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O Sindicato das Indústrias do Vestuário do Estado de Minas Gerais (Sindvest-MG) considera que a tendência aponta para um mercado em expansão.
A LED nasceu voltada para o público feminino e, em 2015, passou pela transição até se encontrar nessa proposta sem rótulos. Os criadores a definem como uma marca de “gênero livre”. “Acredito que cada um é o que quiser. Num estado tão tradicional, vemos que quebramos paradigmas”, comenta Dias. Segundo Marta, o concurso Ready to go é um bom termômetro da expansão dessas marcas.
“O concurso já está na décima edição e os vencedores eram mais marcas de festa. Mas, na última, a LED venceu e, na penúltima edição, a Molett”, ressalta. A Molett também se insere na moda sem gênero.
No caso da LED, o ponto de partida para a criação das peças é o conforto e as modelagens mais soltas que caem bem em vários tipos de corpos. Não há restrição na paleta de cores, que vai desde os tons pastéis aos metalizados. “A moda reflete o espírito de uma época.
A gente vive um momento de empoderamento, o corpo é usado como resistência e cada um pode escolher a identidade de gênero”, diz. Para marcar essa posição, a LED conta com modelos transgêneros em sua campanha.
Na quinta-feira, será lançada a marca A João, que já mostra a que veio, a começar pelo nome. O tradicional João, nome comum entre os brasileiros, ganha o pronome feminino “a” e evidencia que as roupas são para quem quiser. “Não quero fazer saia para homem e blazer para mulher.
As duas coisas se misturam e as peças de roupa são para quem quer que seja. O gênero não importa. Estou oferecendo um produto”, afirma o designer de moda João Paulo Souza, de 29 anos.
A João parte da experiência de seu criador. “Não sou nem homem nem mulher. Muita gente se identifica muito como não binário”, afirma João. Ele também reforça que a marca reflete um momento da sociedade. “Com a internet, as pessoas começaram a se comunicar mais.
Nesse caldeirão, o feminismo ganha força e as questões da sexualidade e da identidade de gênero”, diz. João prefere não falar saia ou bermuda, mas tratar as peças como “inferiores”, e nem vestido, mas tratar como “peça única”.
A designer mineira Sônia Pinto, que prefere ser chamada de “fazedora de roupas”, foi uma das pioneiras nesse mercado e já aposta nesse conceito há pelo menos 25 anos. A marca, que leva seu nome, destaca-se por roupas atemporais e minimalistas, com cortes que vestem qualquer corpo. “Minha roupa é absolutamente sem gênero. Todos têm o direito de se vestir da forma que acharem melhor.
O ser humano é único, cada um procura se adequar àquilo que acredita e se expressar à sua maneira”, afirma Sônia, que conta com lojas em Belo Horizonte e São Paulo. Ela avalia que o crescimento desse mercado está, literalmente, “na moda”. “Está havendo uma revolução e uma evolução natural da vida”.
Grandes grifes
As lojas de departamento embarcaram nesse mercado e, no início do ano, a Zara lançou a sua segunda coleção sem gênero, batizada de Ungendered. As peças apostam em tons neutros, de modelagem larga e tecidos de algodão ou jeans. A C&A também aderiu à moda e, no ano passado, lançou a coleção Tudo Lindo & Misturado, com muito jeans, camisas sociais e jaquetas largas.
Os dois magazines acabaram criticados pelos consumidores, que consideraram que a coleção não foge do já consagrado unissex.
O designer Célio Dias reforça que a moda unissex é diferente da moda sem gênero. “O unissex é definido por certas peças de roupas voltadas para homens e mulheres. A moda gênero livre quebra o padrão e não define para quem são as roupas”, explica.
A discussão da moda sem gênero veio à tona sobretudo a partir de 2015, depois do desfile da Gucci, assinado por Alessandro Michele. Na passarela, a grife trouxe modelos de estética andrógina e com looks que promoviam uma fusão entre os guarda-roupas feminino e masculino. Ternos floridos, blusas de babados, peças em alfaiataria.
“A moda sempre tocou nesse assunto. Não é de hoje. Mas não era tão comercial”, afirma o designer de moda João Paulo Souza, de 29 anos.
Glossário
Identidade de gênero: é a forma como cada pessoa se reconhece e deseja que os outros a reconheçam. Homem, mulher, não binário, etc.
Não-binário: é um termo que abarca várias identidades
de gênero para quem não se reconhece no sistema binário,
Moda infantil
A moda sem gênero também ganha espaço entre as marcas de roupa infantil. A Miine, da empreendedora e mãe Bruna Hirszman, de 36 anos, se propõe a criar roupas livres como a infância. “Fazemos uma roupa sem gênero pela sustentabilidade. O irmão e a irmã podem usar a mesma roupa”, explica.
A proposta surgiu como resposta a uma dificuldade enfrentada dentro de casa. “Tenho uma filha de 5 anos e um filho de 2 anos. Pude aproveitar poucas roupas para os dois e acredito que a roupa pode passar por gerações”, diz.
Ela reforça que a marca não discute gênero, mas levanta a bandeira do gênero neutro. Segundo Bruna, a Miine é um manifesto pela liberdade, com roupas confortáveis, sem cara de adulto e cores que fogem à regra “menino usa azul e menina veste rosa”. “Prezamos pela liberdade de movimento para a criança brincar à vontade, se vestir sozinha. A infância é a liberdade de escolher o que ela quer e o que gosta”, afirma.
Veja publicação original: Moda sem gênero ganha cada vez mais simpatizantes e aponta mercado em crescimento