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Veja publicação original: TODOS OS CANTOS DO MUNDO
Vozes da Síria, Congo, Haiti ou Angola são cada vez mais comuns por aqui. Algumas delas fazem parte do coral Somos iguais. Rasha Malas e Doriana Basilua revelam os caminhos que as trouxeram até aqui
O coral Somos Iguais é formado por 30 crianças e adolescentes de famílias refugiadas da Síria, Haiti e países africanos. “Com a proposta de amor, união, respeito e superação, tentamos amenizar as difíceis situações dos refugiados através da música”, diz Daniela Guimarães, idealizadora do projeto. O pianista e maestro João Carlos Martins apadrinhou o coral e colaborara frequentemente com a educação musical das crianças.
O Somos Iguais agrega em algumas apresentações participantes portadores de deficiências de outras organizações em que Daniela também é voluntária. “Integrar socialmente é um caminho complexo, requer muito esforço, resignação e dedicação, mas, sem dúvidas, é uma estrada repleta de recompensas”, completa.
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A maior felicidade
Doriana nasceu na República Democrática do Congo, onde a língua oficial é o francês. Mas já arriscava umas palavrinhas em português. “Tive um professor angolano que me ensinou”, conta. Morando no Brasil há dois anos, ela desenrolou o que faltava e tagarela tranquila, sem desconfiar que tenha qualquer sotaque. Sua desenvoltura, aos 14 anos, se reflete em música. “Eu adoro ‘Despacito’”, diz, cantarolando em um portunhol firme. Cantar foi o caminho que encontrou para enxergar um futuro. Doriana morava em um abrigo para refugiados quando foi convidada por Daniela Guimarães para integrar o coral Somos Iguais.“Conheci haitianos, sírios, angolanos. Tem muito amor lá. Somos como irmãos”, conta. Os amigos do Congo são sua maior saudade. “Não tive tempo nem de tirar uma foto com eles.” Em 2015, ainda vivendo na África, o pai de Doriana desapareceu. A lanchonete da mãe foi alvo de um tiroteio. Decidiram abandonar tudo e vir morar no Brasil. No caminho, as malas foram roubadas. Sem documentos, passaram semanas dormindo nas ruas do Rio de Janeiro. Com a ajuda de um africano, vieram para São Paulo, onde encontraram casa, escola, emprego. “Um dia, no ano passado, foi a maior felicidade: ver meu pai chegando em casa foi bom demais”, diz.
Contrariando expectativas
Aref Malas estava proibido de deixar a Síria. O marido de Rasha tinha sido convocado para a guerra. Uma sentença de morte. Casados há pouco mais de um ano, fugiram por terra para a Jordânia. Depois, o plano A era a Europa – “Mas não tive coragem de embarcar naqueles botes”, diz Rasha, que estava grávida. Um amigo de Aref telefonou com a solução: o Brasil. Chegaram em São Paulo em março de 2014. Dois meses depois, nasceu Taim. A vida começou a se organizar. Aref tinha uma bicicleta e circulava em busca de oportunidades. “Aí tudo mudou”, lembra. Atropelado por um táxi, Aref ficou cego e perdeu a memória. “Tive muito medo de não conseguir sustentar tudo sozinha”, conta. “Mas as pessoas batiam na minha porta, perguntavam do que precisava.” A comunidade árabe abraçou a família: ajudaram com despesas, apresentaram quem poderia ajudar. Através da ONU para Refugiados, a história de Rasha chegou aos ouvidos de Daniela Guimarães, que apresentou a família ao coral Somos Iguais. “Faz um ano que faço parte, mas parece que faz mais. Fomos pra tantos lugares, até ao vivo na televisão cantamos”, conta. Os olhos de um azul infinito de Rasha ficam apertadinhos e ela deixa o sorriso dominar seu rosto. “Mesmo com o acidente, com tudo, sei que vamos ficar bem.” Contrariado as expectativas médicas, Aref está lentamente recuperando parte de sua visão.
Música Global
A equipe que cria a Trip e a Tpm foi convidada no final do ano passado para participar da concepção de conteúdo de uma série de eventos realizados pelo Banco do Brasil. O Inspira BB é uma reunião de funcionários do banco e de figuras notáveis da sociedade para discutir questões urgentes do mundo contemporâneo. Ao longo das edições realizadas em cidades como Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília, a equipe do banco nos apresentou o Somos Iguais. Essa mesma equipe conseguiu recursos para que o coral realizasse sua primeira gravação profissional em estúdio. “Participar dos ensaios e da gravação foi uma das coisas mais emocionantes que já fiz na vida”, diz Celso Meireles, assessor empresarial da Diretoria Gestão de Pessoas.