Saiu no site ESQUERDA DIÁRIO:
Reproduzimos, na íntegra, intervenção de Diana Assunção, fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas no Brasil, na conferência sobre Feminismo e Marxismo realizada em novembro de 2016, no auditório do Centro de Humanidades da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), organizada pelo Esquerda Diário Nordeste. Este texto também pode ser encontrado no livro recém lançado “Feminismo e Marxismo” pelas editoras Centelha Cultural e Edições Iskra.
“É a primeira vez que venho para a Paraíba. Estou bastante contente por participar dessa atividade porque eu acho que, pra além da explanação que vou fazer aqui, é possível ter uma troca maior pra que eu possa conhecer mais a realidade das mulheres da na região.
A questão de gênero é um debate urgente, necessário e polêmico. E também é urgente as controvérsias que existem entre os debates que já se arrastam por muitos e muitos anos entre feminismo e marxismo. Então vou tentar fazer primeiro um resgate histórico e teórico sobre a relação entre ambas as correntes de pensamento pra depois entrar nos debates mais atuais, a partir de uma série de elaborações teóricas da fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas na Argentina Andrea D’Atri.
Historicamente, o feminismo sempre teve de buscar algum interlocutor do ponto de vista dos debates teóricos e de estratégia. Se a gente for ver o feminismo dos primórdios, os precursores do feminismo começaram em debate com o que era a burguesia em seu momento revolucionário – ainda que toda a primeira onda, que é bastante extensa, vai se chocar depois, no movimento sufragista, com o momento em que a burguesia já não cumpre um papel revolucionário do ponto de vista da transformação da sociedade. E a chamada segunda onda do feminismo, mais ou menos na década de 1960, mas principalmente década de 1970, teve como interlocutor o marxismo. Ou seja, era necessário abordar conceitos como luta de classes, socialismo, exploração, uma série de temas que o marxismo já vinha trazendo como parte de sua experiência histórica e, obviamente, se propunha a uma transformação radical da sociedade. E o feminismo tinha e ainda tem o marxismo como interlocutor.
O esforço teórico do movimento feminista historicamente caminhou na direção de tentar unificar os conceitos de classe e gênero, mas, em certos momentos, buscando, inclusive, colocar uma visão de que o gênero seria uma forma de classe ou seria diretamente uma classe. Ou seja, as mulheres comporiam uma classe social. Essas interlocuções que o feminismo foi tendo mostram uma necessidade concreta, porque o feminismo busca transformar algo, transformar uma situação que está colocada, no caso a situação de opressão, ainda que possam existir uma série de estratégias. Mas era necessário sempre dialogar com as tendências revolucionárias que estavam colocadas em determinado momento histórico, e no último período é inevitável não dialogar com o sentido concreto do que é o marxismo como uma ferramenta da luta de classes. Então, nesse sentido, termina sendo também um reconhecimento implícito de que a classe trabalhadora, a luta de classes e o socialismo são categorias que dão conta de explicar mais profundamente o modo de produção atual no qual a gente vive, que é o modo de produção capitalista. Aí está um dos pontos centrais das controvérsias e das polêmicas entre o feminismo e o marxismo nos últimos 50 anos.
Ainda que a opressão às mulheres e a exploração de classe sejam anteriores à exploração do trabalho assalariado, tanto o feminismo quanto o marxismo surgiram nesse modo de produção capitalista. Então o desenvolvimento do proletariado e a destruição da economia familiar pré-capitalista se encontram na origem da base de ambas as correntes. Ou seja, não tem como, ainda que seja pela negativa, não tratar da relação entre opressão e exploração.
O ponto de vista do marxismo revolucionário, que é o ponto que eu defendo, considera que a sociedade é dividida em classes sociais onde uma pequena classe, a burguesia, expropria o trabalho de uma classe muito maior, a classe trabalhadora, através da mais-valia, através de deter os meios de produção. Ou seja, a raiz da sociedade é a exploração capitalista. E a opressão é um conceito distinto da exploração, é um conceito que dá conta de pensar que existem grupos socialmente subordinados na sociedade pelo gênero, raça, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, uma série de elementos que configuram um conjunto como grupo social e por conta disso são subordinados em nossa sociedade. A relação entre esses dois conceitos é uma questão muito importante para o marxismo porque a combinação entre opressão e exploração é o que potencializa e renova as formas de exploração e de dominação capitalista no modo de produção atual. Isso não tira o elemento de que a raiz da sociedade é a divisão entre as classes, mas traz uma proporção muito grande para o quanto essa combinação tem um efeito imediato na vida, por exemplo, das mulheres trabalhadoras, que são exploradas pelos patrões, mas também sofrem a opressão de gênero por serem mulheres. Justamente por essa engrenagem pela qual a opressão consegue aprofundar no sistema capitalista que o marxismo revolucionário considera que é impossível terminar com as opressões sem terminar com essa sociedade de classes.
