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Veja publicação original: 33ª Bienal de São Paulo: Conheça 5 artistas mulheres que são destaque nessa edição
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Por Adriana Ferreira Silva
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Cinco artistas brasileiras de diferentes gerações que participam da Bienal Internacional de Arte posam nos ateliês onde, escondidas a sete chaves, estão as obras que elas exibem na 33ª edição do evento, que inaugura hoje, em São Paulo
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Em 1809, Goethe usou o princípio da química que afirma serem certos elementos atraídos a outros para criar a trama de As Afinidades Eletivas, romance no qual narra a história do casal de aristocratas Eduard e Charlotte diante da tentação de se envolver em relacionamentos proibidos.
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A premissa, que há séculos inspira estudos sobre o amor e o destino, aparece agora transfigurada em arte pelas mãos do espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, que tornou o título do clássico alemão o mote de sua curadoria para a 33ª edição da Bienal de São Paulo – em cartaz a partir de 7 de setembro, no parque Ibirapuera. “O título Afinidades Afetivas reúne essa poderosa ideia de Goethe, que traça um paralelo entre as ligações pessoais e as dos elementos químicos”, explica ele.
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“Aliado a isso está ainda a tese Da Natureza Afetiva da Forma na Obra de Arte (1949), do escritor Mário Pedrosa, que foca em como somos afetados pela arte”, afirma o curador. Na prática, ao unir esses dois conceitos, a intenção de Gabriel é observar como a exposição é vista e compreendida por cada visitante de maneira diferente.
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Para compor o programa do mais importante evento de arte contemporânea da América Latina, neste ano com cerca de 95 artistas, Gabriel reuniu uma equipe de sete artistas-curadores que, além de mostrarem seus próprios trabalhos, convidaram outros pintores, performers, escultores, para exporem na mostra.
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“Quis explorar uma alternativa ao modelo da maioria das bienais”, justifica o espanhol. “Também tive a preocupação de buscar uma participação igualitária entre mulheres e homens.” Dos sete artistas-curadores convidados por Gabriel, quatro são mulheres (a exemplo de Sofia Borges). “Dos projetos selecionados por mim, mantém-se a proporção: seis mulheres e seis homens”, completa Gabriel.
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Entre as artistas, Denise Milan, Luiza Crosman e Vânia Mignone dão uma amostra dos caminhos apontados pela arte contemporânea feita por mulheres. Conhecida por suas esculturas de grandes dimensões exibidas em áreas públicas, Denise terá a sua disposição um espaço enorme no térreo da fundação para construir uma instalação com a matéria-prima que mais a fascina, as pedras, em especial a ametista. Vânia, por sua vez, acredita que o tema da Bienal já faz parte de seu trabalho. “Minhas obras já têm uma aproximação afetiva com o público”, diz ela, cujas pinturas com personagens populares costumam chamar a atenção por seu colorido e por frases que acrescentam informações, instigando o observador, como na que se lê “horizonte”: ao invés de representá-lo, ela deixa que o espectador o imagine pela sugestão da palavra.
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Mais jovem entre as convidadas, Luiza é também a que, neste momento, mais se dedica a um trabalho teórico, pensando o papel das instituições e dos artistas dentro delas. Essa “estratégia” será exibida de forma grandiosa: sob o título Trama, a carioca mostrará desenhos de sua autoria, textos, uma peça sonora em parceria com o músico Negalê Jones, que estará no audioguia do encontro, além de propor à instituição possibilidades de atuação para além da mostra.
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Já entre as curadoras-artistas, as simpatias aparecem, por exemplo, na relação entre Sofia Borges e Leda Catunda. “Temos uma afinidade afetiva e nos identificamos uma com o processo artístico da outra”, diz Leda, que convidou Sofia para participar de uma mostra que fez em 2017 e, agora, se vê do lado oposto. “Como artista, sou muito intuitiva e, como curadora, não foi diferente”, diz Sofia. Além de uma retrospectiva de seus trabalhos, Leda apresentará uma nova série de obras de 3m x 5m batizadaEldorado. “São peças inspiradas numa lenda sobre um líder asteca ou inca que, coberto de pó de ouro, entra num lago e espalha essa riqueza”, conta. “Essa história guarda tanto a ideia do sagrado, pela cor dourada, quanto de utopia e abundância para todos. Ela vai de encontro a esse momento econômico e político difícil que estamos vivendo, em que as pessoas se pegam desejando algo melhor.”
