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‘Perguntou se podia acalmá-lo’, diz 3ª mulher a denunciar o preparador físico Nuno Cobra por abuso sexual

Saiu no site RIBEIRÃO E FRANCA:

 

Veja publicação original:  ‘Perguntou se podia acalmá-lo’, diz 3ª mulher a denunciar o preparador físico Nuno Cobra por abuso sexual

 

 

Suposta vítima depôs ao Ministério Público Federal e relatou que escritor de 79 anos a tocou e se insinuou durante a Feira do Livro de Ribeirão Preto em 2013. Defesa informa que vai tomar conhecimento da denúncia.

 

terceira mulher a apresentar uma denúncia de abuso sexual no Ministério Público Federal contra o escritor e preparador físico Nuno Cobra conta que, por quatro anos, se manteve em silêncio por falta de apoio e medo de expor, ao falar pela primeira vez sobre o caso.

Acusado de abuso e violação sexual de mulheres, o ex-preparador físico de Ayrton Senna, de 79 anos, chegou a ser condenado e preso este mês por uma denúncia de assédio durante um voo em 2015, mas obteve liberdade provisória, com restrições, na última semana.

A bióloga, que prefere não ser identificada e levou seu caso ao MPF no último dia 12, relata que, em 2013, atuava como monitora da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto (SP), um dos principais eventos literários do interior do Estado. Como parte de seu trabalho, conta que, em 12 de junho daquele ano, tinha ido ao camarim de Nuno Cobra para avisá-lo sobre o início da conferência dele, marcada para as 16h no palco do Theatro Pedro II.

Foi quando, de acordo com ela, o abuso aconteceu. A vítima afirma que, depois de ir buscar um copo de água para o preparador físico, Nuno Cobra aproveitou a aproximação para tocar nas coxas dela e se insinuar.

“Quando eu parei e coloquei a água do lado dele, ele colocou a mão na minha perna, foi subindo e perguntou se eu podia acalmá-lo”, descreve.

A vítima afirma que, de imediato, deixou a sala e avisou a organização do evento, mas que foi desmotivada a apresentar as denúncias. Esta semana, ela postou nas redes sociais ter sido demitida pela fundação organizadora depois do ocorrido.

Bióloga diz ter sido assediada por Nuno Cobra durante a Feira do Livro de Ribeirão Preto (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

Bióloga diz ter sido assediada por Nuno Cobra durante a Feira do Livro de Ribeirão Preto (Foto: Carlos Trinca/EPTV) 

Ela diz que somente agora, com a repercussão nacional de diferentes denúncias contra o preparador físico, decidiu prestar queixa às autoridades.

“Algumas pessoas que estavam ali comigo me apoiaram, mas os responsáveis do evento disseram que eu estava sozinha. Primeiro perguntaram se alguém viu o que aconteceu. Eu disse que não, ela [da organização] falou: então ninguém vai acreditar em você”, afirma.

Bióloga postou no Twitter denúncia de assédio ocorrida em 2013 e relatou caso ao MPF nesta semana (Foto: Twitter/reprodução)

Bióloga postou no Twitter denúncia de assédio ocorrida em 2013 e relatou caso ao MPF nesta semana (Foto: Twitter/reprodução) 

O advogado de Nuno Cobra, Sergei Arbex, afirma que ainda não tomou conhecimento dessa denúncia, porque, segundo ele, ela ainda não foi formalizada.

A organização da Feira Nacional do Livro afirma, por outro lado, que tomou conhecimento do caso à época, mas que deixou a critério da bióloga procurar ou não as autoridades e nega tê-la demitido como forma de repúdio, porque ela tinha sido contratada exclusivamente para trabalhar na edição de 2013 da feira.

“Na ocasião, a diretoria da Fundação – entidade realizadora da feira, tomou conhecimento do fato através de relato da própria monitora e a deixou à vontade na decisão de prosseguir ou não com a denúncia, respeitando sua individualidade e decisão pessoal. Depois do término da Feira do Livro de 2013, a Fundação não recebeu mais nenhuma informação através da monitora sobre o desdobramento de uma possível denúncia”, comunicou.

