Saiu no site REVISTA CLAUDIA:
Veja publicação original: Estas mulheres resgatam refugiados no Mar Mediterrâneo
A mexicana Isabel Cardenas e a espanhola Anabel Montes ajudam pessoas que, em barcos precários e superlotados, fogem da fome e dos conflitos em seus países
Por Letícia Paiva
Na fronteira do México com o estado americano do Texas, Isabel Cardenas, 39 anos, ficou marcada pelo apoio às vítimas de conflitos migratórios e da violência dos cartéis de droga. Ameaçada pelos narcotraficantes, ela teve de deixar sua casa, mas não abandonou as causas humanitárias.
No fim de 2015, a ativista partiu rumo a Lesbos, na Grécia. Só naquele ano, a pequena ilha grega recebera cerca de 200 mil refugiados – a maioria tentava escapar das guerras em barcos precários pelo Mar Egeu. Ao mesmo tempo, centenas de voluntários de várias partes do mundo chegavam para atender os feridos e flagelados.
“Como eu não era médica nem enfermeira, diziam que pouco poderia ajudar”, contou Isabel a CLAUDIA, de Lesbos, por telefone. A negativa não a fez desistir. Integrando a ONG Lighthouse Eco Relief, a mexicana voltou sua atenção para os coletes salva-vidas abandonados nas praias pelos refugiados. “A montanha de descarte era tão grande que não conseguíamos nem ver o horizonte”, lembra.
Usou, então, sua experiência como instrutora de escalada (ocupação que garante sua sobrevivência e lhe permite juntar recursos para se dedicar à causa) e criou um sistema que emprega cabos para içar e coletar o material – depois reciclado.
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As correntes migratórias diminuíram substancialmente e pouco mais de 3 mil pessoas desembarcaram no local de janeiro a julho deste ano, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Mas o trabalho de amparo não acabou. A ilha ainda abriga 5 mil pessoas no campo de socorro da capital, Moria.
A atividade mais recente de Isabel é monitorar a chegada de embarcações e resgatar estrangeiros em apuros. Logo na primeira missão, viu uma adolescente boiando na água. “Segurei seu rosto e tentei fazê-la reagir, mas foi inútil.”
Em seguida, foram surgindo outros corpos. Descobriu-se mais tarde que havia ocorrido um acidente de barco na costa da Líbia, com mais de 30 mortos. “Não era a primeira vez que carregaria cadáveres”, diz Isabel. “Eu já havia feito isso no México, com vítimas de assassinatos. Mas nunca naquele estado, rígidos pelo afogamento.”
Após horas de busca, a equipe dela encontrou uma grávida entre os raros sobreviventes. A mulher escapava, assim, de entrar para a lista das mais de 1,5 mil pessoas mortas em travessias pelo Mediterrâneo em 2017, segundo os números da ONU.
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UMA HEROÍNA PUXA A OUTRA
O esforço para evitar acidentes como esse foi ampliado. Isabel acabou conhecendo a espanhola Anabel Montes, 33 anos, que patrulha as águas da região. Ela havia deixado Barcelona, na Espanha, onde atuava como salva-vidas em praias turísticas, para transitar pelo Mar Mediterrâneo com a ProActiva Open Arms.
Isabel se juntou a essa ONG, que também dá apoio para quem, em desespero, almeja chegar à Europa para recomeçar a vida. Anabel passou nove meses em Lesbos trabalhando como voluntária. Hoje, contratada pela organização, não tem base fixa. Pode estar na costa da Líbia, na Itália ou na Grécia.
“Preciso permanecer atenta 24 horas, todos os dias da semana”, disse Anabel, que aportara em Malta há poucas horas. Estava a bordo do Golfo Azzurro, com o qual enfrentou sete difíceis jornadas de resgate ao longo de 15 dias. “Nesses barcos, vejo o lado mais terrível da humanidade, mas também a face da esperança”, pondera.
O perigo para os que tentam um novo lar, ela afirma, é enorme. Os expulsos da própria terra navegam em frágeis embarcações, que podem carregar mais de mil pessoas, e são encontrados, em geral, bastante debilitados, com fome e frio.
“São homens, mulheres, grávidas, crianças e bebês muito sofridos, que passaram por lutas, tortura, estupros…”, conta Anabel. Já Isabel pilota barcos, dedicando-se mais aos revezamentos para fazer a vigília com radares e binóculos por madrugadas seguidas. Os resgates demandam até 15 horas de trabalho ininterrupto. “Na maior parte das vezes, dá tudo certo”, diz Anabel.
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