Existem muitos feminismos. Como a gente está vivendo uma onda do movimento feminista internacionalmente, em particular na América Latina e mesmo no nosso país, com muitos movimentos do feminismo, sendo inclusive denominado de “Primavera Feminista”, é difícil de definir cada corrente. Mas em linhas gerais, do ponto de vista mais histórico internacional, há muitos feminismos que colocam visões que se chocam diretamente com as visões do marxismo ainda que não possam negá-las, ainda que seja em diálogo com o marxismo.
As feministas liberais, por exemplo, que seriam o feminismo burguês diretamente, defendem que a sociedade moderna, a sociedade capitalista com os seus avanços tecnológicos, suas riquezas e abundância e com o desenvolvimento da democracia como regime político permitiria a luta pela equidade de gênero, que seria alcançada de forma progressiva e gradual.
Este debate ocorre num momento em que importantes figuras mulheres disputam inclusive as posições de poder dos principais imperialismos mundiais, como foi o caso de Hillary Clinton nos Estados Unidos. E ela é uma expressão bastante concreta do que é esse feminismo liberal, burguês. Na sua própria campanha utilizou das bandeiras das mulheres, chamando a um voto feminino a ela contra Donald Trump que não é preciso nem dizer o quanto é um representante dos setores mais reacionários da sociedade. Mas ela apresentava justamente uma posição de que por ser mulher as mulheres deveriam votar nela. E a Nancy Fraser, que é uma feminista norte americana declarou que não votaria nela – tampouco em Trump – porque definia o feminismo da Hillary como um “feminismo pra poucas mulheres, um feminismo pra mulheres privilegiadas”. Esse é o feminismo liberal, só que o feminismo liberal, ainda que não seja defendido como corrente, tem transcendência em outros feminismos, também do ponto de vista de como define a questão de gênero dissociada do problema de classe. A vitória de Donald Trump trouxe outros debates ao feminismo que resultou em uma das maiores marchas de mulheres da história, rechaçando a cara mais machista e xenófoba do imperialismo, mas num movimento onde é necessário ter clareza de que o maior perigo que está colocado na era Trump é a separação da classe trabalhadores e os movimentos democráticos de luta pelos direitos das mulheres, negros e LGBT´s, algo que o populismo de direita deste governo alenta.
Já o feminismo radical, que é um feminismo que surge bastante em debate com o próprio feminismo socialista, coloca um certo ceticismo em relação ao que é o socialismo. Diferente do feminismo liberal, o feminismo radical defende, afirma e enfatiza que a existência da dominação masculina, ou seja, o patriarcado, passou por todas as sociedades. Só que, justamente, se colocam céticas em relação à possibilidade de que uma destruição do sistema capitalista e a substituição por uma nova sociedade, o socialismo no caso, fosse capaz de criar uma verdadeira democracia baseada na abolição da escravidão assalariada e por essa via terminar com a opressão de gênero e com outras opressões.
No caso das feministas radicais, elas defendem uma visão de que não é possível ter uma mudança social sem uma mudança cultural, que cada um teria que começar a mudar a si próprio para depois mudar a sociedade. Ou seja, em última instância, defendem que as contradições que atravessam o conjunto da sociedade, inclusive as contradições que atravessam os setores de esquerda, o movimento operário, os sindicatos, o movimento estudantil, a academia etc, que são contradições reais da sociedade, impedem que exista uma mudança radical da sociedade, que isso teria que começar pelo indivíduo. Justamente por isso, também, dão uma ênfase muito grande na constituição de organizações sem hierarquia, espontâneas, somente com mulheres, onde o objetivo central seja a autoconscientização, o que permitiria transformar as relações opressivas sem acabar com o capitalismo.
Mesmo com essas linhas gerais sobre o que é o feminismo radical do ponto de vista mais internacional, há uma série de diferenças teóricas e mesmo políticas entre vários grupos que reivindicam o feminismo radical. Têm grupos que veem a necessidade de aliança com setores socialistas, por exemplo, têm setores que absolutizam a recuperação de uma cultura feminina como fim em si mesmo, têm grupos que defendem políticas diretamente separatistas e defendem que os homens são os inimigos (e flertam com a definição de que as mulheres seriam uma classe, que a revolução seria feminina e não da classe trabalhadora), há grupos feministas radicais que sustentam posições que beiram o essencialismo e o biologicismo, chegando a posições transfóbicas em relação a mulheres trans etc. Ou seja, tem uma série de vertentes em um momento em que esse tema está muito aflorado e vai se renovando e sempre se debatendo.
