Do inicio do ano até a última segunda-feira (17) pelo menos 18 mulheres foram mortas no Estado, segundo estáticas da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública).

Apesar de compilar os feminicídios (assassinatos de mulheres), independente da circunstância, na grande maioria dos casos o crime é consequência de uma tragédia anunciada e que é rotina na vida da maioria das vítimas. A violência doméstica.

Três Lagoas é uma das cidades que lideram no número de ocorrências. Por lá, foram cinco feminicídios registrados até este mês, segundo a Polícia Civil. Número que preocupa e expressa o resultado de uma “equação” de violências que resultaram no pior.

“O principal fator é a violência doméstica. Na maioria dos casos a vítimas já vinham sendo agredidas, física e psicologicamente, algumas vezes até denunciavam o agressor, no entanto, reatavam o relacionamento”, comentou a delegada Letícia Móbis Alves, titular da DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher de Três Lagoas).

Pelo município, são registrados de 130 até 140 boletins de ocorrência de violência doméstica, por mês. E o perdão ao agressor, por medo, tem colocado as próprias vítimas em situação de risco constante.

“Em 70% dos casos atendidos na cidade elas voltam a se relacionar com o marido. Tendem a achar que o agressor vai melhorar o comportamento”. E os motivos, segundo a delegada tem influência dos mais diversos fatores.

“Algumas tem baixa auto-estima, tem o receio de nunca encontrarem outro parceiro ou até perder a estabilidade financeira por conta dos filhos”. O perdão, contudo, acaba dando mais segurança ao agressor.

“Ele acaba se achando mais confiante. Mesmo quando é preso e sai da cadeia, sabe que vai voltar com a mulher e essa ideia de impunidade acaba estimulando ele a manter as agressões até a morte. O importante é que a mulher não reate e denuncie as agressões”, conclui.

Violência – Por Três Lagoas, em alguns dos casos de maior repercussão, neste ano, em uma sexta-feira, 10 de fevereiro, a dona de casa Vanda Júlio Borges, 42, foi morta enforcada e depois enterrada pelo marido Luciano Nunes Brito, 41 anos.

Após discussão o homem e a enforcou com uma corda de nylon, colocou o corpo em saco plástico e a enterrou em frente à fazenda onde o casal morava. Na noite do último dia 07 de junho, o pedreiro Ramão Carvalho de Souza, 56, matou a tiros a enteada Talia Soares Rech, 19 e deixou em estado grave a esposa Elza Aparecida Soares, 47.

Á polícia, depois de ser encontrado em um matagal depois de tentar fugir o homem também confessou que o crime teria sido motivado, após uma discussão sobre as contas de casa. Ainda no mês de junho, num domingo (25), a jovem Hevelyn de Abreu Xavier, 24, foi estrangulada até a morte, no quarto de sua residência.

O assassino era seu ex-marido, Allan Cézar Santos Morais, 33 anos, que confessou o crime a um amigo por áudio de WhatsApp. Dias antes da morte Allan havia comprado remédio abortivo e obrigado a jovem a tomar o medicamento.

No interior – Pelo interior, outros casos mais recentes também não ficam fora das estatísticas. Nesta segunda-feira (17) em Paranaíba, Danieli dos Reis Miranda, 20, foi morta com 34 facadas desferidas pelo marido, Marcílio Batista Rocha, 36, que tentou se matar em seguida, se ferindo a golpes de faca.

Em Chapadão do Sul, distante 321 quilômetros de Campo Grande, nesta segunda-feira (17), um casal de empresários foi encontrado morto a tiros. Os dois estavam separados e a suspeita é de que Maurício Fátimo da Silva, 55 anos, atirou na ex-mulher, Angelita Félix da Silva, 48 anos e em seguia cometeu suicídio.

Pela Capital – Em Campo Grande, ainda segundo a Sejusp foram registrados pelo menos quatro feminicídios, este ano. O Campo Grande News não conseguiu contato com as delegadas da Deam (Especializada de Atendimento à Mulher) de Campo Grande, para comentar sobre os casos.

Num dos crimes de maior repercussão, ainda em fevereiro, na manhã de uma segunda feira, dia 13, a funcionária pública Luciane de Freitas Souza, 43 anos, foi encontrada pela própria filha, 13, morta na piscina de casa.

O principal suspeito, seu ex-marido Vagner Lopes, 39 anos, foi preso quatro dias depois em Sidrolândia, a 71 quilômetros de Campo Grande. Inconformado com o fim da relação Vagner confessou que quebrou o pescoço da ex antes de jogá-la na piscina.

Por sete anos Ramona Regilene Silva de Jesus, 44 anos, manteve uma relação pautada pelo amor, violência e pena, com seu assassino, o marido Genilson Silva de Jesus, de 41 anos.

Alcoólatra, o homem já havia agredido ela por diversas vezes durante o casamento até que em um domingo, dia 04 de junho, após almoço em família o suspeito a esfaqueou dentro de casa, pela Rua Rosa Ferreira Pedro, no residencial Celina Jallad pelo bairro Portal Caiobá.

Mas segundo moradores, mesmo ferida, ela atravessou a rua em busca de socorro, mas levou uma rasteira e foi atingida por mais vezes na frente dos vizinhos. Genilson fugiu, tentou acordo por meio de advogados com a polícia, mas foi preso dois dias depois.

Adriano Fernandes

Acesse no site de origem: Violência e medo: a equação que já matou 18 mulheres em MS em 2017 (Campo Grande News – 19/07/2017)