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Veja publicação original: Pabllo Vittar: o preconceito começa quando termina a piada
Por Vanessa Ventura
Pabllo Vittar é um orgulho nacional. A drag, de 22 anos, alcançou um espaço inédito na mídia tradicional brasileira, ao aparecer em programas de TV da emissora mais assistida do país e expandir seu público. Mundialmente, a jovem conquistou a impressionante marca de clipe de drag mais assistido no Youtube, superando até mesmo RuPaul, e agora abre as portas da sua carreira internacional ao lançar uma música em parceria com Anitta e Major Lazer. Embora haja um número massivo de comentários favoráveis a Pabllo, surpreendentemente, uma parcela da população ainda parece não reconhecer o seu mérito. O jornalista Amin Khader foi criticado pela própria Anitta ao passar uma entrevista inteira de costas para Pabllo, e até mesmo o colunista Perez Hilton omitiu o nome da drag em seu tweet sobre o lançamento do clipe Sua Cara. Será que não estamos prontos para dar espaço a uma drag quando ela ocupa um lugar diferente do hilário?
Um dos diferenciais de Pabllo é que ela vai além do que esperamos de uma drag. Quando pensamos em uma, quase sempre nos vem à cabeça montação, maquiagem, brincadeiras, dublagens musicais. Mas Pabllo, sem dispensar todos esses atributos – afinal, ela é, sim, divertida e super montada -, traz para sua atuação um viés político que discute temas como discriminação de gênero e homofobia. Desde criança, Phabullo, o jovem maranhense que dá vida a Pabllo, convive com esses assuntos. “Sofri muito no colégio por ter essa voz fininha”, revelou em entrevista para a Trip. “Uma vez, estava na fila da merenda conversando com uma amiga e um menino virou um prato de sopa quente na minha cara. Na cabeça dele, eu tinha que agir como um homem, falar com voz de homem, ser homem.” Já em entrevista para a redação da Veja, a artista disse: “Sou afeminada, tenho essa voz meio aguda, meio rouquinha, que as pessoas implicam muito comigo. Parem com isso. Isso é feio (…) muita gente morre todos os dias por causa disso. Ai… tô emocionada”.
O objetivo de Pabllo não é somente divertir, mas informar e dar visibilidade às suas semelhantes. “Pra que estar aqui toda emperiquetada se não vou poder ajudar a mana que está começando como eu comecei também?”, questionou ela na entrevista para a Trip. “Ser afeminado é revolucionário no sentido de dar a cara à tapa. São as bees afeminadas que estão na linha de frente, que levam o baque primeiro, são apontadas, levam lâmpada na cara. Se eu estou aqui, montada de drag, é porque muita gente morreu pra gente ocupar esse espaço. É fato.”
Ninguém é obrigado a gostar de Pabllo Vittar enquanto artista. Mas atuar como hater, falando mal de sua voz (que é seu ganha-pão, além da sua imagem), ignorando suas conquistas e rebaixando seu talento é reforçar preconceitos. Apoiar Vittar é um ato político, muito mais do que simples gosto musical. É fortalecer uma luta de pessoas que, finalmente, encontraram uma porta-voz à altura – e que tem potencial para tornar o seu discurso internacional.