Partindo desses elementos e para debater mais com o feminismo radical, quero entrar um pouco mais na relação entre capitalismo e patriarcado. Ainda que o próprio feminismo radical dissesse que o marxismo não considerava que a opressão existisse antes do capitalismo, tanto Marx quanto Engels insistiram bastante na definição de que em todas as sociedades com Estado, inclusive as pré-capitalistas, existia a vinculação do patriarcado frente à existência das classes sociais. Tem uma passagem bastante emblemática de um dos livros mais importantes do Engels que é “A origem da família, da propriedade privada e do estado”, onde ele coloca o seguinte: “O primeiro antagonismo de classe que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia e a primeira opressão de classe com a do sexo feminino pelo masculino”.
A diferença para os marxistas é que patriarcado e capitalismo estabeleceram uma relação diferente e superior nesse sistema capitalista do que anteriormente nas outras sociedades. Rosa Luxemburgo fez uma definição que ajuda nesse conceito também. Ela colocava que “o capitalismo é um sistema de discriminação na exploração, ao mesmo tempo em que é de exploração sistemática de toda forma de discriminação”, mostrando bastante essa relação entre a exploração e o problema da opressão. Tudo isso para dizer que a opressão já existia, e sob o capitalismo ela introduz um incremento diferencial na exploração. Mas isso não é suficiente para explicar o problema da opressão, porque sob o capitalismo também existem as opressões que descartam a combinação com a exploração e resultam diretamente em mulheres que compõem a classe dominante, mulheres que não sofrem a exploração ainda que possam ser casadas com homens burgueses e ser oprimidas por sua condição de mulher ali na relação entre homem e mulher. Mas são mulheres que não são exploradas, então estão fora dessa combinação. Pro marxismo, o gênero é um grupo policlassista, não é uma classe.
Sobre esse incremento da opressão na exploração, Marx utilizou um conceito que ele chamava de cheap labour, que significa trabalho barato. Como, no desenvolvimento do capitalismo, é possível utilizar desses grupos socialmente subordinados pelo gênero, pela raça etc, para conseguir explorar mais, rebaixar o salário desses setores e por essa via rebaixar o salário do conjunto da classe? É o que aconteceu historicamente com as mulheres, também com as crianças num período anterior, e é o que a gente vê acontecendo hoje, por exemplo, em relação à precarização do trabalho. Eu organizei um livro que se chama “A precarização tem rosto de mulher” porque a entrada da mulher no mercado de trabalho ocorreu de um ponto de vista que combinava o elemento da precarização. É uma feminização do mundo do trabalho acompanhado da sua precarização, e que no nosso país em particular não tem o rosto só de mulher, tem rosto de mulher negra, de mulher imigrante. É um exemplo bastante gráfico de como esse incremento e essa relação entre opressão e exploração se dá bastante concretamente nesse livro.
No livro eu comento a história de luta das trabalhadoras terceirizadas da USP. Aqui também deve ter terceirização, especialmente na área da limpeza, porque praticamente o Brasil inteiro é terceirizado nesse setor. Foi muito interessante esse processo de luta porque também do ponto de vista da luta de classes a relação entre opressão e exploração se expressava no avanço das mulheres trabalhadoras como sujeitos políticos da sua própria classe e da sua própria luta. A gente conta a história de uma trabalhadora que se chama Silvana, que também é parte do grupo de mulheres Pão e Rosas, onde em meio ao processo de luta ela foi se transformando em uma grande liderança da greve e isso foi entrando em choque com a situação de subordinação que ela tinha dentro de casa. A conclusão a que ela chegou é que era incompatível ela ocupar a Reitoria da universidade, fazer piquete, enfrentar a polícia, enfrentar o patrão da empresa terceirizada e depois chegar em casa, abaixar a cabeça pro marido e fazer o jantar. Começou a achar que tinha uma disparidade entre as duas coisas. E ela chegou a uma frase bastante interessante que é: “se eu enfrento o meu patrão no meu local de trabalho eu não posso aceitar ter um patrão dentro de casa”. A partir disso ela passou a impor uma série de debates dentro da própria casa, com o marido que também era terceirizado e estava em greve. Fez uma série de discussões que questionava o papel naturalizado da mulher enquanto provedora dos serviços domésticos. É uma experiência bastante interessante para mostrar do ponto de vista da luta de classes a relação entre a questão de gênero e a questão da luta contra a exploração capitalista.
Para retomar algumas definições, retomo Andrea D’Atri. Ela disse em suas elaborações teóricas que os avanços tecnológicos nas últimas décadas converteram ao alcance das mãos a socialização das tarefas domésticas. Entretanto tudo isso ocorreu sempre carregado de uma contradição. O capitalismo empurrou as mulheres pra produção, mas fez isso com salários menores do que o dos homens pra dessa forma conseguir pressionar a redução do salário no conjunto da classe trabalhadora, ou seja, empregar mais mulheres com salários menores e por essa via ameaçar e mostrar ao conjunto dos homens de que existe uma “segunda linha” da classe trabalhadora que aceita trabalhos mais precarizados e salários mais baixos por sua condição de opressão, então isso contribuiria pra avançar num rebaixamento salarial do conjunto da classe explorando ainda mais as mulheres trabalhadoras.
