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Veja publicação original: 10 vezes em que a moda foi feminista
Relembre alguns dos momentos em que a moda refletiu a luta das mulheres.
Por João Braga
Dá para contar a história das conquistas sociais femininas só com o nosso guarda-roupa. Afinal, foram movimentos como a revolução sexual e a entrada no mercado de trabalho que nos deram peças como a minissaia, a calça e o terninho, entre outras.
- 1. Na Primeira Guerra Mundial
É o primeiro período da história (1914-1918) em que é possível notar de maneira significativa, nos usos e costumes da moda, o reflexo de uma postura mais ativa das mulheres na sociedade. Com a ida dos homens para os campos de batalha, elas precisaram suprir a ausência deles nos postos de trabalho, como os de carteiros, cobradores de ônibus, entregadores em geral e até aqueles da indústria bélica. Por isso, tiveram de se apropriar, por necessidade, de peças e ideias típicas e práticas do guarda-roupa masculino. Alguns exemplos são a calça comprida — que foi de fato virar uma moda só algum tempo depois —, o sapato pesado, o funcionalismo das roupas com abotoamento frontal e o uso do cinto de maneira aparente.
- 2. Nos Anos Loucos
Já no pós-guerra, na década de 1920, conhecida como Anos Loucos, as mudanças mais expressivas na moda feminina tinham como objetivo tentar igualar a silhueta das mulheres à dos homens. As roupas deixavam os seios e os quadris achatados (um efeito da cintura rebaixada para essa região) e os cabelos foram cortados bem curtos. A imagem acabou culminando no chamado padrão La Garçonne, uma referência ao grande sucesso literário homônimo do escritor francês Victor Margueritte. A obra, lançada em 1922, tem como protagonista uma mulher de atitute bastante liberal para a época, que estudava, trabalhava, se envolvia afetivamente com ambos os sexos e teve até um filho ilegítimo de um amante
- 3. Com Chanel
Foi também nos anos 1920 que surgiu Coco Chanel, uma das estilistas mais feministas. Na hora de criar para as mulheres, a designer francesa se inspirava nas roupas masculinas, especialmente nos uniformes militares. Ela levou para a moda feminina os botões dourados, os debruns, as camisas listradas de marinheiro e, de uma maneira geral, a praticidade e a funcionalidade da moda pensada para eles, que mademoiselle achava adequada para as mulheres emancipadas e modernas de um novo tempo — o incipiente século 20. Ainda nesta década, Chanel lançou a calça pantalona para as mulheres, mas o modelo só virou moda mais adiante.
- 4. Na Segunda Guerra Mundial
Durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, novamente por questões circunstanciais, a mulher deu outros passos emancipatórios, algo que invariavelmente a direcionava para o universo masculino tanto no guarda-roupa quanto no comportamento. A moda privilegiava o uso de duas peças, o vestido chemisier, cabelos presos, sapatos masculinizados, bolsas a tiracolo e paletós com bolsos chapados e lapela à semelhança dos masculinos. Com o fim da guerra, houve a volta da feminilidade (pense no New Look, de Dior), que predominou nos anos 1950.
- 5. Com a minissaia
Nos anos 1960, a minissaia, criada por André Courrèges na Paris de 1961, com o nome de “silhueta curta”, e difundida pela inglesa Mary Quant a partir de 1964, já com a comum nomenclatura, apareceu como a grande protagonista dos looks femininos. Por deixar as pernas à mostra, o que era uma redenção em comparação com as rodadas e volumosas saias da década anterior, tornou-se um símbolo da liberdade das mulheres — movimento que teve como pilares a invenção da pílula anticoncepcional e a consequente revolução sexual. A peça vingou também com a ajuda da meia-çalça, mais uma ideia nascida no final dos anos 1950 e que deixou as mulheres mais à vontade.
- 6. Com o smoking
Foi ainda durante os anos 1960 que o estilista francês Yves Saint Laurent, um dos precursores da moda unissex, que marcou os anos 1970, propôs às mulheres que se vestissem com uma versão do smoking, tradicional traje masculino feito para os homens fumarem (a gola de seda, por exemplo, tinha como função fazer escorregar as cinzas do cigarro, caso elas caíssem). Com a ideia, YSL deu um caráter de posicionamento às mulheres sem lhes tirar a feminilidade, já que, nas versões pensadas por ele, a camisa ganhou transparência, entre outras intervenções parecidas. O smoking apareceu em todas as coleções do designer desde então.
- 7. Com a moda unissex
Outro desdobramento da revolução sexual, agora em conjunto com o movimento hippie, iniciado nos anos 1960 e assimilado na década seguinte, foi a moda unissex — ou seja, o mesmo visual para ambos os sexos. Nos anos 1970, a calça comprida e a jaqueta passaram de vez a ser uma linguagem também feminina.
- 8. Com o terninho
Ele foi a melhor tradução da entrada das mulheres no mercado de trabalho, movimento que aconteceu principalmente nos anos 1980. Como uma maneira de se inserir profissionalmente, se empoderar e se comparar aos homens, a mulher passou a se envelopar de terninhos de tons sóbrios e com calças largas e de pregas, paletós com abotoamento do tipo “jaquetão” e enormes ombreiras e pastas usadas no lugar de bolsas. O estilista italiano Giorgio Armani foi um grande entusiasta do terninho e, assim como Saint Laurent, fez dele uma assinatura e segue reiventando-o a cada temporada (acima, por exemplo, ele aparece modernizado na coleção verão 2014, com o short no lugar da tradicional calça).
- 9. Com a linguagem esportiva
Já nos anos 1990, a moda de postura feminista tornou-se bastante comum e altamente inserida nas maneiras de vestir. Os códigos do universo do esporte, como o tênis e os tecidos esportivos beneficiados pelos avanços tecnológicos têxteis, invadiram o guarda-roupa feminino, assim como cortes de cabelos semelhantes aos dos homens – aqui, vale destacar ainda a tribo dos emos, que contribuiu muito para a unidade visual entre homens e mulheres nas roupas e na beleza.
- 10. Com a liberdade de gêneros
A linguagem contemporânea tem como principal marca o reflexo das discussões sobre a ausência de gênero estabelecido e liberdades sexuais, que novamente têm como objetivo empoderar as mulheres. Assim, a roupa já não tem uma classe definida – se é feminina ou masculina. Essa foi uma das principais ideias de um dos recentes desfiles de Ronaldo Fraga.
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