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Mulheres como Gloria Perez, de “A Força do Querer, levantam a audiência da Globo

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:

 

Veja publicação original:  Mulheres como Gloria Perez, de “A Força do Querer, levantam a audiência da Globo

 

Pela primeira vez na TV brasileira, todas as novelas globais, das 6 às 11 da noite, são escritas por mulheres – e recordistas de audiência. Acompanhadas da veterana Gloria Perez, Thereza, Claudia, Alessandra e Ângela inauguram um novo tempo na teledramaturgia

 

 

Quatro novelas no ar, cinco autoras principais. Não bastasse o feito histórico em tempos de crise na TV aberta, as tramas assinadas por elas batem recordes de audiência na medição do Ibope, superando os folhetins imediatamente anteriores.

 

Em alguns casos, como em Os Dias Eram Assim, a marca é ainda mais impressionante: em junho, com 30,4 pontos, a história de amor entre Renato, personagem do ator Renato Góes, e Alice, papel de Sophie Charlotte, alcançou a maior audiência já registrada por uma novela das 11 horas. “Dá uma sensação enorme de empoderamento”, diz a autora Ângela Chaves, de 51 anos. Isso significa nada menos que 2,1 milhões de lares com a TV ligada só em São Paulo. “E sabemos que, em cada casa, tem de duas a quatro pessoas assistindo”, calcula Thereza Falcão, autora de Novo Mundo, ao lado de Alessandro Marson – único homem a figurar nos créditos das quatro novelas.

 

Os números de residências atingidas por Novo Mundo, exibida às 6 horas; Pega-Pega, romance das 7; e A Força do Querer, no horário nobre, das 9 da noite, impressionam: vão de 1,8 a 2,3 milhões só em São Paulo. Como comparação, nos anos 80, era pré-internet, um grande sucesso poderia bater os 60 pontos de audiência. Hoje, esse número chega a 38, marca alcançada por A Força…

Entre as cinco mulheres, a maioria tem mais de 20 anos de TV Globo e apenas uma não é estreante como autora principal. Em quase 35 anos de carreira, Gloria Perez, a veterana da turma, está acostumada aos holofotes. Criou personagens inesquecíveis, como Clara, de Barriga de Aluguel (1990); Jade, de O Clone (2001); e Maya e Raj, de Caminho das Índias (2009), entre tantos outros. Mas este ano experimenta uma sensação nova: a felicidade de estar acompanhada apenas por mulheres na grade.

 

“Quando comecei, o palco era nosso. As grandes novelistas eram Ivani Ribeiro e Janete Clair. Depois, foi tomado pelos homens e, desde então, fiquei sozinha no horário das 9”, lembra. “Estou exultante de ver essa mudança. E de estar com elas nesse ‘ringue’.” Conhecida por criar protagonistas femininas “fortes, rebeldes e nem sempre politicamente corretas”, como ela mesma define, Gloria também caprichou na presença da mulher em A Força do Querer: pela primeira vez, três grandes núcleos são capitaneados por elas – a “sereia” Ritinha (Ísis Valverde), a policial Jeiza (Paolla Oliveira) e a traficante Bibi (Juliana Paes).

Gloria Perez (Foto:  Daryan Dornelles)

 

 

“Além de sermos mulheres à frente dos principais horários, estamos arrebentando”, comemora Claudia Souto, autora de Pega-Pega. A sinopse da trama, sobre o roubo de um hotel de luxo, ela entregou em 2012 à direção da Globo, onde trabalha como roteirista há 25 anos.

 

“Queria abordar a ética e os limites do ser humano em sua relação com o dinheiro, mas não imaginava que o momento político tornaria o assunto tão atual”, diz. A realidade também caiu de bandeja no colo de Os Dias Eram Assim, que teve parte da história transcorrida durante a campanha pelas Diretas Já, em 1984, enquanto no Brasil atual comícios pediam novas eleições. Novo Mundo, novela de época sobre a formação do caráter dos brasileiros, é outra que está no ar em momento oportuno. Gloria Perez, por sua vez, dedica boa parte da trama do horário nobre à questão das identidades de gênero, assunto superatual.

