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Quando a ameaça se transforma em morte

Saiu no site NE 10 UOL:

 

Veja publicação original: Quando a ameaça se transforma em morte

 

No artigo de hoje falarei sobre um crime que muitas mulheres vítimas de violência doméstica sofrem, a ameaça. Esse é um crime que muitos consideram irrelevante, achando que são apenas palavras e gestos de menor importância. Com isso, muitas mulheres que são ameaçadas de morte pelos companheiros não denunciam, acreditando que a ameaça de morte nunca irá se cumprir. Porém em alguns casos se cumprem e o agressor mata a mulher, cometendo o feminicídio.

Como já expliquei em outros artigos, a violência doméstica/familiar é um ciclo que vai crescendo. Se a mulher não romper com esse ciclo, ela poderá se tornar uma vítima de feminicídio. E a ameaça está no início desse ciclo. Ela é considerada uma violência psicológica, onde o agressor intimida a mulher para que ela obedeça a todas as suas vontades e comandos.

Em uma relação emocional conflituosa, a ameaça se torna extremamente perigosa, pois o homem que externa a vontade de matar a mulher, demonstra que tem uma personalidade violenta e agressiva, podendo cumprir com a promessa. Com o crescimento dos conflitos, aquela vontade externada vai aumentando, colocando a mulher em situação de risco iminente. Por isso é importante que a mulher denuncie na primeira ameaça, rompendo com o perigoso ciclo da violência.

SUZANA NÃO ACREDITOU NAS AMEAÇAS DO COMPANHEIRO

Não foi essa a atitude que Suzana (nome fictício) tomou quando foi ameaçada. Ela achou que eram apenas palavras vazias, até que um dia Tadeu (nome fictício) cumpriu a promessa e a matou. Conversei com Laura (nome fictício), irmã de Suzana, que muito emocionada resolveu falar, como uma forma de alertar as mulheres que vivem relações conflituosas, sofrendo violência doméstica.

Muito emocionada, Laura relembrou o caso, “minha irmã sempre viveu um relacionamento doentio. Tadeu sempre a traiu, a tratou mal, mas ela não queria deixá-lo. A família e os amigos tentaram ajudar de todas as formas, mas não adiantava, ela estava dominada por ele. Chegou ao ponto que Tadeu não se preocupava mais com as pessoas, ameaçava e agredia Suzana na frente de todo mundo. Um dia eu disse a Suzana que iria denunciar Tadeu em uma delegacia, e ela me respondeu que se eu fizesse isso, ela deixaria de ser minha irmã e romperia com a família para sempre”.

Há muitos casos em que a família, os amigos procuram ajudar a mulher vítima de violência, mas não conseguem porque o homem agressor já conseguiu dominar o emocional da mulher, fazendo-a acreditar que não consegue viver sem ele. Por isso que em muitos casos é necessário a intervenção de profissionais especializados (médicos, psicólogos, assistentes sociais) para resgatar a autoestima da mulher e romper com o sofrimento, evitando que o ciclo da violência aumente e evolua para a morte. Laura relembrou, “fizemos de tudo, até que Suzana resolveu se afastar da família e foi com Tadeu morar em outro estado. Com isso ficou mais difícil ter informações dela. Suzana não queria ajuda, ela sempre dizia que era feliz com ele e que a família queria acabar com a felicidade dela”.

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Fizemos de tudo, até que Suzana resolveu se afastar da família e foi com Tadeu morar em outro estado

Irmã da vítima

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O tempo foi passando e Suzana foi deixando de entrar em contato com a família. Os telefonemas ficaram cada vez mais esporádicos, o que preocupou todos da família. “Ficamos desesperados com o sumiço de Suzana, e para tranquilizar meus pais, resolvi ir até o local em que Suzana estava morando. Ela não sabia que eu iria e a peguei de surpresa. Quando ela abriu a porta, me assustei. Minha irmã que era linda e cheia de vida estava desarrumada, com olheiras profundas, acima do peso, com aspecto de tristeza. Dei um forte abraço em Suzana e ela olhou para mim e perguntou o que eu tinha ido fazer lá. Disse que nossos pais estavam preocupados com ela, pois a amávamos muito. E, de imediato Suzana me respondeu, quem me ama muito é Tadeu, ele não vive sem mim. E pediu que eu fosse embora e não voltasse mais”.

Essa foi a última vez que Laura viu Suzana com vida. Ela me disse que Suzana era vaidosa, cuidava do corpo e dos cabelos, sempre sorridente e feliz, com muitos planos na vida. E quando ela viu a irmã abrindo a porta, a impressão que ela teve é de que Suzana tinha desistido de tudo, dos sonhos, da vida, da família, dos amigos. Laura não conseguiu conversa com Suzana, pois ela disse que estava feliz e não precisava de ajuda. E assim, Laura retornou para casa chorando e chocada com o que tinha visto. Laura desabafou, “fiz tudo o que podia, não tinha como trazer Suzana a força para perto da família, ela simplesmente não queria”.

Cerca de cinco meses depois, os pais de Suzana receberam um telefonema dos policiais do estado em que ela estava morando com a seguinte notícia, “sua filha foi assassinada pelo marido, ele deu dois tiros nela”. O mundo desabou para a família de Suzana. E Laura finalizou dizendo, “acho que no fundo nós já esperávamos por essa notícia. Vi a minha irmã morrendo quando ela abriu aquela porta. É por isso que estou em lágrimas dizendo tudo isso para que as mulheres que passam pelo o que Suzana passou se conscientizem de que homens que ameaçam e agridem a mulher, matam. A morte da minha irmã foi anunciada, e ela não teve forças e não quis ajuda. Não seja mais uma Suzana, aceite ajuda dos seus amigos e familiares, são essas pessoas que realmente te amam”.

Ao terminar, Laura chorou por algum tempo relembrado tudo o que ocorreu com sua irmã Suzana. Ela me disse que se sentiu impotente, de ver sua irmã morrendo a cada dia, sem poder fazer nada. “Um pedaço de mim morreu com minha irmã, e nunca mais conseguirei ser a mesma pessoa”.

Amiga, se você está passado pelo mesmo problema de violência doméstica sofrido por Suzana, não fique calada esperando a morte chegar. Rompa com o ciclo da violência e denuncie. Uma pessoa que convive com você e diz constantemente que vai lhe matar, está demonstrando que é violento e quer lhe destruir. Não permita que a promessa se concretize. Se você não tiver forças para ir sozinha a uma delegacia de polícia denunciar, procure os amigos e familiares. Se você estiver desequilibrada emocionalmente, procure ajuda dos profissionais do Centro de Referência da Mulher que irá te atender gratuitamente e te fortalecerá para superar a dor. Transforme sua dor em superação e se afaste da violência, não permita que ninguém te faça sofrer, escolha ser feliz.

VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA. A LEI MARIA DA PENHA IRÁ TE PROTEGER!

EM QUAIS ÓRGÃOS BUSCAR AJUDA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER:

» Centro de Referência Clarice Lispector – (81) 3355.3008/ 3009/ 3010

» Centro de Referência da Mulher Maristela Just – (81) 3468-2485

» Centro de Referência da Mulher Márcia Dangremon – 0800.281.2008

» Centro de Referência Maria Purcina Siqueira Souto de Atendimento à Mulher – (81) 3524.9107

» Central de atendimento Cidadã pernambucana 0800.281.8187

» Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal – 180

» Polícia – 190 (se a violência estiver ocorrendo) – 190 MULHER

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