O capitalismo faz isso enquanto impulsiona o que a gente pode definir como a feminização do mundo do trabalho, como apontou a professora Claudia Mazzei Nogueira, que escreveu um livro sobre a feminização do mundo do trabalho mostrando a relação disso com a precarização nos trabalhos de telemarketing, também, não somente nos trabalhos de limpeza, assim como entre as professoras onde há uma grande maioria de mulheres. Essa feminização é feita sem tirar das mulheres o suposto papel histórico com as tarefas domésticas.
Ou seja, a feminização do mercado de trabalho impõe a criação da dupla jornada de trabalho, que é a mulher trabalhar o dia inteiro (e certamente de forma mais precária), com salários menores do que o dos homens e depois chegar em casa e ter uma continuidade, uma nova jornada de trabalho só que sem limites. Ela não bate cartão, a mulher pode ficar “eternamente” em casa fazendo serviço doméstico sem ter o fim dessa jornada de trabalho, que do ponto de vista da produção foi conquistada com muita luta das trabalhadoras e dos trabalhadores. Esse é um ponto muito importante da relação entre opressão e exploração.
A utilização da opressão pelo capitalismo é muito lucrativa desse ponto de vista porque leva a incutir essa ideia de que é natural que as mulheres tenham de cuidar da comida, da lavagem da roupa, do cuidado das crianças e também do cuidado dos idosos e das pessoas que têm alguma doença na família. Sempre termina recaindo como uma situação para as mulheres responderem, e isso leva a uma questão concreta porque, para a classe dominante poder garantir a exploração da força de trabalho, ela precisa que essa força de trabalho tenha condições de trabalhar. Pra isso as pessoas têm que se alimentar, têm que ter um uniforme minimamente limpo pra conseguir estar no trabalho etc, e utilizando da opressão os patrões não precisam pagar um salário um pouco maior pra garantir que a pessoa possa comer num restaurante, lavar as roupas numa lavanderia. Eles não pagam simplesmente nada porque a mulher vai fazer e vai fazer de graça em casa, vai fazer a comida dela, do marido, dos filhos que vão ser a nova geração proletária pra continuar produzindo e continuar sendo explorados, e não vai receber absolutamente nada por esses serviços socialmente necessários pra reprodução da força de trabalho. Esse é um dos elementos bastante nevrálgicos sobre a relação entre opressão e exploração. Isso faz com que os capitalistas e as empresas não tenham de aumentar os salários e exime o Estado de garantir socialmente de forma pública esses serviços, que seriam lavanderias, restaurantes, creches, ou seja, todo o serviço que deveria ser público porque é socialmente necessário e não deveria estar a cargo das mulheres.
O capitalismo desenvolveu máquinas de lavar e secar e uma série de coisas para facilitar o trabalho doméstico, mas continua mantendo esse trabalho no âmbito privado e não no âmbito social e público. Então, as coisas que vão acontecendo no capitalismo carregam esse paradoxo de manter a opressão de gênero. Isso expressa bastante uma das frases que o Trotsky colocava: “o capitalismo foi incapaz de desenvolver uma só de suas tendências até o final”. Ou seja, sempre em um ciclo de avanços que mantém e perpetuam exploração.
Enquanto o capitalismo recria permanentemente a sua própria sepultura, também vai criando as condições para esses elementos que são reivindicações concretas dos movimentos sociais e vai criando condições para as mulheres poderem alcançar uma igualdade de gênero nunca antes alcançada. Entretanto, essa possibilidade de avançar numa igualdade de gênero é proibida para milhões de mulheres exploradas no mundo inteiro, porque é inalcançável para essas mulheres.
Dessa controvérsia dos diálogos entre feminismo e marxismo desde a década de 1970 vem uma conclusão, em primeiro lugar, de que, para acabar com tanta injustiça e tanta desigualdade, é necessária uma revolução social. Não é possível existir igualdade em um sistema que pela raiz é baseado na desigualdade, na dominação de um sobre o outro, de uma classe sobre outra. Isso é uma conclusão. Mas fica uma pergunta que é um dos debates fundamentais do feminismo e marxismo que é se essa revolução social é capaz de emancipar as mulheres. Ou seja, se destruindo o sistema capitalista com uma revolução que coloque uma outra sociedade é possível libertar as mulheres. Essa é a pergunta das perguntas entre marxismo e feminismo.
