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Mulher Maravilha: Feminismo S/A

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Veja publicação original: Mulher Maravilha: Feminismo S/A

 

Por Mariana Mazzini

 

Para fazermos valer a história das guerreiras que nos antecederam e usarmos os superpoderes que o feminismo nos concede, precisamos ir muito além.

 

A atriz Gal Gadot interpreta a guerreira Diana no filme ‘Mulher Maravilha’.

E, enfim, fui ver Mulher Maravilha.

Se a nossa época de cinema fosse a de letreiros iluminados, poderia dizer que, quando cheguei, ele já estava se apagando. Diana já saía de cena, levando consigo uma bilheteria milionária.

E muita polêmica.

Quando resolvi ir, já tinha lido mais colunas e textões defendendo e criticando sua abordagem de gênero do que sinopses e avaliações do filme.

Parecia ser um filme imperdível para quem é feminista.

E é.

Ouso dizer que é icônico do feminismo na atualidade. Basta só colocar os óculos 3D com as lentes lilás de gênero. As feridas do feminismo estão ali, mais expostas do que os corpos e as curvas da protagonista – o que, aliás, gera (justas) críticas à super-heroína há décadas.

Das muitas jornadas de Diana, entretanto, queria mesmo fincar o pé em Themyscira. A ilha foi criada pela DC Comics para receber mulheres que vinham de histórias muito antigas: as amazonas gregas.

No filme Mulher Maravilha, contudo, é possível ver o vulto de outros habitantes da ilha. E também de duas das ideias mais atuais do feminismo.

A primeira, o empoderamento. As amazonas do filme são guerreiras perfeitas. Habilidosas para a guerra e comprometidas com o amor e com a paz. Praticamente o semideus do poema do Fernando Pessoa (aquele que nunca levou porrada), só que no feminino. Empoderadas.

O empoderamento significa o grito feminino de “Yes, we can”. Uma descoberta de que cada “indivídua” pode se emancipar e, assim, se tornar uma potência. Fazer tudo aquilo que um homem pode fazer. E até melhor.

Mas ele também é uma das contradições mais marcantes do feminismo nos dias atuais. Ao gritar uma palavra de ordem que tem poder no nome, e compreendê-lo como uma habilidade que revela supermulheres, sua reverberação amansa a rebeldia e a radicalidade do feminismo. Como se fosse possível superar o machismo sem refundar a sociedade em que vivemos. Bastasse virarmos super-heroínas.

O feminismo que vende camiseta de grife e estampa Fridas em bolsas caras é o mesmo que dociliza as amazonas. Essas mulheres violentas e desgrenhadas que até mesmo extirpavam um seio para melhor manejar o arco e flecha. Imperfeitas e mergulhadas em suas contradições.

E o que dizer de Diana (ou Ártemis, para a mitologia grega), a deusa da caça, que lançou um homem que a viu nua para ser estraçalhado por cachorros? E que, no filme, parece um misto de embaixatriz da ONU para a paz com uma Sandy guerreira?

Não quero, com isso, defender que feministas se organizem em gangues de assassinas brutais. Ou que a guerra é melhor que a paz. O ponto é como ideias incendiárias são substituídas por aquelas que se encaixam na ordem das coisas. E que também tornam as mulheres escravas de um ideal.

Mas, alguém poderia levantar da plateia e dizer: “Opa, pera lá. Mas no filme elas só são empoderadas porque estão juntas. E juntas elas são fortes”.

E aí chegamos à segunda ideia que circula por Themyscira: a sororidade. É pela união e pelo companheirismo das mulheres que nasce essa força. Mulheres jovens e idosas, brancas e negras, pobres e ricas. Todas marchando uma do lado da outra. Até que todas sejam livres.

Será mesmo?

feminismo negro, a força mais potente de um feminismo realmente radical, vem cantando essa bola faz tempo. A reivindicação da sororidade mascara diferenças e hierarquias que existem entre as próprias mulheres, criando uma lenda de amor de irmãs que, na verdade, é realidade para poucas.

As mesmas poucas que podem se empoderar. As eleitas da ilha. As semideusas que o feminismo também ajudar a criar.

E isso significa que o empoderamento e a sororidade são, na verdade, uma dupla de vilãos disfarçados? E que o feminismo popularizado nos últimos anos deve ser mais combatido do que o deus da guerra?

A questão aqui é que a história do feminismo não é enredo de Hollywood. O assunto não é papo de herói e bandido (ou de heroína, no caso).

Cada uma de nós pode buscar sua resposta a essas perguntas, inclusive juntas. Uma das possibilidades é entender que a disseminação do feminismo é tão importante quanto essas ideias que ganharam força com ele. Mas que isso não é suficiente.

E que para fazermos valer a história das guerreiras que nos antecederam e usarmos os superpoderes que o feminismo nos concede, precisamos ir muito além de Mulher Maravilha.

*Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do HuffPost Brasil e não representa ideias ou opiniões do veículo. Mundialmente, o HuffPost oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

 

 

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