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Por que a orientação sexual de uma celebridade ainda é relevante?

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Veja publicação original:  Por que a orientação sexual de uma celebridade ainda é relevante?

 

Carol Duarte, intérprete do homem transexual Ivan na novela “A Força do Querer”, e uma das atrizes mais respeitadas da TV Globo no momento, recebeu elogios de sua namorada de três anos, Aline Klein, numa rede social, e o assunto repercutiu.

 

 

Leonardo Vieira precisou se dizer homossexual depois que uma foto sua, em que beijava com vigor outro homem, se espalhou pela internet. Paulo Gustavo usou um aplicativo para falar sobre o ataque homofóbico que ele e o marido, Thales Bretas, sofreram durante as férias. Os exemplos mais recentes de celebridades que ganharam um aposto por causa de suas intimidades é considerável, e não é tema novo. Por que precisamos saber se tal ator é gay, se aquela cantora é lésbica ou se uma apresentadora é bissexual?

 

 

A heterossexualidade é uma invenção da nossa espécie, e é historicamente insignificante. O termo foi criado quando nossos bisavós eram jovens, em 1868. Antes não havia nenhum heterossexual. Nem homossexual. Por outro lado, mesmo sem substantivo, homens e mulheres transavam com indivíduos com a mesma genitália, ou não.

 

 

Até o século XIX, humanos não tinham pensado ainda que eles pudessem ser diferenciados entre si de acordo com o tipo de amor ou desejo sexual que sentiam. Comportamentos sexuais, é claro, haviam sido identificados e catalogados, e até proibidos em certos momentos. Mas a ênfase estava no ato, não em quem o praticava.

 

 

O panorama histórico aqui trazido é relevante porque cria um paradigma em uma época onde ainda se dá importância a respeito da orientação sexual alheia e, dependendo da personalidade, pode levar o representante da espécie à glória ou à ruína. Em casa, na comunidade, no trabalho.

 

 

Por outro viés, ativistas contemporâneos ainda exigem que celebridades digam com quem dormem. Isso é fundamental? Há controvérsias. A situação ainda é mais grave se ele for homem, que precisa “cumprir” papéis sociais associados à sua expressão de gênero. Por quê?

 

 

Sempre houve instintos sexuais no mundo animal. Isso é sexo. Mas em um momento específico na história, os humanos criaram significados para esses instintos. Isso é a sexualidade. Nós, portanto, somos a única espécie que significamos o sexo, além do coito, mas todo tipo de sexo é sexo “de verdade”?

 

 

Para a maioria esmagadora das pessoas, sexo tem a ver com um pênis dentro de uma vagina, e, por mais assustador que pareça, suas raízes estão na Idade Média. O período de mil anos que vai da queda de Roma (476 d.C.) até o momento em que Martinho Lutero contestou os preceitos da igreja Católica dizia que só se poderia praticar sexo em três situações: homem com mulher, se fossem casados, e se estivessem tentando engravidar. Só.

 

 

Todo o resto seria sodomia, e não só sexo anal, como a maioria acredita. Isso é bíblico, vem da história da destruição da cidade de Sodoma e está descrito nos capítulos 18 e 19 do Gênesis. A Igreja, porém, perdeu o controle da Europa (o continente americano, naquele tempo, “não existia”) e, em certo aspecto, de muitas famílias. Por outro lado, esses dogmas ainda estão no inconsciente coletivo e, portanto, sexo “desviante”, para muitos, é “pecado”, pior ainda se for homem.

 

 

Há uma série de livros que expõem personalidades que são ou eram homossexuais, e vendem muito. Tente criar uma empatia. Imagine como deve ser difícil amar alguém e não poder declarar esse amor publicando, no sofá de sua casa ou mesmo numa rede social. Se for um profissional que precisa interpretar um outro alguém, pior ainda?

 

 

A audiência ainda atrela a performance de um ator ao que ele é fora de cena. Se o indivíduo é homossexual e conhecido, cedo ou tarde precisará responder a uma pergunta sobre sua orientação. Perde-se oportunidades, de fato, se se assume homossexual, mas um indivíduo bem sucedido serve de exemplo, sim, para quem está sendo perseguido por causa de sua orientação sexual. Pode ser, aliás, assassinado, visto que o Brasil é o país que mais mata homossexuais e transexuais no mundo.

 

 

Mais que isso: há muitos gays e lésbicas que, acredite, pensam que têm uma doença ou são únicos na família, na cidade, no mundo. Pense pequeno, esqueça que você mora em São Paulo ou em Rio Branco. Imagine-se gay ou lésbica no sertão ou numa tribo indígena. Não é fácil estar longe do topo da cadeia alimentar, ocupado por homens heterossexuais cisgêneros, mas, mal sabem eles, sem a base da pirâmide eles sequer existiriam.

 

 

 

 

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João Luiz Vieira

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