problema, realizando instalações com coletes salva-vidas abandonados pelas pessoas que chegam à Europa pelo Mar Mediterrâneo. No documentário, o chinês acompanha a entrada desses migrantes na Itália e na Grécia e sua difícil travessia rumo a países como Alemanha e França – que inclui meses vivendo em situação insalubre em campos de refugiados e até mesmo a proibição de ficar em território europeu.

 

O longa também visita os países de onde vêm a maior parte desses personagens, fugindo da guerra, da fome, da seca ou de perseguições políticas, entre outros motivos, entre eles, Síria, Sudão do Sul, Iraque e Afeganistão. “Eu tinha curiosidade em entender como mais de 64 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas e as imagens que vi, tanto de refugiados ou dos que estão vivendo em fronteiras, e o tratamento que a Europa dá a elas, me deixou muito chocado, por isso, resolvi registrar e fazer um filme”, explica Weiwei. “Depois de ver essas pessoas de perto, conclui que isso pode acontecer com qualquer um e não tenho esperança de que melhore, porque o mundo deu uma guinada à direita, que é conservadora e não se importa com os refugiados.”

 

 

Apesar de viver em uma situação completamente diferente e “privilegiada”, segundo ele próprio, o chinês é também um tipo de refugiado, já que não pode voltar ao seu país pois pode ser preso por criticar o governo da China. “Nasci em 1957 e, neste mesmo ano, meu pai [o poeta Ai Qing] foi mandando para um tipo de campo de exilados por 20 anos para trabalhos forçados apenas por ser poeta. Então, eu cresci em condições bem difíceis”, lembra ele. “Em 1981, fui para os Estados Unidos sem nenhum dinheiro e sem falar inglês para tentar viver de arte. Vivi ali sete anos como imigrante ilegal. Depois que voltei à China e tive um filho, decidi que tinha de sair de lá porque não queria que ele crescesse com a possibilidade de seu pai ser preso ou desaparecer a qualquer momento. Então, de certa maneira, me sinto um refugiado, porque não posso voltar ao meu país, não falo alemão mas, é claro, minha condição é muito privilegiada, porque vivo dos meus trabalhos artísticos.”

Ai Weiwei duranet protesto contra a censura no Museu de Arte de São Paulo (Masp) (Foto: Reprodução Instagram)
Ai Wei Wei aproveitou sua passagem pela capital paulista para ir ao Museu de Arte Moderna de São Paulo que abre, nesta quinta, a mostra Histórias da Sexulidade, reunindo obras de diversos períodos e criadores sobre sexualidade e erotismo. A exposição teve classificação indicativa de 18 anos, para impedir que alguns trabalhos fossem excluídos ou “escondidos” por supostamente serem impróprios para menores. Em razão da polêmica em torno do tema, diversos artistas realizaram uma manifestação em frente ao museu, da qual o chinês fez questão de participar.

Confira as datas de exibição de Human Flow no site da Mostra

Assista ao trailer de Human Flow

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