Nessa pergunta eu queria saltar um pouco a reflexão para ir pra um outro caminho teórico e depois voltar nessa pergunta que eu acho que é uma das mais importantes, para já introduzir um pouco da reflexão mais atual para os debates de gênero e toda a encruzilhada em que está o movimento feminista atualmente frente ao fenômeno que vem acontecendo. Eu tinha citado anteriormente uma feminista norte americana, Nancy Fraser, e o comentário que ela tinha feito sobre a Hillary Clinton e essa feminista apresentou uma tese que é muito interessante pra se pensar. Ela falou o seguinte: “a capacidade relativa do movimento feminista para transformar a cultura contrasta de maneira aguda com a sua incapacidade para transformar as instituições”.
Ela está dizendo que o movimento feminista pode conseguir direitos, conseguir, talvez, uma autoconscientização em alguns setores, e conseguiu isso de um ponto de vista, inclusive com muitas contribuições. Mas se mostrou incapaz de transformar a sociedade pela raiz. Isso, mais do que uma tese, é um balanço de como pensar o movimento feminista historicamente e de qual estratégia seguir. A partir desse balanço ela lança uma nova hipótese: “as mudanças culturais impulsionadas pela segunda onda do feminismo saudáveis em si mesmas serviram para legitimar uma transformação estrutural da sociedade capitalista que avança diretamente contra as visões feministas de uma sociedade justa”. As transformações que aconteceram no sistema capitalista, que se apropriou de demandas do movimento feminista, na verdade não foram a favor de transformar radicalmente a sociedade para libertar o conjunto dos oprimidos e explorados, foram no sentido de perpetuar as formas de dominação que hoje existem. Em última instância, o que ela está dizendo coloca uma dúvida sobre se o feminismo e o neoliberalismo não se tornaram afinados um ao outro, questionando a cooptação do feminismo e sua subordinação em relação à agenda do Banco Mundial e do neoliberalismo historicamente.
Para tratar disso, a gente precisa se remeter a todo o processo de contraofensiva imperialista, do neoliberalismo como resposta ao que foi o extenso processo de radicalização que deu lugar a processos de massas, revoltas, processos revolucionários, onde também se originou a segunda onda do movimento feminista. Essa contraofensiva significa uma grande derrota das massas, principalmente com uma enorme fragmentação da classe operária, entre homens e mulheres, negros e brancos etc, e uma derrota moral do ponto de vista de que a ideia da revolução saía do horizonte. O modelo do livre mercado e o pensamento único foram centrais nesse período de restauração, que buscava canalizar o ascenso anterior, as revoltas anteriores das massas através do crescimento dos regimes democráticos capitalistas, que em seguida vão se mostrar como verdadeiras democracias degradadas. Ou seja, canalizar todos os questionamentos que existiam e as revoltas populares e da classe operária para renovar a democracia frente ao que tinha sido o chamado socialismo real no leste europeu e na URSS como uma saída “democrática” que o capitalismo apresentava pra conseguir responder a esses anseios.
Nesse momento, o “fim da História”, “fim da classe operária”, exaltação do indivíduo, sua realização no consumo pelo consumismo foram bases muito importantes para esse novo pacto social. Enquanto alguns setores da classe trabalhadora e das massas conseguiam ter alguns direitos a mais desse processo, a grande maioria da população pobre era lançada à miséria, ao desemprego, à marginalidade, a serem obrigadas a morar nas favelas etc. E é o momento onde a cultura de massas é bastante permeada pelo individualismo, e pra fazer tudo isso foi necessário incorporar, sempre rebaixando, na agenda política desses governos e desses Estados muitas das demandas dos movimentos sociais, incluindo o movimento feminista.
Um pouco da conclusão dessa ideia é que a radicalidade do movimento feminista da segunda onda terminou sendo engolida pelo sistema. O movimento feminista que surgiu trazendo uma série de elementos que foram grandes aportes para a luta das mulheres e que tinha uma radicalidade enorme foram da insubordinação à institucionalização, ou seja, várias demandas passaram a ser parte da agenda neoliberal. E o sistema capitalista precisava fazer isso porque precisava esvaziar de conteúdo subversivo e revolucionário a pauta das mulheres, dar algumas concessões mantendo a sociedade de classe, como se alguns direitos a mais pudessem garantir uma mudança efetiva na vida da grande maioria das mulheres que mundialmente compõem 70% da população miserável.
A pergunta lançada por Andrea D’Atri que também fica desse debate é como a conquista e ampliação dos nossos direitos ainda dentro do sistema capitalista pode não se transformar em integração ao sistema e ao Estado capitalistas? E como podem ser ponto de apoio para luta revolucionária contra esse sistema de exploração para verdadeiramente conseguir emancipar o conjunto das massas femininas e o conjunto da classe trabalhadora, o conjunto da humanidade?
