Saiu na Revista CLAUDIA:
Recém-formada em desenho industrial em Florença, na Itália, Bianca Bencivenni, 53 anos, conheceu o escocês Paul Clark. Casados, viajaram para o Brasil antes de ela fazer 30 anos. Visitaram cidades grandes, praias do Nordeste e se encantaram com a Amazônia. Em troca de casa e comida, Bencivenni dava aulas de arte e inglês em comunidades ribeirinhas do Rio Negro. Perto da divisa do Amazonas com Roraima, no Rio Jauaperi, o casal fincou raízes.
Criaram a Vivamazônia, escola que atende gratuitamente estudantes do povoado de Itaquera, a meia hora de barco. Quase sem apoio do governo, o casal toca projetos com contribuições de amigos europeus e da Expedição Katerre, empresa de ecoturismo. Hoje, Bencivenni leciona também história e geografia para alunos de 6 a 16 anos.
Os maiores desafios que enfrenta, porém, são ambientais e sociais. “Falamos sobre a preservação da natureza ameaçada”, conta. “As crianças assimilam, mas, quando voltam para casa, encontram resistência. São elas que têm de educar os pais.” Por exemplo, mostrando a eles que não devem caçar, comer ou vender ovos de quelônios – espécies de tartaruga. A italiana coordena coletas nas praias que, em 2016, resgataram 600 ovos.
Ela conversa muito com os pupilos sobre assédio sexual e estupros, problemas recorrentes ali. “Ensino como se proteger e agir”, afirma. Por isso, o casal é malvisto. “O machismo é grande. Os homens precisam fazer um exame de consciência.”
Ela e Paul têm Yara, 20 anos, e Ian, 11 – dois filhos loirinhos entre os caboclos –, que amam a Amazônia. “Fico feliz por dar essa oportunidade a eles e a meus alunos, a quem explico a vida, o mundo e a floresta. Mostro que todos dependemos dela.”
Veja publicação original: Esta italiana trabalha no Brasil para exterminar o abuso infantil