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Veja publicação original: Mãe (in)comum: Seu filho pinta as unhas?
Mãe de um casal de gêmeos de dois anos, a editora-chefe Laura Ancona discute diferenças e estereótipos de gênero na infância
Um dos meus rituais de beleza preferidos é ir, uma vez por semana, ao salão do bairro fazer as unhas. Trabalho o dia inteiro, eventualmente tenho eventos à noite e tento arranjar tempo para me exercitar. Por isso, sempre que posso, carrego meus gêmeos comigo – seja para um almoço com as amigas, ou para ir ao cabeleireiro. Eles se divertem e aprendem a se comportar em diversos ambientes, o que acho uma grande vantagem, principalmente quando não tenho babá 100% do tempo.
Como todo nenê de dois anos, Raul e Teresa reproduzem o comportamento dos pais, dos professores, dos avós, dos amiguinhos… ao me verem pintar as unhas, começaram a pedir para fazer o mesmo. Não vejo nenhum tipo de problema: escolho um esmalte hipoalergênico, os deixo ficar uns dois dias com a cor, e depois removo sem maiores questões. Eles adoram e ir ao salão se tornou um programa que anseiam: pensam antes na cor que vão escolher e fazem a maior bagunça com os funcionários, que os adotaram como mascotes. Todo mundo se diverte.
Teresa costuma preferir o rosa, embora eu nunca na vida tenha pintado dessa cor. Já Raul alterna entre o preto e o vermelho, seu favorito. A cada semana ele escolhe um mais vibrante e corre para mim, todo feliz, para mostrar o vidrinho da vez. Nunca pensei muito a respeito – para mim, não há o que pensar –, mas passei a ser abordada na rua, no elevador e até na escola (construtivista e moderna) sobre meu menino usar esmalte. Mais do que isso: esmalte vermelho. Recebo olhares tortos e de reprovação. Já cheguei a ouvir “tadinho dele”, “como você deixa?”, “o pai não fica bravo?”.
Fiquei perplexa. Nunca pararam para me perguntar o mesmo sobre Teresa. Com um casal em casa, pude notar as diferenças de gênero entre eles desde cedo: Teresa é mais comunicativa, Raul mais forte; ela come menos e devagar, ele bate um pratão em três minutos. E é só. Não há preferência genética por cor, roupa, esmalte. Se Raul quiser pintar as unhas, ele vai pintar. Se decidir vestir rosa ou usar maquiagem, idem. Acredito piamente que desmontar estereótipos é minha função como mãe. E deixá-los à vontade para ser o que quiserem, o melhor caminho para a felicidade deles.
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