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Death Note: Iluminando Um Novo Mundo ainda carrega traços machistas

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Veja publicação original: Death Note: Iluminando Um Novo Mundo ainda carrega traços machistas

 

Não, esse não é o filme da Netflix. Death Note: Iluminando um Novo Mundo é o quarto filme da saga iniciada em 2006, adaptação japonesa da obra homônima de Takeshi Obata e Tsugumi Ohba. Enquanto os dois primeiros filmes seguem o enredo do mangá e o terceiro é um spin-off, o quarto optou por seguir uma história totalmente original.

Mantendo-se fiel à mitologia e ao universo criado pelos autores, Death Note: Iluminando um Novo Mundo se desenrola de forma inteligente. Com uma ação controlada e psicológica, é muito diferente do estilo ocidental hollywoodiano com o qual estamos acostumadas. Assim como o mangá e os filmes anteriores, a manipulação do maniqueísmo e os jogos de inteligência recheiam o argumento do filme, mantendo o espectador entretido e atento.

Contexto 

Os protagonistas icônicos Light Yagami e L estão mortos. Cabe à nova força tarefa Death Note combater o surgimento de um novo Kira, 10 anos depois. Dessa vez, eles descobrem a existência de seis cadernos e a tarefa parece muito mais difícil do que foi anteriormente. Junto a Ryuzaki, investigador sucessor de L, a equipe japonesa tem que lidar com os esquemas engenhosos do novo serial killer.

Dessa vez, não vemos o ponto de vista do Kira diretamente. Temos apenas o da força tarefa, o que nos deixa cegos para a verdadeira intenção do assassino e seus planos. Tudo isso dá mais abertura para interpretações e plot twists.

Um filme para fãs

O longa é história redonda, com começo, meio e fim bem claros e que funcionam por si só. Porém, o filme ainda é para quem tem alguma familiaridade com a série. Mesmo sem precisar do auxílio dos anteriores para um total entendimento, ele revisita constantemente os detalhes e enchem as cenas com referências que só os fãs da obra original vão entender.

Fica claro que os personagens e história vivem na sombra dos feitos de Light e L e que até os personagens têm conexões especiais com eles. Explora a ideia de que o antagonista tem o DNA do Light e que o Ryuzaki tem o do L. Mesmo assim, os protagonistas têm seus próprios trejeitos e manias, acabando com a preocupação de quem estava esperando uma cópia barata de Light e L.

Os shinigamis, com suas personalidades e designs únicos, sempre foram um diferencial e ponto forte do mangá, dando um tom sinistro e uma perspectiva importante sobre a vida humana. Nesse filme, suas presenças também não deixam a desejar. Os deuses da morte ainda cumprem seu papel na trama sem banalizá-la ou deixá-la fantasiosa demais.

Com reviravoltas, personagens bem escritos e um quê sombrio, Death Note: Iluminando um Novo Mundo trata a obra original com respeito. Mesmo com o seu enredo único, não desaponta os fãs. Entretanto, para o espectador leigo, talvez fique difícil acompanhar o setting e o desenrolar dos fatos, que para quem está acostumado com o timing de Death Note, já tira de letra.

E as personagens femininas?

Quem está familiarizado com o mangá, sabe que Death Note é extremamente machista, tratando as personagens femininas apenas como obstáculos para o desenvolvimento da jornada do protagonista. Amane Misa é uma das únicas mulheres de toda a história e é extremamente estereotipada, objetificada e usada em um relacionamento abusivo.

Contextualizando rapidamente, ela é atriz, cantora, loira com um corpão, e burra. É introduzida na história literalmente para atrapalhar os planos do protagonista homem, que é inteligente e manipulador. Rapidamente, ele a usa para seus fins e estabelece uma relação extremamente abusiva, na qual ela até chega a encurtar a própria vida para obedecer suas ordens.

Misa, apesar desse contexto, é uma personagem bem construída e com uma personalidade definida. Mas, se formos comparar com os outros, ela tem poucas camadas e uma história rasa. Por ser a única mulher na história, fica claro seu papel, e é aí que sua inclusão se torna machista.

Por que é a mulher que tem que ser o obstáculo dos planos? Por que é ela quem tem que sofrer por uma relação abusiva e acatar com as ordens do homem? Por que é a única mulher da história que é a mais burra, a mais vaidosa e a quem a beleza se dá mais ênfase?

Mas e no novo Death Note?

Em Death Note: Iluminando um Novo Mundo, Amane Misa está dez anos mais velha e o seu papel é outro. Ainda assim, ela é uma das poucas mulheres em vista. Além dela, temos uma investigadora da força tarefa Death Note, que se limita a falar coisas genéricas, e uma serial killer.

Felizmente, Misa tem um papel importante e sua personagem não é tão maltratada pelos escritores como na obra original. Apesar de ainda viver na sombra de seu relacionamento com Light, dessa vez suas escolhas são mais racionais.

Não é um cenário ideal para o feminismo de jeito nenhum, considerando que ela nunca tem um arco de redenção e ainda serve como impulso para desenvolvimentos de personagens masculinos. Porém, é um avanço se formos comparar com a obra original.

Considerações finais

Death Note: Iluminando um Novo Mundo é um filme bem feito, com boas atuações e personagens bem construídos. Infelizmente, toda a genialidade do roteiro não se transporta para o cuidado com personagens femininas. Destaca-se por ser uma produção completamente japonesa, contrastando com a adaptação americana que a Netflix vai lançar em breve. Com reviravoltas, preocupação com detalhes e ótimas sequências de ação, é um filme que vai agradar os fãs e intrigar os novatos.

 

 

 

 

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