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“Estamos fazendo o que a cultura machista quer”, diz advogada feminista sobre os aplicativos de carros para mulheres

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE: 

 

Veja publicação original:  “Estamos fazendo o que a cultura machista quer”, diz advogada feminista sobre os aplicativos de carros para mulheres

 

O caso da escritora Clara Averbuck, vítima de estupro por um motorista do Uber, inflama também a discussão dos aplicativos de carros para mulheres

 

Clara Averbuck, após divulgar na segunda-feira (28), ter sido vítima de estupro por um motorista do Uber, trouxe outra questão à tona, além da violência contra a mulher: os aplicativos feitos para passageiros e motoristas do público feminino. Lady Driver, Nushu, FemiTaxi são alguns exemplos do negócio. O último, por exemplo, desde a denúncia da escritora, registrou crescimento de 144% no número de chamadas na capital paulista e nas demais cidades em que atua. Aderir ou não a este tipo de serviço? Você é contra ou a favor? Há um grande debate em torno deste tema e conversamos com a advogada e feminista Rosana Chiavassa. Confira:

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Marie Claire: Qual sua opinião sobre os aplicativos de carros somente para mulheres?
Rosana Chiavassa:
 Embora feminista há 30 anos, tenho um pouco de receio do uso comercial que está sendo feito. O grande perigo que a sociedade corre é esse sectarismo. Está partindo para uma cruzada entre homens e mulheres e este não é o caminho. Os aplicativos estão usando este apelo não só para defender a mulher, mas para explorá-la mais uma vez no seu medo. Ao invés de empoderar, instrumentalizar, estamos no caminho inverso, alimentando a violência. Temos que partir da nossa premissa da Constituição Federal. Ninguém é culpado antes de todo um processo legal. E pensamos: “já que qualquer homem é potencialmente agressor, vamos nos isolar.” Isso é um erro. Nem todo homem é agressor.

MC: Você vê alguma solução próxima para este problema?
RC:
 Próxima, jamais. Um exemplo: no ano passado, o Banco Mundial revelou que, se continuar do jeito que está com esta política e sistema, somente daqui a 80 anos teremos igualdade salarial. Só vai evoluir o dia que existir uma mudança efetiva no comportamento social, na cultura do machismo. E não acredito que aqui seja daqui 80 e sim uns 200 anos porque teremos décadas de pensamento diferente para que essas pessoas possam influenciar gerações futuras. Hoje qualquer criança de 10 anos já está instruída para a menina ser princesa, o menino Super-Homem. A realidade é muito triste e precisamos de uma mudança efetiva. Não acontecerá rápido, mas não é por isso que temos que partir para uma cruzada contra os homens. Tenho medo desta cultura que está se formando e sendo alimentanda levianamente e dolosamente por esses aplicativos. Estamos na verdade trabalhando contra a luta da igualdade. Estamos fazendo o que a cultura machista quer.

MC: A escritora Clara Averbuck disse que não foi à delegacia por que ela conhece o sistema. O que fazer para mudar?
RC: 
Hoje só há nove delegacias da mulher. Se você soubesse o trabalho que dá para quase nada  acontecer… como condenar uma mulher que deveria, por obrigação de luta, percorrer o caminho sabendo a ineficácia do sistema? Não podemos julgá-la. Entendo por que não foi e lamento por que não foi. O nosso sistema seja preventivo ou de acolhimento é muito falho.

MC: E qual o caminho?
RC:
É a educação. Só que aí proíbem de falar de gêneros nas escolas. Não existe um interesse real na mudança.

 

 

 

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