Saiu no site DIÁRIO DO NORDESTE:
Veja publicação original: Violência doméstica diminui salários de mulheres em 34% na Capital
A trabalhadora vítima de violência ganha o equivalente a R$ 5,98 por hora trabalhada, contra R$ 9,11 das que não são vítimas de violência
As informações são do segundo relatório da Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, que acompanhou a vida de 10 mil mulheres nas nove capitais nordestinas entre março e julho de 2016, foi apresentado nesta quinta-feira (24), no auditório da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC), pelo professor José Raimundo Carvalho, coordenador do estudo, realizado em parceria técnica com o Instituto Maria da Penha, cuja presidente, Maria da Penha Fernandes, esteve presente na ocasião.
A pesquisa trouxe à luz um dos fatores associados à violência doméstica ainda pouco analisado, que é o impacto no mercado de trabalho. A violência doméstica, segundo o coordenador da pesquisa, é um fenômeno que impacta diretamente o desempenho das mulheres no mercado de trabalho, além de restringir o acesso às oportunidades de emprego e, consequentemente, de alcançar um melhor nível de bem-estar.
Faltas
A pesquisa ainda revelou que, em média, as mulheres que são agredidas dentro de casa faltam 18 dias por ano. Além disso, elas também passam menos tempo empregadas em um local de trabalho: são, em média, 58 meses, contra os 78 meses que uma mulher que não sofre violência permanece empregada.
Esse impacto é maior em Fortaleza, onde a trabalhadora vítima de violência ganha o equivalente a R$ 5,98 por hora trabalhada, contra R$ 9,11 das que não são vítimas de violência. Além disso, mulheres negras que vivenciam violência doméstica chegam a ganhar 22% menos do que mulheres brancas que passam pela mesma situação.
“A violência deprecia o capital humano da mulher. Grande parte do empoderamento feminino vem da capacidade de trabalho. O homem produz a violência contra a mulher, causa todos esses impactos, cria uma sequela na economia e retroalimenta essa relação: ele sabota a mulher como trabalhadora e ela perde esse empoderamento. Os setores públicos e privados não fazem praticamente nada para reverter isso”, diz o coordenador da pesquisa.
Avanço nos estudos
Se por um lado a literatura inicial econômica focou na relação do impacto da melhoria das condições no mercado de trabalho (participação e renda), uma literatura mais recente preocupa-se com a relação contrária, isto é, com o impacto da violência doméstica na produtividade e na oferta de trabalho das mulheres ou, ainda, com a possibilidade de uma relação simultânea, observou Carvalho.
Ele admitiu que “no Brasil, carecemos de estatísticas e estudos científicos sobre o impacto da violência doméstica no mercado de trabalho feminino”.
No entanto, acrescentou que “essa pesquisa traz à tona estatísticas inéditas e começa a permitir que toda uma literatura interdisciplinar atual avance nosso conhecimento sobre os fatores associados à violência doméstica e às possibilidades de diminuí-la através de mecanismos e de políticas cuidadosamente avaliadas e implementadas”, finaliza.
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