Esse elemento é importante porque essa cooptação e essa incorporação na agenda dos governos e do capitalismo é muito visível. Vai se expressar em muitos debates que colocam a necessidade de ter mais chefes mulheres nas empresas com todo o debate do “teto de cristal”. Como as mulheres nas empresas conseguem romper com o teto de cristal pra poder estar em uma localização tão igual quanto um homem empresário pôde estar.
Do ponto de vista substancial da igualdade em última instância, obviamente defendemos a igualdade em todos os âmbitos, que as mulheres possam ter as mesmas condições do conjunto dos homens, mas essa reivindicação está bastante por fora de uma definição de classe, porque as mulheres empresárias querem igualdade pra poder explorar nas empresas. Não é um conteúdo imune do conceito de classe. O que essas mulheres estão fazendo como empresárias? Elas estão explorando outras mulheres, inclusive.
No âmbito político também tem esse debate. No Brasil, ainda que a gente tenha tido uma presidente mulher, é bastante escandaloso o quanto não têm mulheres na política, é um reflexo da opressão na sociedade que a gente vive. Agora, a reivindicação de mais mulheres na política também não é possível de se dar por fora do conteúdo de classe. Existem nos principais países imperialistas do mundo inteiro exemplos de mulheres que são chefes de Estado desses países, e ser chefe de Estado desse país não etá por fora desse conteúdo.
Têm exemplos que deixam bastante gráfico o elemento da relação entre exploração e opressão. Por exemplo, Angela Merkel na Alemanha me faz lembrar de uma cena emblemática. Angela Merkel, uma mulher chefiando a Alemanha, e uma menina palestina. A Angela Merkel diz para a menina palestina que ela não pode ficar na Alemanha, que ela vai ter que ir embora. Que feminismo responderia aos anseios da menina palestina ao mesmo tempo dos anseios da Angela Merkel? É conciliável o que a Angela Merkel faz exterminando o conjunto dos imigrantes e o que a menina palestina queria que era somente poder viver? É inconciliável. É o paradoxo central de que não é possível considerar um movimento feminista policlassista porque quando chegam os problemas de classe os interesses se confrontam, porque são inconciliáveis.
A eleição nos EUA mostra um paradoxo muito grande, porque Hillary pediu que votem nela por ser mulher. Trump ganhou. Mas o movimento feminista teria coragem de comemorar a vitória da Hillary quando caísse a primeira bomba na Síria e morressem milhares de meninas, mulheres e homens que sofrem com a guerra que o seu país imperialista leva adiante? Não existe um feminismo que responda à vida dessas meninas que sofrem tanto e a vida dessas mulheres que estão no poder, que estão na política pra representar os interesses de uma classe que quer explorar e melhorar a forma como utiliza a opressão de gênero, de raça, pela orientação sexual para conseguir melhor explorar. E por isso coloca mulheres para governar os seus países. Por isso as empresas capitalistas utilizam das bandeiras que a gente levanta no 8 de março e nas nossas manifestações pra parecer que são empresas feministas.
Você liga a televisão e vê uma propaganda da Avon falando “meu corpo, minhas regras”, e você pensa que talvez tenha acordo com a Avon, que tem a mesma opinião. A Avon expressa de forma distorcida a força da luta das mulheres ao fazer isso. Por precisa fazer isso frente a pressão por novos valores, mas o faz de forma a cooptar as demandas corretas da luta das mulheres, contra a violência, pela igualdade, contra o machismo invisível cotidiano que todas as mulheres vivem, e transformar isso em produto pra lucrar mais. Ou seja, trata o feminismo como nicho de mercado. Enquanto isso, as operárias na fábrica da Avon estão sendo exploradas, sem nenhum direito e são parte da classe trabalhadora que vai ser atacada com todo o plano de ajustes que o governo golpista já está levando adiante. Existe esse paradoxo.
Do ponto de vista das mulheres no poder, na América Latina a gente também teve casos, diferente do caso do imperialismo, de mulheres, que representavam os governos pós-neoliberais. No caso na Argentina com Cristina Kirchner, aqui no Brasil com Dilma Rousseff, com governos mais populistas, que colocavam o tema da inclusão social mas que tampouco significavam uma ruptura com o capitalismo. No caso do Brasil, o PT sofreu um golpe institucional contra o qual lutamos fortemente, contra essa direita reacionária, mas sem deixar de colocar o papel concreto que o PT cumpriu nesse processo todo, assumindo os métodos de corrupção, assumindo os planos de ajustes e abrindo espaço para esta direita.
E mesmo do ponto de vista da questão de gênero, não dá para dizer que é uma vitória em si mesmo das mulheres ter uma presidente mulher. Como se explica que com duas presidentes mulheres, que inclusive fizeram um apelo do ponto de vista da questão de gênero para serem eleitas, as mulheres continuem morrendo por abortos clandestinos no Brasil e na Argentina? O aborto não foi legalizado. E não tem nenhuma explicação que não seja governar com uma série de alianças para manter uma governabilidade dentro de uma sociedade que é capitalista, com algumas inclusões a mais, mas para manter o status quo geral dessa sociedade.
