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Veja publicação original: 10% das mulheres denunciam seus agressores
Mulheres suportam a violência caladas por medo de represálias, existência de filhos e dependência financeira, aponta a delegada Sandra
Dado foi apresentado em curso promovido pela Deam para a qualificação do atendimento a vítimas de violência
Uma em cada cinco mulheres declara espontaneamente ter sido vítima de algum tipo de violência no país, aponta estudo da Fundação Perseu Abramo. Por outro lado, levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que apenas 10% das mulheres denunciam seus agressores. Entre os motivos está o medo de represália, existência de filhos e dependência financeira. O resultado é a manutenção de um ciclo de sofrimento. Ainda de acordo com a instituição, em 87% dos casos, o autor do crime é o marido ou o companheiro.
Mesmo existindo uma chamada “cifra negra”, ou seja, os fatos que não chegam ao conhecimento das autoridades, os índices da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP/RS) são estarrecedores. Somente em 2016, foram registradas 1.425 ocorrências de estupros, 22.595 de lesão corporal e 41.118 de ameaças. No período, foram consumados 96 femicídios, além de outras 263 tentativas. Os números dos anos anteriores também chocam, mesmo que na comparação de 2016 com outros períodos tenham sido registradas quedas.
Esses dados integraram apresentação da responsável pela Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) de Montenegro, Cleusa Spinato, durante o “Curso de aperfeiçoamento a mulher vítima de violência”, promovido pela instituição nessa terça-feira, na Central de Polícia Civil do Vale do Caí. Participam do encontro, além de agentes da polícia civil daqui e de outras regiões, representantes da Brigada Militar e da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe). “O atendimento a mulher e também as crianças vítimas de violência é muito importante. Por isso, buscamos a qualificação constante do nosso pessoal”, comenta
A delegada iniciou os trabalhos falando sobre a Lei 11.340 de 2006, a Lei Maria da Penha. Ela avalia essa legislação, embora não a considere perfeita, como um marco na defesa do público feminino. Antes, embora pareça difícil de acreditar, era comum o agressor assinar um termo circunstanciado e pagar cestas básicas. “Isso não existe mais”, comemora.
Ao todo, são cinco formas de violência contra a mulher: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. “A violência psicológica é a mais comum e a mais difícil de ser denunciada, muitas vezes, a mulher nem percebe que está sendo agredida”, comenta a delegada Cleusa.
O delegado regional, Marcelo Farias Pereira, lembrou a importância da atenção especial às vitimas. “O nosso enfoque é o atendimento, receber a pessoa da forma mais atenciosa e carinhosa possível para amenizar esse sofrimento”, disse. A torcida é para que a qualificação do serviço incentive as vítimas a deixarem de sofrer caladas.
O curso segue na manhã de hoje. As palestrantes serão a psicóloga Fabiane Moraes e a promotora de Justiça em Montenegro, Graziela Lorenzoni.
Rede de enfrentamento e Casa Abrigo Filhas de Maria
Ainda durante a manhã de ontem, a presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres (Comdim), Carliane Pinheiro, a Kaká, falou sobre a rede de proteção às vítimas de violência doméstica existente no município. As diversas instituições realizam reuniões de trabalhado, ações e palestras visando a capacitação para prestar o melhor serviço possível. Há, ainda, um fluxograma para tratar das principais demandas de cada uma.
Kaká também falou sobre andamento de um importante passo para o aprimoramento do atendimento às vítimas de violência doméstica a criação da Casa Abrigo do Vale do Caí Filhas de Maria, uma iniciativa do Comdim, da Deam, e do Retiro Comunitário de Reabilitação Ocupacional (Recreo), com apoio da Central Única das Favelas (Cufa). Já há um local, mantido em sigilo para a proteção das mulheres, cedido pelo Recreo. Contudo, o espaço depende de uma reforma para poder abrir as portas. “Muitas mulheres hoje sofrem a violência e não têm para onde ir com seus filhos”, comenta Kaká, acrescentando ser comum isso resultar em assassinatos.
Educação e valorização
A delegada de Salvador do Sul, Sandra Mara Guaglioni Neto, que realizou aperfeiçoamento na área na Academia de Polícia, acredita que a questão da violência de gênero deve ser enfrentada por uma rede multidisciplinar e interligada, sendo as Delegacias Especializadas da Mulher um dos importantes instrumentos para o acolhimento.
“Romper com ciclos de violência doméstica passa pela educação das futuras gerações. E o papel da Lei Maria da Penha é iniciar esse processo de respeito e valorização da mulher”, completa. Ela ressalta que o fato de a maioria das mulheres não realizar denúncias tem muitos motivos, entre eles medo de represália, existência de filhos e dependência financeira.
Telefones para buscar ajuda
Delegacia: 3649-0000 ou plantão 98416-8115 (também WhatsApp)
Deam: 98443-7970 (também WhatsApp)
Brigada Militar: 190
Disque-denúncia: 180
Escuta Lilás: 0800 541 0803
Comdim: 99609-9049
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