Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: “Larguei tudo por amor e devo isso ao feminismo”, diz Fabiana Saba
Ao lado de Gisele Bündchen, ela brilhou nas passarelas dos anos 90 pesando apenas 48kg. Tornou-se apresentadora de programas como “Interligados” e “Superpop”, da Rede TV!, mas deixou a carreira para se casar com um americano. Com 30 KG a mais, Fabiana Saba encontrou nos movimentos feministas o caminho para voltar à indústria da moda, mas desta vez como uma mulher que não cede aos insanos padrões de beleza.
Fabiana Saba tinha uma carreira estabelecida no Brasil como modelo e apresentadora há cerca de 15 anos quando decidiu ir embora do país para se casar com o americano Ralph Sutton. Seu retorno à indústria da moda aconteceu no ano passado somente depois de aceitar as curvas que ganhou após o nascimento das duas filhas. “Foi como começar do zero aqui nos EUA. Mas não tive medo”, disse à Marie Claire.
Seu posicionamento firme diante dos novos desafios da vida foram fruto do empoderamento feminino que foi descobrindo ao longo do tempo. “Quero que as mulheres se sintam representadas e deixem de ceder à pressão para estarem perfeitas, maquiadas e lindas o tempo inteiro. Isso faz mal para a autoestima. Temos que parar”, decretou.
A modelo de 39 anos, agora mais confiante do que nunca, fala nesta entrevista sobre a importância da representatividade das mulheres, com todas as suas formas, cores e sexualidades, na mídia. E conta como uma dona de casa como ela se descobriu feminista.
Marie Claire – Seu perfil no Instagram tem várias mensagens empoderadoras para mulheres. Você se considera feminista?
Fabiana Saba – Sim. E acredito que toda mulher é feminista a partir do momento em que decide fazer suas próprias escolhas de vida, mesmo que seja deixar o trabalho para se casar e ter filhos. Eu mesma abri mão minha profissão por 15 anos. Larguei tudo por amor e devo isso ao feminismo. Só pude fazer esta escolha por conta dele. Antigamente, éramos propriedade dos homens, nossa vontades não eram respeitadas. Algumas mulheres hoje pensam que não são feministas porque sonham em ficar em casa cuidando da família. Foi assim comigo. Mas o feminismo respeita a escolha de todas as mulheres.
MC – Como se descobriu feminista?
FS – Foi conversando com amigas. Descobri que o movimento não é contra homens, amor, mães, nada disso. Ele luta a favor de direitos, a favor da liberdade. Sou uma mulher privilegiada na sociedade, mas há outras que não são. Elas não têm seus direitos respeitados. Veja quanta violência doméstica ainda existe. Muitas não conseguem sair de casa. Por isso o feminismo é extremamente importante. Aqui nos EUA fala-se muito que as pessoas privilegiadas, seja social, racial, sexualmente, devem lutar pelas outras que não são. É importante parar para ouvir também o que está acontecendo com as mulheres que sofrem.
MC – Foi assim que surgiu a ideia de criar o canal Todas Juntas no YouTube?
FS – Na verdade a fundadora é a Natalia Novaes. Ela veio falar comigo porque eu estava postando muito sobre isso e me convidou. No dia 27 e 28 vamos gravar a segunda temporada. A ideia é conversar com outras mulheres sobre autoestima.
MC – E você conversa sobre estas questões com suas filhas de 9 e 6 anos?
FS – Falo. Eu leio um livro que conta a história de todas as mulheres que realizaram coisas inovadoras na história, mostrando que meninas podem fazer tudo. Com uma linguagem apropriada para a idade, converso com elas para que saibam que têm o poder de ser quem quiserem.
MC – Você fala muito sobre a questão das modelos plus size, empoderamento das mulheres, aceitação do corpo. Mas qual foi o momento em sua vida que começou a aceitar suas próprias curvas?
FS – Comecei a falar sobre essa questão mais ou menos há um ano no Instagram. Era uma época em que estava voltando a trabalhar. Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Vi a resposta de outras mulheres na rede social e percebi o quanto falar sobre isso estava sendo bom tanto para elas quanto para mim. Foi uma troca. Fiquei mais confiante, ajudou minha autoestima. Vi que outras pessoas também passam por situações parecidas com a minha. O apoio delas me ajudou.
MC – Acredita que a sociedade está mudada, talvez um pouco mais consciente de que as mulheres devem ser felizes com seus próprios corpos, e que não há necessidade de seguir um padrão de beleza único?
FS – Muita coisa mudou. Não somente em relação a diferentes corpos, mas também a idade. Hoje vemos mulheres mais velhas modelando. Antes havia uma menina de 15 ou 16 anos na revista posando para uma publicidade cujo público é mais velho. Agora cada vez mais a moda está incluindo todos os tipos de mulher. Acredito que a mudança passou acontecer também em função da internet. As pessoas têm voz, podem dar sua opinião e encontrar outros lutando pelo mesmo objetivo. Com isso, a mídia passou a dar importância para a diversidade na moda.
MC – No ano passado você disse que retomaria sua carreira como modelo. Como foi voltar ao mercado de trabalho após tantos anos longe das lentes dos fotógrafos?
FS – Foi curioso porque mudou bastante, tive que reaprender. Poses que fazia quando era magrinha agora precisam ser mudadas. Foi como começar do zero aqui nos EUA. Mas não tive medo. Graças a Deus não tenho problemas com ego. Saí para fazer castings, inclusive, e foi muito revigorante. Pensei o seguinte: “se fizer mal para minha autoestima eu paro”. Só iria se fosse algo bacana para mim.
MC – O que te motivou a voltar a trabalhar?
FS – A verdade é que não retomei a carreira para ser modelo, mas para servir de plataforma para algo maior. Quero que as mulheres se sintam representadas e deixem de ceder à pressão para estarem perfeitas, maquiadas e lindas o tempo inteiro. Isso faz mal para a autoestima. Temos que parar. No Dia das Mães, por exemplo, eu me perguntei como as mulheres conseguem acordar com o cabelo feito, recebendo um café da manhã digno de hotel. Na época, postei no Instagram como foi meu dia, mostrando a realidade. As crianças fizeram uma panqueca bem mais ou menos e levantei da cama com o cabelo todo bagunçado. As pessoas são bombardeadas com fotos perfeitas o tempo todo. E quem não tem isso em casa acaba sentindo que algo errado com ela, quando, na verdade, essa realidade não existe.
MC – Você acredita que este problema se tornou mais profundo com redes sociais como o Instagram ou antes já era assim?
FS – As revistas já faziam isso quando davam destaque às colunas sociais mostrando famosos com uma vida perfeita. Sabe aquelas fotos das pessoas sentadas à beira da piscina em uma casa maravilhosa? É isso. Fora as mães que eram fotografadas com a barriga chapada dois meses após o parto. Esse tipo de coisa provoca uma pressão muito pesada sobre as mulheres e crianças. A falta de representatividade é um dos fatores que podem levar meninas de 13 anos a desenvolverem transtornos alimentares por se sentirem inadequadas. Mas hoje as revistas estão entrando nessa luta e acho que vai fazer muita diferença na forma como nossas filhas vão se sentir representadas. Elas vão crescer com outra ideia do que é beleza.
MC – Você sentiu essa pressão quando se tornou mãe?
FS – No início me perguntava se estava fazendo alguma coisa errada, porque me sentia cansada e via como era difícil ser mãe, mas ninguém falava sobre isso. É importante falar sobre a parte real. Sororidade é chegar para outra mulher e falar: “eu também estou nessa. Vamos nos unir, dar as mãos”.
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