Com todo o fenômeno que veio ocorrendo no último período, surgiram também novos conceitos que foram perpassando um pouco os movimentos feministas, mas que eu acho interessante de problematizar também porque muitas vezes são diretamente conceitos que perdem a perspectiva de classe pra tratar da questão de gênero, ou então são interpretados de forma que não apresentam a visão de classe.
Por exemplo, a interseccionalidade é um conceito muito interessante porque ele confronta a ideia de um feminismo branco. Confronta em primeiro lugar um feminismo liberal, burguês, que não dá conta da grande massa oprimida e explorada de mulheres. Então, ele apresenta justamente a necessidade de inter-relacionar a questão, não somente de gênero e de classe, mas também a questão de raça, de orientação sexual, de etnia, de nacionalidade. Nesse caso, me parece muito interessante pensar esse elemento, porque do contrário não se responde o problema das mulheres no Brasil, onde tem uma grande massa feminina negra. Mas o perigo desse conceito é o perigo de diluir a definição de classe transformando tudo em uma somatória de opressões. A visão do marxismo revolucionário coloca que a raiz da sociedade é a divisão entre as classes. Isso tem a ver com a centralidade da classe operária, do ponto de vista da transformação social, pelo papel que cumpre na produção. Não é por um acaso, é pelo papel que cumpre na produção, por ser capaz de tomar a produção e ter, por isso, um conteúdo revolucionário de transformação radical. Agora, isso é impossível se a classe trabalhadora não levanta na primeira fileira as demandas dos setores oprimidos e explorados, inclusive levando em conta que as mulheres trabalhadoras estão cada vez mais parte da classe trabalhadora.
Existem outros conceitos também. O conceito de sororidade, por exemplo, é um conceito que coloca a solidariedade entre as mulheres em geral. Ou seja, por ser mulher, eu tenho que me solidarizar com outra mulher. Mas para uma menina palestina, por exemplo, pedir que ela “tenha sororidade com a Angela Merkel, porque ela é mulher”, não parece factível, porque, por mais que a solidariedade entre as mulheres obviamente tenha que existir, sendo totalmente necessária para organizar a luta e enfrentar a opressão, existe um limite de classe, porque senão você atravessa uma fronteira e está lutando por uma estratégia que é outra, na verdade, que não é pela libertação de fato das mulheres.
Por outro lado a ideia de empoderamento, que eu vejo que é muito estimulado por essas propagandas de TV, de a mulher ter o seu corpo empoderado, o que é uma contracara da mídia machista que faz todo um bombardeio da mulher como um corpo pra ser consumido, da mulher como um objeto sexual, de um padrão inalcançável de beleza. Essas propagandas têm um elemento progressista porque expressam a nossa luta, porque a luta obriga que tenham que falar disso e que tenham que falar dialogando. Mas os capitalistas não são nada ingênuos e transformam isso um nicho de mercado.
Esse elemento é contraditório porque também contrasta com a mídia machista. Esta ideia do empoderamento, que corrobora com a tese de Nancy Fraser quando fala da mudança cultural, individual, de que a mulher pode ter autoconfiança, de que a mulher pode se afirmar etc, que são todas questões que apontam num sentido progressista, mas que, se transformadas em estratégia, são simplesmente inofensivas ao capital. Porque cada um pode ter a sua própria revolução e as empresas vão continuar explorando, os operários vão continuar sendo explorados, os planos de ajustes dos governos vão continuar vindo, enfim. Então, esses conceitos são importantes de se trabalhar porque são temas bem atuais nos debates do movimento feminista.
Quero voltar àquela pergunta sobre a revolução, se ela garantiria a libertação das mulheres. A primeira coisa que é preciso pensar é que se existe uma sociedade que é baseada na exploração, não tem forma de libertar nenhum ser humano, independente da opressão que ele sofra, se não for terminando com essa desigualdade pela raiz. E para terminar com essa desigualdade pela raiz, é necessário ter uma revolução operária e socialista, porque é a classe trabalhadora que pode expropriar os meios de produção e ser a classe revolucionária da nossa época. Só que a classe operária precisa levar adiante a demanda do conjunto dos setores oprimidos, mostrar que ela pode levar adiante, como dirigente de uma revolução e ao lado destes setores, a luta em defesa das mulheres, a luta em defesa dos negros, a luta em defesa dos LGBTs.