Alessandra Poggi (Foto:  Daryan Dornelles)

Essa consonância com o mundo real ajuda a entender o sucesso dos folhetins, apesar da “ameaça” constante da web e das redes sociais. Outra explicação para o fenômeno é uma certa agitação criativa, própria de todas elas. “Tenho todas as inquietações do mundo”, diz Gloria. “Toco em temas polêmicos, que tiram as pessoas do sossego, para obrigá-las a pensar e olhar para algo que não querem enxergar. Como artista, tenho o papel de incomodar.” As autoras são unânimes em dizer que a função primordial de uma novela é entreter, mas não só. “O ideal é propor uma reflexão por meio do trabalho. No meu caso, falo sobre como democracia, liberdade e tolerância são fundamentais”, diz Ângela. Para Thereza, “a história é significativa para o momento que vivemos: tem coisas que não mudam no Brasil”.

Claudia Souto (Foto:  Daryan Dornelles)

Não muda, por exemplo, o fato de que, para as mulheres, o caminho para alcançar o topo da carreira é mais árduo – não só por menos portas se abrirem, mas porque, em geral, se desdobram em dupla ou até tripla jornada. No caso das novelistas, o ritmo de trabalho é tão intenso que, inevitavelmente, as vidas pessoal e profissional se misturam. Claudia chegou a escrever vários capítulos num hospital enquanto cuidava da mãe, de 93 anos, internada com pneumonia. “A equipe ia para lá e a gente trabalhava no café, nos corredores”, diz. “Esperei anos para ouvir o locutor dizer ‘de Claudia Souto, a nova novela das 7’, mas naquela situação nem pude comemorar.” Já Alessandra Poggi, de 44 anos, coautora de Os Dias…, escreve num apart-hotel alugado pela emissora, mas à noite, em casa, continua trabalhando. “Meus filhos ficam nervosos, dizem: ‘Mãe, odeio seu computador!’. Fecho a porta do quarto, eles abrem, ou entram pela varanda”, conta. O marido, que é dentista, e duas funcionárias dividem as tarefas de cuidar de Tiago, de 7 anos, e Rodrigo, de 4.

Ângela Chaves (Foto:  Daryan Dornelles)

Os filhos de Ângela, Luiza, de 22, e André, de 15, são compreensivos, mas nem sempre foi assim: “Meu computador era na sala e, quando o André era criança, não o deixava falar comigo. Fui dura com ele. Um dia, quando tinha 3 anos, fui buscá-lo na escola e ele fez um escândalo: ‘Você veio por quê? Você não vem nunca!’”, culpa-se.

Thereza Falcão (Foto:  Daryan Dornelles)

Para Ângela, o fato de ser mulher faz com que privilegie alguns temas, como o da maternidade. “Eu gosto e escrevo sobre esses conflitos obviamente porque sou mãe.” Gloria concorda com a colega: “É óbvio que a mulher tem experiências diferentes, pelas barreiras que encontra, e enxerga coisas que o homem não vê”. Para ela, a novela, sozinha, não muda mentalidades, mas pode ajudar. “Em relação ao machismo, a gente já caminhou, mas ainda falta muito. Não dá para se iludir com discursos de fachada. Só porque se fala em empoderamento feminino com mais frequência não significa que o mundo mudou”, afirma. “Quando comecei a trabalhar com Janete Clair, ela me disse: ‘Gloria, a mulher não pode atrasar entrega de capítulo. Porque, quando a gente falha, dizem logo que é ‘falta de homem na equipe’ e botam um trabalhando do lado. A gente tem que sempre provar mais.” Elas fazem  isso com excelência – e números de fazer inveja a muitos medalhões.

 

 

(Fotos: Daryan Dornelles / Produção-Executiva: Vandeca Zimmermann / Cabelo: Andreia Jovito (Capa MGT) com produtos L’Oréal / Maquiagem: Brenno Mello com produtos La Roche Posay / Assistente de fotografia: Maria Luiza Morgado)

 

 

 

 

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