Nuno Cobra foi preso em São Paulo (Foto: TV Globo/Reprodução)

Nuno Cobra foi preso em São Paulo (Foto: TV Globo/Reprodução) 

Raiva e falta de apoio

A bióloga conta que seu trabalho na feira era ajudar nos preparativos das palestras. “Era arrumar o palco, deixar o palco com microfones, com água dos convidados, ir até o camarim, esperar que eles saíssem e os acompanhassem até o palco.”

Do mesmo modo, ela se dirigiu ao camarim de Nuno Cobra e foi buscar um copo de água para ele depois que ele disse estar nervoso para a palestra que faria. Afirmou também que não o conhecia.

O assédio, afirma a ex-monitora, foi muito rápido e inesperado. “Ele falou se eu poderia acalmá-lo, subindo a mão na minha perna. É questão desses segundos”, diz.

Ela conta que havia deixado a porta do camarim de Nuno Cobra aberta, que o tratou com respeito e de um modo que não dava qualquer tipo de abertura ao preparador físico, mas que, se não tivesse se afastado de imediato, ele teria ido adiante.

“Se eu tivesse ficado lá, ele ia continuar subindo a mão e ia esperar a minha reação, se eu corresponderia ou não. Não sei o que ele esperava”, afirma.

Mulher relata abuso em feira do livro em Ribeirão Preto e falta de apoio para denunciar o caso (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

Mulher relata abuso em feira do livro em Ribeirão Preto e falta de apoio para denunciar o caso (Foto: Carlos Trinca/EPTV) 

A ex-monitora conta que, surpresa com a abordagem, e, como única reação, deixou o local sem conseguir falar nada ao escritor, que foi acompanhado por outra pessoa até o palco. Ela relata que ficou fragilizada e com raiva depois do que aconteceu. “Quando eu me dei conta de que realmente era um assédio, eu virei as costas e sai e já estava nervosa, já comecei a chorar, já estava tremendo.”

Apesar de ter contado o que havia acontecido, ela se deparou com o desamparo da maioria das pessoas, inclusive dos organizadores do evento, e, na época, não registrou nenhum boletim de ocorrência.

“Eu realmente fiquei com medo, porque não tinha apoio do pessoal do evento. Vi que seria a minha palavra contra a de todo mundo.”

Agora, com o conhecimento de outros casos de abuso, a bióloga se diz mais segura para levar sua denúncia adiante, mas se arrepende de não ter se manifestado antes. “Se as pessoas soubessem quem ele é, que ele tem esse tipo de atitude, poderia ter evitado que outras mulheres passassem por isso.”

Nuno Cobra

Cobra ficou famoso após começar a cuidar da preparação física do piloto Ayrton Senna, em 1983. O preparador ficou preso em uma cela isolada na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo desde segunda-feira (11), após ter a prisão preventiva decretada pela juíza federal Raecler Baldresca devido à denúncia por abuso sexual mediante fraude pela Justiça Federal em São Paulo, referente a um caso ocorrido durante um voo em 2015

No início de setembro, uma jornalista de São Paulo já havia procurado o MPF para denunciar uma suspeita de abuso ocorrida em 24 de agosto deste ano. A jovem disse ter sido molestada pelo preparador durante uma entrevista em uma rádio em São Paulo.

Esta semana, Cobra obteve liberdade provisória concedida com restrições pela juíza federal convocada Gisele França, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Ele pagou uma fiança de 45 salários mínimos (mais de R$ 42 mil) e deixou a prisão na noite de quinta-feira (14), segundo seu advogado.

Pela decisão, Cobra precisa entregar o passaporte à PF e não poderá deixar o país. Também deverá ficar recluso em casa e só poderá sair para trabalhar.

A defesa de Nuno diz que, em relação ao primeiro caso, não há provas, e que, sobre o segundo caso, da jornalista, tratou-se de um “mal entendido”, já que o preparador físico é “expansivo” e sempre se dedicou à saúde. Sobre a nova denúncia, Sergei Arbex, o advogado de Nuno Cobra afirmou que iria se informar para se posicionar.

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