Saiu no site REVISTA CLAUDIA:
Veja publicação original: Leandro Andrade
Por Giuliana Bergamo
É fundador de um dos primeiros grupos do Brasil de atendimento a autores de violência
contra a mulherA lei Maria da Penha, que protege as mulheres contra a violência doméstica, está em vigor há 11 anos, mas o comportamento machista – que chega a extremos de ferir e matar – ainda é frequente nas relações entre homens e mulheres.
Boa parte dos agressores não crê nem admite que xingamentos, ameaças, restrições a dinheiro ou bens da família, controle, perseguições e até mesmo violência física sejam atitudes criminosas. Essa mentalidade ajuda a colocar o Brasil no quinto lugar do dramático ranking de países com maior índice de feminicídio.
Mudá-la demanda mais que leis rigorosas e bem aplicadas. É necessário promover uma revisão de valores e papéis em toda a sociedade. Trata-se de um trabalho árduo, mas que já vem sendo executado com empenho por pessoas como o psicólogo Leandro Andrade, fundador de um dos primeiros grupos de atendimento a homens que praticaram agressões contra mulheres.
“Eu mesmo tive de reconhecer o machismo arraigado em meu comportamento para atender os agressores”, conta Andrade, que é professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pesquisa questões de gênero desde os anos 1990.
“Percebi, por exemplo, que, apesar da minha experiência de vida, eu também associava os papéis de provedor e de aventureiro à figura masculina”, revela. Seu trabalho é militante e tem caráter educativo. Começou no mesmo ano da Lei Maria da Penha, em 2006, em São Caetano do Sul (SP).
Três anos depois, firmou uma parceria com a Vara de Violência Doméstica da Barra Funda, na capital paulista. Desde então, os participantes do grupo passaram a ser encaminhados por juízes. Os agressores condenados têm a pena atenuada se comparecem aos 16 encontros que fazem parte do programa.
Toda segunda-feira à noite, por duas horas, 15 homens se reúnem na sede do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde com Andrade e outros cinco orientadores. “A maioria não chega aqui de boa vontade. Pelo contrário, eles acreditam que foram injustiçados.
Mas acabam saindo pelo menos desconfortáveis por ser machistas”, afirma. Para facilitar a conversa, são utilizados filmes, reportagens e discussões de casos, entre outras dinâmicas.
A ideia é fazer com que percebam a violência no próprio comportamentos e encontrem formas diferentes de agir. O psicólogo calcula já ter atendido cerca de 800 homens.
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