Após meses de humilhações morais e violência física, ainda perdida, mas tomada pelo medo e pela vontade de romper o ciclo que acabaria em tragédia, a artesã procurou a justiça e foi orientada por uma promotora a sair do ambiente do agressor. Antônia foi encaminhada a um centro de atendimento, que conseguiu trazer a artesã e os três filhos para capital alagoana, onde passou a ser atendida pela rede de proteção do Estado.

“Eu pensei que o medo não ia passar, mas passou e hoje só penso em ajudar outras mulheres que enfrentam uma situação igual á minha, mas que eu superei… Digo por experiência: saia dessa ameaça, você vai encontrar algo melhor”, ressaltou Antônia, revelando que todos os dias se olha no espelho e diz: você presta, você pode, você não está só, você vai sobreviver, não se deixe abater.

Vivendo uma situação semelhante, a faxineira Josefa (nome fictício), 52, passou anos sendo vítima de violência física e moral. Ela conta que, pouco depois de casar e deixar o interior para morar em Maceió, o então marido começou a beber, chegar tarde em casa e agredi-la, primeiro com palavras, depois a proibindo de manter contato com amigos e familiares e, por fim, vieram os estupros e agressões físicas.

O ciclo de terror durou cerca de três anos. Josefa, já com três filhos, não sabia como proceder para se livrar do sofrimento, mas, após ser violentamente espancada, uma vizinha a encorajou a denunciar.

“Fui à delegacia com meus filhos e nunca mais voltei para casa. Voltei para o interior com medo que ele fizesse algo com as crianças para me atingir. Minha família me amparou e então, aos poucos comecei a me reerguer”, disse a faxineira.

“Hoje meus filhos estudam e trabalham, eu infelizmente não consegui coisa melhor, mas tenho um emprego digno e vivo em paz. Só me arrependo de não ter seguido em frente com a denúncia para ter visto a justiça ser feita”, concluiu Josefa.

Sancionada em 7 de agosto de 2006, a Lei nº 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha, foi criada para proteger a mulher em situação de violência doméstica e familiar. Ela foi batizada com esse nome devido ao caso da farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que ficou paraplégica em decorrência das inúmeras agressões e duas tentativas de homicídio cometidas pelo seu então marido, Marco Antonio Heredia Viveros. Condenado em 2002 a oito anos de prisão, o agressor ficou dois anos na cadeia e hoje está em liberdade.

Ao contrário de Marco Antonio, quando a lei que ele tristemente inspirou completa onze anos, milhares de brasileiras continuam presas a homens covardes, ao medo e a falta de apoio e perspectivas, mas, os números mostram que, a cada ano, aumenta a rachadura no vidro do silêncio, de forma que, um dia, o grito dessas mulheres será alto demais para ser ignorado, por quem quer que seja.

Em todo o País, denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo telefone 180, pela vítima ou por outra pessoa que tenha conhecimento da situação de violência.

Em Maceió:

– Coordenação de Políticas para as Mulheres:  Semas, Avenida Comendador Leão, número 1383, Poço. Telefone: (82) 3315-7873.

– Creas Jatiúca: Rua Deputado Luiz Gonzaga Coutinho, número 210, Jatiúca.  Telefone: (82) 3315-1605.

– Creas Poço: Praça Raul Ramos, S/N, Poço. Telefone: (82) 3327-3239.

– Creas Orla Lagunar: Rua Santos Pacheco, número, 342, Prado. Telefone: (82) 3221-2309.

– Creas Santa Lúcia: Avenida Belmiro Amorim, número 346, Santa Lúcia. Telefone: (82) 3315-6428.

– Creas Benedito Bentes: Conjunto Cidade Sorriso II, Rua P, Quadra E, Lote 7, Benedito Bentes. Telefone: (82) 3315-5919.

– 1ª Delegacia Especial de Defesa da Mulher: Rua Boa Vista, número 443, Centro. Telefone: (82) 32210676.

– 2ª Delegacia Especial de Defesa dos Direitos da Mulher: Conjunto Cambuci, número 65, Antares. Telefone: (82) 3315-4327.

– Juizado da Violência Doméstica contra a Mulher: Rua do Imperador, número 139, Praça Sinimbu, Centro. Telefone: (82) 2126-9671.