Isso significa uma luta, inclusive, dentro do movimento operário. Porque no movimento operário, no sindicato em todos os lugares tem machismo. Ou seja, é uma batalha, mas é uma batalha sabendo quem são os nossos inimigos, e os nossos inimigos não são os homens. Os nossos inimigos são os capitalistas e os governos que sustentam essa sociedade. Agora, é necessário enfrentar a violência e a opressão que estão dentro da classe trabalhadora porque a classe dominante se utiliza da opressão, não somente pra explorar, mas pra incentivar essa divisão dentro da classe trabalhadora. Cada mulher que é agredida, que é violentada, faz a classe dominante dar um passo adiante porque enfraquece a classe trabalhadora como sujeito revolucionário.
É importante ver desde essa perspectiva porque a classe trabalhadora, para se colocar verdadeiramente como sujeito revolucionário, tem que se colocar pela hegemonia do conjunto dos setores oprimidos, levantar as suas bandeiras, colocando que as mulheres trabalhadoras sejam linha de frente da luta contra a exploração e a opressão. Por isso que as experiências históricas que a gente teve, em especial a experiência da Revolução Russa, que é uma das mais emblemáticas inclusive do ponto de vista da questão da mulher, mostram que a revolução é uma condição necessária pra abrir espaço pra libertação das mulheres e dos setores oprimidos. Sem isso é diretamente uma utopia. Considerar, como algumas feministas consideram, que é possível se emancipar dentro do capitalismo é uma utopia.
A revolução, como foi o caso da Revolução Russa, mostrou uma experiência onde a necessidade de colocar outras bases materiais e econômicas era fundamental para permitir a libertação das mulheres, já que nesse sistema capitalista atravessado pelas questões capitalistas em cada relação social, inclusive nas relações pessoais, é impossível ter uma libertação real. Agora, uma sociedade socialista teria que colocar em primeiro lugar as condições materiais e as condições econômicas para libertar as mulheres da dependência financeira, inclusive, que têm em relação aos homens.
Um dos grandes debates que ocorreram na Revolução Russa era a impossibilidade de alcançar a libertação e igualdade das mulheres sem ter uma planificação da economia. Porque as mulheres vinham com salários mais baixos, tinham menos acúmulo cultural pra conseguir empregos melhores por causa da opressão anterior, ainda mais no caso da Rússia, dependiam muito dos maridos por causa da situação de opressão, da configuração da família como era organizada, dependiam das pensões quando se separavam, ou seja, uma série de relações imbricadas pela questão econômica que sempre transformavam as mulheres em um objeto de opressão e que não permitiam que as mulheres tivessem uma condição de fato igual.
Lenin dizia que era necessário conquistar a igualdade das mulheres perante a lei, e para isso, a planificação da economia era totalmente necessária, mas insuficiente. Ou seja, a revolução operária socialista é a condição necessária e a única possibilidade das mulheres conquistarem isso. Mas a revolução russa mostrou, e a estratégia bolchevique revolucionária (antes da burocratização stalinista) mostrava que era necessário ter um processo profundo após a tomada do poder. Este processo Trotsky chamou de “revolução dentro da revolução” para conseguir, de fato, alcançar o fim da opressão. Porque a opressão não passa somente pelos elementos econômicos, passa pelos elementos culturais. Não se faz uma revolução e de repente a classe operária não é mais machista. Porque há os resquícios do pensamento capitalista, que o Trotsky chamava de “pensamento feudal”, obscurantista, que conduziam a mulher a ser uma presidiária, praticamente, dentro de casa. Ele definia a família quase como uma pequena empresa, não questionando os valores emocionais da família, mas pela questão da dupla jornada, pela qual a mulher era obrigada a ficar no trabalho doméstico que atrofiava o cérebro, porque ficava o dia inteiro fazendo algo ultra repetitivo sem receber nada, sem poder se organizar politicamente, sem ser considerada parte da classe trabalhadora.
Esse elemento é muito importante: a revolução proletária e socialista é uma condição necessária para libertar as mulheres, é a única possibilidade que nós temos, mas não termina com a tomada do poder, porque a classe operária precisa fazer uma revolução que é internacional, diferente do que conduziu a burocratização na União Soviética, que levou a manter um “socialismo em um só país”. Ao contrário disso, a verdadeira estratégia revolucionária defende uma revolução que seja a nível internacional e que leve até o final a possibilidade de uma sociedade onde possamos terminar com toda forma de opressão e exploração.
É mais do que atual esse debate, porque as mulheres continuam morrendo no nosso país assassinadas, continuam morrendo por abortos clandestinos, continuam sendo a grande massa feminina precária negra do nosso país. Ao mesmo tempo que vemos a revolução como a condição necessária para a emancipação das mulheres, nós não temos que esperá-la para lutar por cada direito nessa sociedade. E daí eu termino com uma frase de uma socialista inglesa que dizia que “quem é socialista e não é feminista, carece de amplitude. E quem é feminista e não é socialista, carece de estratégia”.”
Veja publicação original: Conferência Feminismo e Marxismo, com Diana Assunção, na Paraíba