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Luiza Crosman, 31 anos, Rio de Janeiro
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Uma das artistas com projetos comissionados pela Bienal, a carioca cresceu em meio às artes, sob influência do pai, o arquiteto Ivan Rezende, e da mãe, Victoria, historiadora, com quem visitava exposições. Dessa época, lembra da impressão causada pelo mineiro Willys de Castro: “Achei intrigante a relação das obras com o título, Objetos Ativos”, diz ela, que, no entanto, formou-se primeiro em design gráfico, antes de optar pelo mestrado em artes. Atualmente na Suíça, onde desenvolve um projeto educacional, se divide entre a teoria e os desenhos, em que usa frases e formas para construir um pensamento.
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Denise Milan, 64 anos, São Paulo
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Da curiosidade de entender como se formam os cristais, elemento usado numa instalação feita para o museu nova-iorquino PS1, em 1988, a escultora transformou essa matéria-prima no centro de sua criação artística. “Há 32 anos, contemplo e aprendo com as pedras”, diz ela, que trabalha cercada por ametistas, rochas, entre dezenas de outras formações geológicas. Multiartista, Denise terminou a faculdade de economia e foi estudar dança na Espanha, antes de mudar-se para Nova York, na década de 80, onde fez teatro e se inseriu no efervescente cenário de performances. De volta ao Brasil, é referência em arte pública, com peças de grandes dimensões em endereços como o Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
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Sofia Borges, 34 anos, Ribeirão Preto (SP)
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Depois de estrear na Bienal em 2012, a fotógrafa retorna, desta vez como uma das artistas-curadoras. Formada em artes plásticas pela USP em 2009, acumula prêmios graças a trabalhos nos quais fotos ganham caráter pictórico, sob influência da filosofia, mitologia, religião, ciência. “Mudei para São Paulo e tinha dúvida entre estudar moda ou jornalismo”, lembra. “Então, fui a uma exposição de arte contemporânea, olhei as obras, achei tudo feio, estranho. Não entendi nada, daí pensei: ‘Se tem uma profissão em que as pessoas fazem isso, então é isso o que quero fazer’. No dia seguinte, abandonei a moda e comecei a frequentar aulas de artes plásticas. E não parei mais.”
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Vânia Mignone, 50 anos, Campinas (SP)
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Manter-se em Campinas, afastada do burburinho que permeia o cenário da arte contemporânea paulistana, é essencial para a pintora, que preza por esse quase isolamento para criar. “Gosto muito do desenho, da cor e das palavras, que podem aparecer tanto substituindo um objeto como ser o pensamento de alguém, por exemplo”, diz ela, que, a partir desses elementos, compõe imagens que parecem saltar da parede. Parte dessas referências vem de sua experiência como publicitária, profissão que exerceu antes de estudar artes plásticas na Unicamp, passando da xilogravura para as pinturas em madeira, em destaque nesta Bienal.
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Leda Catunda, 57 anos, São Paulo
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Uma das artistas que despontou ao lado de Beatriz Milhazes, Leonilson e Luiz Zerbini na mítica exposição Como Vai Você, Geração 80?, que ocupou o Parque Lage, no Rio, em 1984, a pintora e gravadora realiza uma espécie de retrospectiva de seu trabalho nesta que será sua terceira participação numa Bienal de SP – a primeira foi em 1983. “Vivo muito a vida e gosto de observar como as pessoas estão vivendo a delas”, diz Leda, sobre as referências que tornam seus trabalhos uma amostra da moda e da cultura pop. Aspirante a roqueira, ela descobriu que “levava jeito” para as artes na adolescência, e formou-se em artes plásticas na Faap, onde teve aulas com mestres como Julio Plaza, Regina Silveira e Nelson Leirner.
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Beleza: Agnes Mamede, Caroline da Mata (CAPA MGT), Jake Falcchi (THINKERS MGT) e Vale Saig | Produção-Executiva: Vandeca Zimmermann
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