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Mamie Till e o luto das mulheres negras

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Veja publicação original: Mamie Till e o luto das mulheres negras

Por Ana Luiza Guimarães Pereira

 

No ano de 1955, em Money, uma pequena cidade do Mississipi nos Estados Unidos, o jovem Emmet Louis Till é brutalmente assassinado por Bryant e seu meio-irmão, JW Milan. Antes disso o menino de apenas quatorze anos é espancado e torturado. O motivo que absorveu os agressores foi a alegação de que Emmet teria assediado a esposa de Bryant, Carolyn Bryant no mercadinho do qual eles eram proprietários.

 

O fato é que mesmo o primo de Emmet negando as acusações, o caso fora arquivado, tendo sido considerado pelo júri que a motivação do crime foi “justa”. Sua mãe, Mamie Till, em seu velório fez questão de deixar o caixão aberto para que quem estivesse ali presente, pudesse ver a terrível situação do menino
(com um rosto completamente desfigurado). Mamie é dona de uma das frases mais marcantes que ecoam e estremecem até hoje aqueles que estudam e fazem parte do movimento negro: “I wanted the world to see what they did to my baby”. (Quero que o mundo veja o que fizeram ao meu bebê). Ela se tornou uma militante árdua pelos direitos civis dos negros no EUA.

Dedicou até seu último instante de vida para que não se repetissem casos como o de seu filho, lutou para que direitos básicos como os de viver fossem respeitados, que os negros pudessem ser visto como seres humanos. Com mais uma de suas frases marcantes, Mamie Till é força presente nas nossas lutas enquanto mulheres negras: “I don’t have a minute to hate, I’II pursue justice for the rest of my life.” (Eu não tenho nem um minuto para o ódio, vou buscar
justiça pelo resto da minha vida). Mamie morreu em 2001 e em 2007, 62 anos depois, Carolyn Bryant em um documentário desmentiu o assédio de Emmet.

Trazendo novamente a história para nossa atualidade, para o nosso país. Quantas histórias parecidas com a de Emmet não acontecem nas periferias? Quantos irmãos e irmãs, negros e negras, não são mortos e ainda levam o peso de uma falsa culpa? Quantas Mamie Till se encontram nas favelas? Mulheres que passam a vida lutando por justiça, lutando para desmentir as acusações que são usadas para “justificar” a morte dos filhos pelo revolver da polícia militar, que é a configuração da repressão deste Estado branco e racista. Mães que lutam para mostrar que era apenas um celular na mão do filho ou que o flagrante foi forjado.

A frase proferida por Mamie Till, que diz não ter nem um minuto para o ódio e que iria buscar por justiça pelo resto de sua vida, não deve ser lida de maneira poética; ela reflete o sentimento das mães negras que perdem seus filhos para este Estado, este leviatã genocida e racista que se compraz com o extermínio dos corpos pretos. Não é ódio como vulgarmente conhecemos, é algo que só quem sente são as mulheres negras que tem os filhos tirados delas desta maneira.

É mais do que sede por justiça, é força motriz que as conduz nessa batalha contra este monstro estatal. Para as mulheres negras o luto é diferente; não é sinônimo, é verbo e isso de nenhuma forma deve ser romantizado.

 

 

 

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